Território historicamente dominado pela esquerda, a extrema-direita obteve resultados eleitorais expressivos na periferia brasileira em 2024. Segundo o cientista, o campo conservador atua com política grande e com política pequena nas regiões pobres
A entrada da direita e extrema-direita em territórios populares de periferia, em que a esquerda era predominante, deve seguir produzindo reflexos nas próximas eleições, assim como ocorreu no pleito de 2024. Quem faz a constatação e a análise é o professor e cientista social Hugo Fanton, pesquisador do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania da USP. “Hoje as famílias pobres lidam com o alto endividamento e outros mecanismos de expropriação financeira, como as apostas, a precarização do trabalho e o aumento do custo de vida”.
Não por acaso, a mudança decorre de uma teia conflagrada nos territórios populares pela extrema-direita. Entre os fatores dessa relação, o cientista aponta a atuação de base comunitária vinculadas a grupos de direita e extrema-direita, a influência sem precedentes do poder monetário das candidaturas na disputa pelo voto, a presença da máquina pública e do crime organizado, bem como a omissão da Justiça Eleitoral em coibir crimes. Há também uma combinação ideológica de individualismo exacerbado, competitividade e empreendedorismo, além da atuação das igrejas e das redes sociais.
A desindustrialização e o avanço das mais variadas formas de expropriação financeira, como o endividamento das famílias, que caracterizam o capitalismo financeirizado, foram transformados em plano político. “Isso tem como desdobramento os sentimentos de raiva e frustração entre variadas camadas sociais, e que são capturados por movimentos de direita e extrema-direita, inclusive (e talvez sobretudo), os de viés fascista”, explica Fanton na entrevista concedida ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU por e-mail.
Para ele, a mobilização que a extrema-direita faz é de um fundo regressivo presente na sociedade, uma ideologia centrada na unidade familiar e em valores tradicionais e conservadores. “Isso está combinado com os fenômenos propriamente neoliberais do empreendedorismo e da concorrência, que dão aparência moderna à nossa velha superexploração do trabalho”, constata. O entrevistado avalia que “a chave para lidar com esse paradoxo é pensar a política como relação de força, uma conjunção entre grande e pequena política”.
Hugo Fanton
Hugo Fanton é professor da University College Freiburg (UCF), na Alemanha. É doutor em Ciência Política pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH/Unicamp), mestre em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP) e graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA/USP). É pós-doutorando no Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH-USP), pesquisador do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania (Cenedic-USP).
IHU – O seu estudo na periferia de São Paulo em 2024 mostra as dinâmicas territoriais para o voto conservador. Qual foi a motivação para esse movimento?
Hugo Fanton – Faço pesquisa na periferia de São Paulo, e especificamente em Heliópolis, desde 2009, sempre com uma perspectiva de buscar compreender a cena política na dinâmica urbana. Além de pesquisador, ao longo desse período também fui militante de movimentos populares urbanos e associações de base comunitária. Há alguns anos, estou vinculado à Central de Movimentos Populares (CMP). Então as motivações sempre foram ao mesmo tempo de militância e acadêmicas: pesquisar para conhecer melhor o lugar em que atuo, a periferia, a cidade como um todo, o país, e por assim vai.
Apesar de achar que minha politização é diretamente vinculada à militância, como cientista político consigo fazer dois movimentos que considero importantes para compreender a cena política: proceder um certo distanciamento do cotidiano estudado para perceber o que não é evidente sem o devido tratamento dos dados empíricos, e realizar uma abstração teórica que, muitas vezes, na militância não faz sentido, dado o pragmatismo e imediatismo que a realidade nos cobra.
Nos últimos anos, como pesquisador associado do Cenedic-USP, passei a me interessar mais especificamente sobre como se manifestam os conflitos de classe na política urbana, o comportamento político do empresariado, e a base de classe do bolsonarismo. Isso me levou a olhar para o comportamento eleitoral no último pleito, motivado, novamente, por tentar compreender a cena política brasileira a partir dessas dinâmicas específicas que estudo. E já dispondo de material empírico, referências e relação de confiança com lideranças que todos esses anos de pesquisador e militante me deram.
