"Certamente a perspectiva de gênero é um forte signo epocal que reflete o desabrochar de uma sensibilidade distinta acerca de temas como a diversidade sexual, as relações humanas e os estudos sobre gênero", escreve Antônio Anderson Rabêlo Costa, padre jesuíta, professor e orientador religioso no Colégio Anchieta, Porto Alegre (RS).
O autor é bacharel em Filosofia (2013) pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia - FAJE, licenciado em Filosofia (2016) pela Universidade Católica de Pelotas e bacharel em Teologia (2019) pela Pontifícia Universidade Católica do Chile. Atualmente é aluno da Especialização em Juventude no Mundo Contemporâneo da FAJE e mestrando no PPG em Educação da UNISINOS.
“Não há mais judeu ou grego, escravo ou livre, homem ou mulher, pois todos vós sois um só, em Cristo Jesus” (Gl 3, 28) [1]. Que antropologia reivindica o autor da carta aos gálatas? Como a perspectiva de gênero pode contribuir com a reflexão teológica e seus desdobramentos antropológicos? Tem a categoria de gênero algo a dizer sobre a compreensão do ser humano de modo que favoreça uma renovada compreensão teológica e antropológica? Considerando o contexto eclesial no qual se observa que as comunidades cristãs são majoritariamente femininas, as mulheres são, em grande parte, as principais responsáveis pela transmissão da fé, tanto nos núcleos familiares como nas comunidades de fé. Tais contingências marcam a urgência de uma reflexão que contemple o lugar da mulher na igreja e ao mesmo tempo considere outros temas vinculados à sexualidade e à diversidade sexual. Do mesmo modo, pode-se supor que a categoria gênero tenha algo a dizer sobre a compreensão do ser humano de maneira que favoreça uma renovada compreensão antropológica.
A reflexão sobre a perspectiva de gênero tem seus antecedentes na Revolução Sexual e nos estudos de gênero. Esta tem seu ápice a partir da segunda metade do século XX e se relaciona com diversos movimentos reivindicatórios que questionam o paradigma moral predominante e o comportamento sexual das pessoas. Assim, na apreciação de Magali do Nascimento:
“Os movimentos feministas dos séculos 19 e 20 consolidam este processo que passa a ser fundamentado por teorias das ciências humanas, sociais e biológicas, como a Psicanálise (estudos de Sigmund Freud); pela desnaturalização do poder sobre o corpo (teorias de Michel de Foucault); pela emergência do conceito de gênero para além do feminino e do masculino, como categoria científica analítica (com gênese em reflexões como a da filósofa Simone Beauvoir – Não se nasce mulher; torna-se mulher”); pelo desenvolvimento da biociência (separação da sexualidade da reprodução humana e da pílula anticoncepcional)” [2].
Igualmente Rosado, situando a relação entre feminismo, gênero e religião, afirma que estudos históricos, como o de Thomas Laqueur (1990), demonstraram que houve diferentes compreensões acerca do sexo histórica e culturalmente falando. A autora salienta também que na época moderna se produziu uma profunda mudança na visão ocidental que estabelecia um único sexo, o macho, do qual a fêmea seria uma manifestação inferior. (ROSADO, 2017, p. 68) [3]. Ainda que se possa falar da importância do feminismo para o desenvolvimento dos estudos de gênero, é importante reconhecer que estes não se restringem a uma perspectiva isolada ou uniforme, mas representam uma multiplicidade de enfoques. Por isso, destaca Luís Corrêa: “Os estudos de gênero têm raízes no pensamento liberal, no feminismo e em autores franceses. Eles são uma provocação significativa para a consciência da riqueza da condição humana, e para se pensar a identidade a partir de uma maior consciência de si e da própria liberdade, levando-se em conta as decisões subjetivas e os estilos de vida pessoais” [4].
Logo, os estudos de gênero são, em geral, o resultado da concepção de que “masculino” e “feminino” não são dados naturais ou biologicamente inscritos nas pessoas, mas construções culturais. De acordo a tal perspectiva, o gênero se distingue do sexo biológico e da orientação sexual. Assim, uma definição e perspectiva teórica de gênero se relaciona à construção social das características de masculinidade e feminilidade engendradas pelas instituições, organizações sociais e pelas práticas cotidianas. Nesse sentido, a reflexão de Joan Scott aborda a questão de gênero como uma categoria útil à análise histórica. Também, importa observar que a identidade de gênero se constrói a partir de padrões que uma determinada sociedade estabelece para seus membros, definindo comportamentos, roupas, estilos de vida e códigos morais.
