09 Dezembro 2024
Terça-feira, um dia de estudo na Faculdade Teológica de Triveneto.
Periferias e fronteiras como lugares símbolo para a experiência cristã, onde se deixar questionar por pessoas em busca de um caminho de crescimento na fé. Essa é a questão que será o foco do dia de estudos “Espiritualidade das fronteiras. Acompanhar as pessoas LGBT+” promovido pela Faculdade Teológica de Triveneto no dia 10 de dezembro em Pádua (informações aqui). A introdução do tema, de um ponto de vista cultural-eclesial, será feita por Giampaolo Dianin, bispo de Chioggia e teólogo; em seguida, haverá as apresentações do jesuíta Pino Piva e de Stefano Belotti, da comunidade missionária de Villaregia. A moderação será feita pelo Pe. Antonio Bertazzo, vice-diretor do ciclo de licenciatura da Faculdade, que especifica: “Nossa intenção não é ‘olhar de fora’ e definir uma categoria cultural. O risco muitas vezes é justamente o de explorar um fenômeno para reduzi-lo a uma definição, uma classe, um caso a ser estigmatizado. Em vez disso, queremos ouvir os percursos reais de inclusão, a experiência simples daqueles que se deixaram questionar e caminham junto com pessoas que, devido à sua história pessoal e percepção identitária, não querem se sentir excluídas de um caminho de busca da fé cristã”.
A entrevista é de Paola Zampieri, publicada por Avvenire, 08-12-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Quais são as dificuldades que se encontram ao se aventurar nesse âmbito?
O âmbito de que estamos falando pode ser ligado ao contexto de gênero, um tema muito amplo e complexo presente como debate cultural, mas muitas vezes reduzido a uma polêmica de tipo ideológico. Na verdade, não se trata apenas de estabelecer a identidade em sua orientação sexual, de forma que se define o tipo humano como homem e mulher, em uma forma que podemos dizer binária. Tratar o tema do gênero significa fazer convergir diferentes variáveis: homem e mulher, masculino e feminino, relações e interações não apenas interpessoais, mas também com o mundo, com a própria realidade. Por isso, a compreensão do gênero compõe diferentes categorias: a físico-biológica, a dimensão psíquica, que indica a percepção de si de acordo ou não com o sexo biológico, a dimensão cultural.
Há abertura para o debate sobre o tema do gênero no âmbito eclesial?
O debate é muito aberto, coerente com uma visão antropológica muito precisa. Com referência ao documento de 2019 da Congregação para a Educação Católica, Homem e mulher, ele os criou, a questão foi resumida da seguinte forma: “não à ideologia, sim à pesquisa; não à discriminação, sim ao acompanhamento”. Uma questão que ainda está aberta. Um sinal desse estado de discussão é o Responsum do Dicastério da Fé sobre a bênção das uniões entre pessoas do mesmo sexo, tão discutido e não aceito de maneira uniforme.
Que riquezas podem surgir na troca e no diálogo?
Acredito que a maior riqueza é a de mostrar um rosto acolhedor da Igreja. O princípio do cuidado está se tornando a única arma que temos para cultivar bons relacionamentos. O fundamental é que todos nós sejamos olhados com o olhar misericordioso de Deus, que é Pai e Mãe e que convida todos a redescobri-lo como o Deus da vida que cuida de todas as suas criaturas. A atitude de erguer muros, de definir o puro e o impuro, nunca foi a de Jesus. Isso abre para um diálogo com diferentes situações e âmbitos. Na fronteira, é certo que o Mestre já precedeu a todos nós.
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