IHU – A entrada da direita e extrema-direita em territórios populares em que a esquerda era predominante é um fenômeno novo e recente?
Hugo Fanton – Eu não diria novo, pois são territórios em disputa desde que se faz pesquisa sobre o tema. Mas estou muito impressionado com o que aconteceu em Heliópolis nos últimos anos, e foi isso que busquei expor no artigo a que você se refere. Comecei a frequentar Heliópolis em 2009, e na época era um território com ampla predominância eleitoral do PT, sobretudo nas disputas por cargos majoritários.
E isso não era à toa: o nível de organização da população local é incomparável com qualquer outro lugar que eu já tenha conhecido, com os trabalhos da UNAS e da Associação Nova Heliópolis. Talvez existam outros mais organizados em outras cidades, mas não conheço. Trata-se de uma organização que vem da luta pela terra desde os anos 1970 e que se desdobrou em lutas por políticas públicas no processo de democratização do país.
Essa constatação me motivou a fazer pesquisa de mestrado e doutorado lá, para entender o processo de organização, de construção de força social e política no território. Também a relação disso com as dinâmicas políticas mais gerais em que Heliópolis está inserida, da cidade e do país. E basicamente a mensagem que quis passar era que o movimento popular importa, essa organização de base local faz muita diferença, não só na vida das pessoas de lá, mas na cena política.
Acho que esse avanço da direita e da extrema-direita por meio do associativismo local, pela disputa propriamente territorial que estamos observando há alguns anos, reforça justamente isso. Como falei no artigo, na disputa por voto em territórios populares, para além da dinâmica geral que envolve posição na estrutura e comportamento eleitoral, é significativa a influência da atuação de entidades de base comunitária. Essa foi uma das formas de que a direita e a extrema-direita se valeram para se fortalecerem eleitoralmente entre as classes populares nos últimos dez anos.
IHU – Quais as razões para essa mudança de voto nos territórios populares?
Hugo Fanton – Primeiro, é de fundamental importância a dinâmica mais geral, estrutural, com a qual estamos lidando nas pesquisas do Cenedic-USP. Publicamos dois livros que buscam analisar o Brasil na conjuntura global, intitulados “O Brasil no Inferno Global” (2022) e “O Segundo Círculo” (2024).
Aqui digo de maneira muito sintetizada aquilo que é composto por um quadro que, após a crise de 2008, as condições de inserção do país no capitalismo global mudaram, e mudaram para pior. Isso se deu com aceleração do processo de reprimarização da economia, desindustrialização e avanço das mais variadas formas de expropriação financeira, como o endividamento das famílias, que caracterizam o capitalismo financeirizado, entre outros componentes dessa piora.
No plano político, isso tem como desdobramento os sentimentos de raiva e frustração entre variadas camadas sociais, e que são capturados por movimentos de direita e extrema-direita, inclusive (e talvez sobretudo) os de viés fascista. É nesse contexto mais amplo que se inserem os fenômenos específicos que analiso que, a meu ver, ajudam a compor o quadro explicativo dessa mudança de voto da esquerda para a direita em territórios populares de São Paulo.
A atuação de associações de base comunitária vinculadas a grupos de direita e extrema-direita; o montante e a influência sem precedentes do poder monetário das candidaturas na disputa pelo voto; a atuação mais incisiva do crime organizado no último pleito; a atuação da máquina pública, tanto pela articulação entre pessoas que ocupam órgãos administrativos locais e candidaturas, quanto pela omissão da Justiça Eleitoral em coibir crimes cometidos; o conservadorismo em relação a costumes; a combinação ideológica de individualismo exacerbado, concorrência, competitividade e empreendedorismo; a atuação das igrejas; e a importância das redes sociais.