Antes de abordar especificamente a temática em questão veremos alguns antecedentes bíblicos vétero-testamentários que ajudam a fundamentar a compreensão antropológica assumida pela teologia católica tradicional. Os relatos do livro do Gênesis apresentam dois episódios distintos que narram a criação do ser humano, cada um deles tem um acento específico e algo a dizer sobre o ser humano.
O primeiro relato, Gênesis 1, 26-31, sublinha o caráter da fecundidade claramente expresso no imperativo divino «Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a!». Nele, além disso, se deduz a diferenciação «homem e mulher», que representa a ambivalência entre a semelhança e a diferença simultaneamente. O ser humano, criado à «imagem e semelhança» de Deus, é chamado a colaborar com o Criador em seu ato de criar e, portanto, gerar vida, povoando a terra que lhe é confiada como lugar de domínio e cuidado. A fecundidade circunscrita nesse relato também explicita a participação do ser humano na obra da criação e destaca seu rol particular como único ser criado à «imagem e semelhança» de Deus.
O segundo relato, Gênesis 2, 7-25, acentua o caráter unitivo da sexualidade humana como se evidencia no desenrolar da trama onde a mulher é concebida a partir da costela do homem e se converte assim em seu par ideal, «Desta vez, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher, ela foi tirada do homem». Ainda que o texto não trate explicitamente da igualdade parece apontar na direção de uma comum dignidade entre homem e mulher, pois ambos participam da mesma e singular “missão” confiada pelo Criador ao ser humano. O acento na unitividade exprime uma compreensão da sexualidade humana a partir da complementaridade entre homem e mulher e, por isso, ao se unirem estes formam uma só carne (Gênesis 2, 24b), sendo capazes de gerar uma nova vida. Ambas as perspectivas, fecundidade e unitividade, longe de se sobrepor uma à outra, podem ser lidas complementarmente, uma vez que a fecundidade supõe a unitividade.
Em sintonia com a cosmovisão bíblica o corpo e a sexualidade são bons, são dom criacional de Deus e estão ordenados ao bem, à felicidade e à plena realização do ser humano. Sendo o ser humano criado à imagem e semelhança de Deus se pode afirmar a bondade intrínseca da criação e ao mesmo tempo constatar a singularidade do ser humano no conjunto das demais criaturas. Há um horizonte moral que emerge a partir de uma leitura adequada destes textos bíblicos, isto é, uma consideração positiva da sexualidade humana. O ser humano, como ser relacional, não se fecha em si, mas está orientado para o outro, é convidado a pensar sua relacionalidade a partir da saída de si. Esta dimensão relacional como movimento em direção ao outro e a Deus, se torna, nestes termos, condição de possibilidade para uma autêntica plenitude humana.
Gálatas 3, 28 pode ser um interessante ponto de partida para uma reflexão teológica acerca da categoria gênero e suas implicações para a antropologia como discurso sobre o ser humano. Entretanto, é importante destacar que, estritamente falando, não existe uma coincidência entre o versículo paulino e a perspectiva de gênero, o que seria anacrônico. Por isso, cabe destacar que as palavras do apóstolo respondem a outro contexto e que ao mesmo tempo estas pertencem a uma sessão mais ampla que aborda outra temática, como se poderá ler adiante. Além disso, sem pretender fazer o texto dizer isso, é possível tirar proveito do caráter novedoso que este proclama.
Logo, no contexto redacional da carta aos gálatas, Paulo proclama que todos – independentemente de seu sexo, idade, nacionalidade ou condição social – estão chamados a participar de uma herança comum que se manifesta em Cristo. Ao afirmar que já não há distinção entre as pessoas, o apóstolo põe em relevo dois aspectos fundamentais. Em primeiro lugar, manifesta a igualdade das pessoas no seio da comunidade cristã, pois em Cristo todos são iguais e não há distinção. Em segundo lugar, se destaca a dimensão social implicada na vida comunitária. Da mesma forma, em alusão às relações homem e mulher na comunidade cristã, a Bíblia de Jerusalém [5] sugere o paralelismo entre Gálatas 3, 28 e outros textos (Ef 4, 24; Rm 10, 12; 1Cor 12, 13; Cl 3, 14 e Jo 17, 21s). Também vale dizer que Paulo, em Ef 5 e 6, considera a igual dignidade de homens e mulheres, como batizados e membros da comunidade dos crentes e, da mesma maneira, sinaliza a diferença a partir das funções que, homem e mulher exercem no fazer eclesial cotidiano.