Nessa última pesquisa, um dos entrevistados falou que os territórios populares são locais conflagrados por uma espécie de teia. A meu ver, esses são os principais componentes dela.
IHU – Como entender a classe popular votar em candidatos de direita ou extrema-direita, sendo que este campo não tem políticas para estes territórios e classes?
Hugo Fanton – Em meu entender, esse campo tem políticas para esses territórios e para essas classes. É por meio dessas políticas que conquistam o voto das classes populares. Em termos gramscianos, eu diria que eles têm tanto grande política quanto pequena política.
A primeira, de disputa por hegemonia, na busca por dar direção à sociedade, tem dimensão ideológica caracterizada, a meu ver, pelo que, em entrevista de 2022, Roberto Schwarz chama de neoatraso. É a mobilização que a extrema-direita faz de um fundo regressivo presente na sociedade, uma ideologia centrada na unidade familiar e em valores tradicionais e conservadores. Isso hoje está combinado com os fenômenos propriamente neoliberais do empreendedorismo e da concorrência, que dão aparência moderna à nossa velha superexploração do trabalho.
Na pequena política, há todo tipo de ação em cada um dos âmbitos que levantei acima, por várias formas associativas, igrejas ou associações comunitárias, ou por assessores parlamentares diretamente: organização de festas, churrasco, pagamento de reforma de casa, fura fila em serviço público, reforma ou construção de campo de futebol, distribuição de comida, e por aí vai. São muitos os exemplos.
Agora, assim como foi no governo Bolsonaro nacionalmente, também no âmbito local esse tipo de política tem alcance limitado, não leva a uma melhora nas condições de vida da população, o que nos remete ao paradoxo que você apresenta na pergunta.
Para mim, a chave para lidar com esse paradoxo é pensar a política como relação de força, e por essa conjunção entre grande política e pequena política que caracterizei brevemente aqui, entendo que a direita e a extrema-direita têm sido efetivas em atrair e manter em seu campo muitos grupos sociais, com diferenças significativas entre cada fração de classe, algo muito importante de se distinguir. E não podemos esquecer que isso está sempre em disputa. Cabe a nós, enquanto esquerda, trabalhar com as contradições existentes e apontar outros caminhos, tanto de direção à sociedade quanto no fazer cotidiano da política.
IHU – Houve um aumento de pessoas latinas, imigrantes e homens negros eleitores de Trump. Há como traçar um paralelo com as pessoas da periferia que votam na extrema-direita, por exemplo?
Hugo Fanton – Apesar de buscar acompanhar a política dos EUA e ter escrito sobre ela recentemente, prefiro não traçar um paralelo. São países com muitas semelhanças, mas também muitas diferenças, dentre as quais a estrutura de classes.
Sei que lá o aumento do custo de vida foi muito decisivo no resultado eleitoral, e pelo que temos visto aqui também está impactando a popularidade do Lula e as pesquisas de intenção de voto. Eu também levantaria como hipóteses, seguindo autores como o Ruy Braga e o André Singer, que a desindustrialização, o declínio do sindicalismo e da solidariedade de classes desde os anos 1980 e os processos intensos de desintegração social e atomização dos indivíduos que caracterizam o neoliberalismo são componentes desses fenômenos políticos.
Para além disso, há todas essas dinâmicas políticas e sociais que analisei ao me debruçar sobre a dinâmica eleitoral daqui, e que, a meu ver, importam na política, em qualquer lugar. Mas, nesse âmbito, não me vejo em condições de fazer comparação.
IHU – Recentemente, Miguel Nicolelis disse que três forças foram decisivas nas últimas eleições americanas: o casamento entre as big techs, big oil e big money, que decidiram que não precisam mais do Estado. Como avalia isso e a história deve se repetir no Brasil nas próximas eleições?
Hugo Fanton – Não sei exatamente o que o Miguel Nicolelis disse, mas esse casamento foi muito importante. Ele aconteceu justamente porque as big techs, as big oil e o big money são altamente dependentes do Estado. Estão organizados para disputá-lo cotidianamente.
Existe o lugar comum de que o neoliberalismo apregoa o Estado mínimo, o que é parcialmente verdade: é mínimo para o trabalhador, o que se traduz em redução da proteção ao trabalho e das políticas de universalização de direitos. Mas é máximo para o capital financeiro, que luta permanentemente para redirecionar os recursos estatais para remuneração rentista.
Veja todo esse debate sobre política fiscal e monetária no Brasil: o resultado do que o mercado apregoa, de arrocho fiscal e aumento de juros, é a canalização de mais recursos estatais para remuneração dos setores rentistas. Há muita organização política das várias frações das classes dominantes para disputar diariamente o Estado e direcionar a favor delas a ação estatal. Isso aqui e lá nos EUA.
Em meu entender, resumidamente o governo Biden buscou realizar políticas de coordenação de interesses entre frações do grande capital dos EUA, sobretudo a industrial, e setores organizados das classes trabalhadoras. Houve uma reação a essa política por grande parte das frações dominantes, e talvez o deslocamento de Elon Musk, de apoiador de Biden em 2020 para principal doador da campanha de Trump em 2024, seja bastante emblemático, pois suas empresas se apoiam na superexploração do trabalho e no combate a práticas sindicais.
E ele não foi uma exceção: as notícias que circulam indicam que Trump logrou congregar apoios significativos entre as principais frações das classes dominantes dos EUA, algo que não aconteceu em 2016.
Neste início de governo, muito se fala das bravatas de Trump na política internacional, mas algumas ações significativas passam despercebidas, ou não recebem a devida atenção, como um pacote aprovado esta semana na Câmara dos Representantes de isenção tributária para amplos setores empresariais e que pode ter como consequência uma redução de programas sociais, como o Medicare e o Medicaid.
As consequências sociais disso podem ser explosivas, ainda mais levando em conta que Trump é o presidente mais mal avaliado em início de mandato desde os anos 1950 nos EUA. Então, como pensar o Brasil em relação a isso? Acho que a grande questão é se o grande capital aqui, assim como lá, vai novamente embarcar em uma aventura desse tipo, como o fez em 2018. Antes da eleição de Trump eu acharia isso difícil, pois a experiência desastrosa com Bolsonaro, sobretudo no caso das vacinas contra a Covid-19, mostrou o risco a algumas frações dos setores dominantes.
Agora, com a volta de Trump, tenho dúvidas, pois é muito forte o impacto do que acontece por lá na mentalidade das classes dominantes daqui. Os EUA são hegemônicos porque logram dar direção global. Por outro lado, é uma hegemonia em declínio, e talvez Trump não consiga se estabilizar nem mesmo no curto prazo, o que pode relativizar esse impacto nas movimentações políticas que as frações dominantes no Brasil farão até 2026.
IHU – Há uma tendência de o “mercado”, poder dos super-ricos, ocupar cada vez mais o espaço do Estado? Qual o risco para a democracia?
Hugo Fanton – Sim. Esse não é um fenômeno novo, é próprio do capitalismo, e se intensificou nesta fase neoliberal. Dentre as muitas definições de neoliberalismo, a que mais me agrada é a que o conceitua como uma fase de avanço da dominância financeira e de desorganização das classes trabalhadoras, com consequente desintegração social. Esse avanço do “mercado” sobre todas as esferas da vida, e também sobre o Estado, é profundamente antidemocrático.
Em um ensaio publicado nos anos 1990, Francisco de Oliveira já analisava esse processo. Ele o definiu como de formação de um “totalitarismo neoliberal”, a passagem de uma “hegemonia burguesa ‘incompleta’” para uma situação em que nem sequer há espaço para a política, no sentido de contestação e disputa. Vimos nos últimos anos a ascensão de movimentos de extrema-direita de características fascistas que, a meu ver, caminham nesse sentido.