Teresa Forcades comentando o texto paulino de Gálatas 3, 28 diz: “Na origem grega da carta aos Gálatas, as palavras usadas para indicar “homem” e “mulher”, são as mesmas que usa Mateus em 19, 4: «Nunca lestes que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher». Parece, pois, que os textos bíblicos não nos permitem uma análise simples das categorias de gênero e sexo, nem afirmar de forma absoluta seu caráter natural como se este fosse imutável, nem tampouco seu caráter cultural como se este fosse maleável à vontade” [6].
Na atualidade as comunidades eclesiais geralmente são caracterizadas por um expressivo número de mulheres. São as principais responsáveis pela transmissão da fé. Tal fato é observável tanto em âmbito familiar como eclesial. Seu rosto forma um mosaico diverso. Elas são religiosas, catequistas, ministras da Palavra e da Eucaristia, agentes das pastorais e exercem a liderança, mas não participam da tomada de decisões em instâncias hierárquicas. Contudo, temos observado alguns indícios de mudança, especialmente no pontificado do Papa Francisco [7].
Entretanto, historicamente, uma leitura fundamentalista da Bíblia foi utilizada para legitimar a inferioridade, tanto das mulheres como de outras pessoas socialmente marginalizadas, comenta Northrop Frye: “Até agora temos falado utilizando termos individuais, mas o Evangelho também proporciona um novo conceito de “Israel” como conjunto dos cidadãos do reino de Deus. A noção de que qualquer grupo de tais cidadãos, como por exemplo, mulheres ou escravos, seja inerentemente inferior, não tem sentido (Gálatas 3, 28)” [8]. O autor da carta aos gálatas se propõe ir além da lógica da Lei na medida em que proclama a novidade do cristianismo e reivindica uma nova compreensão antropológica baseada não na inferioridade ou na diferença, mas na igual dignidade dos membros da comunidade cristã constituída em Cristo, “Novo Israel”.
O «estar em Cristo» a que se refere o texto em questão remete ao mistério pascal de Cristo no qual todo o gênero humano está imerso. Logo, utilizando a metáfora paulina do corpo, se pode considerar a relativização das questões culturais em função da lógica distinta a que Cristo aponta, pois a comunidade cristã, como novo povo de Deus, está chamada a operar em outra lógica, ou seja, vive em Cristo e a partir dele. Em Cristo se revela o que é verdadeiramente o ser humano. Em sua pessoa o ser humano contempla o que está chamado a ser (cf. GS 22). Assim, se constata que o texto paulino mostra que a condição dos membros da comunidade cristã já não tem como referência a nacionalidade, o status social ou o gênero. Estes aspectos existem e seguem existindo. Entretanto, sua importância não pode ser menosprezada ou diminuída, já que são constitutivos de como o ser humano se compreende no mundo. Mas o verdadeiro ser, isto é, o que define o ser humano, na ótica cristã, é «ser em Cristo».
Andrea Sánchez, no horizonte de sua reflexão teológica sobre as relações entre os gêneros, afirma:
“O próprio Paulo reconhecia a experiência de ser uma criatura nova em Cristo através da afirmação de Gál 3, 28: “Já não há judeu, nem pagão, escravo nem homem livre, homem nem mulher, pois todos vós não são mais do que um em Cristo Jesus”. Portanto, as diferenças que Cristo transcende no são apenas polarizações de ordem sexual. Em Cristo estamos todos e todas incluídas, tamanha é a universalidade de sua salvação” (WELCH, 2013, p. 279) [9].
Então, nesse texto paulino, mais que opostos, há uma referência às diferenças entre judeus (povo da Aliança) e gregos (pagãos); servos e senhores; homens e mulheres. Por isso, para além da oposição que se pode deduzir dos pares mencionados, há uma relação que os distingue pelo que não são. Contudo, «em Cristo» surge uma nova lógica e tudo muda. O outro já não é mais identificado pela negatividade, ou seja, pelo que não é, “mulher = não homem”, tampouco é identificado pelo que não possui, “escravo = não livre” ou pela nacionalidade “grego” = não pertencente ao povo da Aliança”. A partir disso todos são iguais, já que o que identifica a todos é o ser justificados pela fé em Cristo; as diferenças perdem importância e todos estão convocados a uma relação equitativa.
O atual contexto sócio-histórico evidencia, cada vez mais, o progresso científico e tecnológico que funda, de algum modo, uma nova forma de estabelecer relações. Uma multiplicidade de elementos novos passa a coexistir e dão origem a um novo paradigma que autores como Lyotard (1924-1998) e Rorty (1931-) denominam pós-modernidade. Nele a virtualidade e a relação progressiva ser humano-máquina, não sempre saudável, forjam o que se pretende caracterizar como pós-humano. Os questionamentos levantados pela perspectiva de gênero levam a uma tomada de consciência da necessidade de ressignificar o modo como os seres humanos se relacionam entre si e com o meio-ambiente. Soma-se a esta discussão o trabalho de Donna Haraway, cuja reflexão tem ganhado relevância, especialmente a partir do Manifesto Ciborgue publicado inicialmente em 1985.
Certamente a perspectiva de gênero é um forte signo epocal que reflete o desabrochar de uma sensibilidade distinta acerca de temas como a diversidade sexual, as relações humanas e os estudos sobre gênero. Também, importa destacar, que autoras como a filósofa Judith Butler (1956) [10] e a teóloga Elisabeth Johnson (1941-) [11] têm contribuído significativamente com a reflexão sobre as questões de gênero e seus consequentes desdobramentos para a vida em sociedade. Assumimos que a perspectiva de gênero possa colaborar com a reflexão teológica e suas considerações antropológicas. Mas o que nem sempre é claro, é precisamente o que a categoria de gênero tem a dizer sobre a compreensão do ser humano.
A este propósito Fumagalli tratando das coordenadas bíblicas em sua reflexão acerca da questão do gender, afirma:
“A revelação cristã, devidamente revisada, tendo em conta a perspectiva de gênero, representa um tesouro amplamente inexplorado e que pressagia a existência de notáveis recursos rumo a uma renovada antropologia sexual que ilustre a originária e essencial relação entre homem e mulher e, ao mesmo tempo, sua especificidade diferencial” [12].
Luís Corrêa Lima refletindo sobre a teologia, a pastoral da inclusão e a cidadania LGBT defende a necessidade de reconsiderar alguns juízos sobre os estudos de gênero. Segundo ele, o termo "teoria de gênero" é uma má tradução do inglês gender theory, pois theory não significa teoria, mas o conjunto de estudos teóricos. Os estudos de gênero são bastante heterogêneos. Algumas vezes se entrelaçam, mas em outras ocasiões correm paralelamente sem encontrar-se. Não há uma teoria unificadora contendo uma explicação completa[13]. Por isso, autores como Fumagalli preferem utilizar o termo gender a propor uma tradução para o termo, precisamente por compreender que a palavra gênero do português não seja um equivalente ou sinônimo para a palavra inglesa gender. Justamente por isso, sua obra, La cuestión del gender (2015), originalmente publicada em italiano e editada em espanhol em 2016, conserva a palavra inglesa gender.
Freire apud Scott (1989) dirá que gênero é um elemento constitutivo das relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre os sexos, e o gênero é uma forma primeira de significar as relações de poder. Essa definição do conceito de gênero aponta para o seu aspecto crítico diante das relações de poder que se estabelecem nas diferenças percebidas entre os sexos.
Falar sobre a perspectiva de gênero significa recorrer a um vasto campo de explicações sobre o que significa ser masculino e feminino ou ainda, sobre como se constitui a ideia de “diferença sexual” que está na base das formulações sócio-históricas de masculino e feminino. Também, é evidente que o gênero não se restringe somente à questão feminina ou homossexual. Por isso, se constata que as questões levantadas pela perspectiva de gênero desafiam nossa reflexão e práxis teológica e nos podem ajudar a ampliar o olhar na consideração da problemática antropológica atual. Além disso, vale dizer que gênero é, primeiramente, uma categoria científica, um instrumento das ciências humanas que pretende analisar a construção sociocultural das relações sociais entre os sexos [14].
Assim, a problemática posta em relevo pelos estudos de gênero não se limita à afirmação da igualdade e da dignidade de homens e mulheres. Tal perspectiva seria insuficiente e pouco eficaz. A grandes rasgos se pode afirmar que a almeja a reflexão sobre a questão de gênero é uma ressignificação das relações humanas, baseando-se fundamentalmente na reciprocidade que a dimensão relacional implica. A afirmação do ser humano como um ser para e com os demais, sublinha a necessidade do reconhecimento mútuo entre pessoas igualmente constituídas em dignidade. Homem e mulher não são seres para si, alienados e alheios à realidade, mas são seres para e com os outros. O reconhecimento da diversidade presente na sociedade e no interior da comunidade cristã pode ajudar a recuperar a autêntica humanidade, criada à imagem e semelhança de Deus, onde cada ser em sua singularidade é único.
Gálatas 3, 28 aponta para uma relativização dos aspectos culturais, sociais e sexuais, tendo a Cristo como referencial. O que fundamenta a vida da comunidade já não é a origem social, nem a cultura ou a designação sexual, mas a pertença à igreja, Corpo de Cristo. Com Paulo a comunidade cristã pode dizer “em Cristo todos somos um”. Tal afirmação posta na boca da comunidade reflete sua aspiração à uma profunda conversão eclesial, um chamado a uma autêntica conversão do coração.