Esses movimentos seguem atuantes, disputam o Estado e possuem uma base de classe entre os setores dominantes. Na mesma entrevista que citei acima, André Singer fala que, com a nova eleição de Trump, estamos diante de um acirramento do viés fascista. E esse acirramento pode ter distintos desdobramentos, como a mudança dos regimes políticos e o fim das democracias liberais. Então, sim, o risco existe, e é de morte da democracia.
IHU – O fenômeno verificado nas eleições de 2024 na periferia brasileira, voto mais conversador da classe popular, deve se ampliar nas eleições de 2026?
Hugo Fanton – É difícil dizer, pois muita coisa vai acontecer daqui até as eleições de 2026, mas todos esses elementos que compõem o cenário estarão presentes, de modo que qualquer estratégia de disputa político-eleitoral deve, desde já, lidar com eles. No âmbito mais geral, sigo de perto o que André Singer falou em uma entrevista recente: é preciso produzir políticas que melhorem significativamente a vida das pessoas, sobretudo as mais pobres.
A agenda do mercado financeiro, de austeridade fiscal, diariamente vociferada por todos os grandes meios de comunicação, torna a vida já difícil da base da pirâmide ainda pior. E estamos agora sentindo os impactos dessa agenda que foi imposta no ano passado, sobretudo no segundo semestre. Atrelada a isso deve estar a discussão sobre qual é o nosso projeto de desenvolvimento nas condições atuais do capitalismo global.
Os primeiros governos Lula produziram políticas que transformaram muito significativamente a vida das pessoas, como o programa Luz Para Todos, para dar apenas um exemplo. Passar a ter energia em casa não é qualquer coisa, é uma mudança profunda para melhor, e a força eleitoral de Lula vem disso.
Hoje, as famílias pobres, como disse acima, lidam com o alto endividamento e outros mecanismos de expropriação financeira, como as apostas, com a precarização do trabalho e com o aumento do custo de vida, entre outros problemas.
É preciso dar respostas a isso, em forma de políticas que transformem profundamente as condições postas. É tarefa urgente e muito difícil, pois estamos em condições internas e globais muito mais adversas, mas é preciso debater e encontrar caminhos. E ainda tem as dinâmicas locais que mencionei acima e que influem diretamente no comportamento eleitoral. É preciso disputar a sociedade cotidianamente, o que significa fortalecer os movimentos populares e associações comunitárias comprometidos com um projeto democrático-popular para o país.
IHU – O que a esquerda deixou de fazer na periferia para perder espaço? Há possibilidade de reverter esta realidade?
Hugo Fanton – Como já mencionei em respostas anteriores. Acho que os desafios principais são dois, que devem estar conjugados: a construção de um projeto democrático-popular para o país nesta nova conjuntura global combinada com um trabalho cotidiano de disputa da sociedade, o chamado trabalho de base.
Ao contrário do que alguns dizem, acho que isso não está morto, é realizado por muitas forças, organizações populares, mas que estão por enquanto aquém das necessidades históricas, e muitas vezes dispersas, sem as devidas coordenação e cooperação. Então, acho que cabe a cada pessoa que se identifica como de esquerda esse esforço cotidiano de perceber que os problemas da vida não são resolvidos individualmente, demandam resposta coletiva, o que implica em se organizar nas lutas populares.
Cabe, sobretudo, às grandes organizações, principalmente as partidárias, compreender que a mera reprodução de mandatos tem efeito limitado em termos de construção de força política e que é preciso, de fato, dar a devida atenção às disputas permanentes que estão postas no cotidiano da sociedade. Não sei se é possível reverter a realidade em pouco tempo, mas cada tempo que passa importa, então a resposta a esses desafios é da ordem do dia.