A razão de ser da comunidade é Cristo, nele se superam todas as divisões e tudo o que impede o reconhecimento do outro como «imagem e semelhança» de Deus. A ponte que supera os abismos da marginação e conduz ao encontro e ao reconhecimento recíprocos, está estendida definitivamente e é Cristo. Nele a comunidade encontra sua verdadeira identidade, como continuadora da missão que o Pai confiou ao Filho, realizando-a no Espírito Santo. O acento proposto pelo texto paulino está no vínculo gerado por e em Cristo. Por isso, a dimensão relacional é o que predomina, pois o caráter novedoso é precisamente a relação Cristo-comunidade.
Se a comunidade cristã pretende seguir afirmando que em Cristo todos são um, esta não deve temer avançar rumo a uma horizontalidade real e uma verdadeira equidade em suas estruturas e relações. É precisamente aqui onde se pode constatar a relevância da perspectiva de gênero para uma renovada compreensão antropológica, baseada não na diferença, mas na igualdade da dignidade humana. A categoria de gênero, como autêntico lugar teológico, lida em chave de sinal dos tempos, pode colaborar com a práxis e reflexão antropológica, e a partir disso a teologia pode renovar-se em atenção às novas fronteiras que desafiam seu fazer cotidiano.
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LIMA, Luís Corrêa. Os LGBT e o pontificado de Francisco. Perspectiva Teológica, Belo Horizonte, v. 48, n.º 1, p. 117-143, jan./abr. 2016.
ROSADO, Maria José. Feminismo, gênero e religião. Estudos de Religião, São Paulo, v. 31, n.º 2, 65-76, mai./ago. 2017.
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[1] BÍBLIA Sagrada. Tradução Oficial da CNBB. 2.ed. Brasília, DF: Edições CNBB, 2019.
[2] CUNHA, Magali do Nascimento. Construções imaginárias sobre a categoria “gênero” no contexto do conservadorismo político religioso no Brasil dos anos 2010. Perspectiva Teológica, Belo Horizonte, v. 49, n.º 2, p. 257, mai./ago. 2017.
[3] ROSADO, Maria José. Feminismo, gênero e religião. Estudos de Religião, São Paulo, v. 31, n.º 2, p. 68, mai./ago. 2017.
[4] LIMA, Luís Corrêa. Os LGBT e o pontificado de Francisco. Perspectiva Teológica, Belo Horizonte, v. 48, n.º 1, p. 139, jan./abr. 2016.
[5] BIBLIA de Jerusalén. Nueva Edición. Totalmente Revisada. 4.ed. Bilbao: Desclée de Brouwer, 2009.
[6] FORCADES, Teresa. Cristianismo, género y cambio social. Una perspectiva feminista católica. Selecciones de Teología, Barcelona, v. 53, nº 209, p. 47-48. jan./mar. 2014.
[7] Cf. FRACCALVIERI, Bianca. As mulheres na Igreja: com o Papa Francisco, superando barreiras. Vatican News, Vaticano, 09, março 2021. Igreja. Disponível aqui.
[8] FRYE, Northrop. El gran código. Una lectura mitológica y literaria de la Biblia. Barcelona: Gedisa Editorial, 1988, p. 162.
[9] WELCH, Andrea Sánchez Ruiz. Tender puentes, construir vínculos. Antropología teológica y relaciones entre los géneros. Proyecto, Buenos Ayres, v. 25, nº 63-64, p. 279. 2013.
[10] Entre suas principais obras destacam-se: Os atos performativos e a constituição do gênero: um ensaio sobre fenomenologia e teoria feminista (1988); Gender trouble: Feminism and the subversion of identity (1990); Undoing gender (2004) e The question of gender Joan W. Scott's critical feminism (2011).
[11] Destacam-se obras como: She Who Is: The Mystery of God in Feminist Theological Discourse (1992); Women, Earth, and Creator Spirit (1993); The Church Women Want: Catholic Women in Dialogue (2002) e Quest for the living God: mapping frontiers in the theology of God (2007).
[12] FUMAGALLI, Aristide. La cuestión del gender. Claves para una antropología sexual. Santander: Sal Terrae, 2016, p. 85.
[13] cf. LIMA, Luís Corrêa. Os LGBT e o pontificado de Francisco, 138.
[14] FREIRE, Ana Ester Pádua. Perspectivas de gênero nos Estudos da Religião: contribuições das ciências feministas. Interações, Belo Horizonte, v. 13, n.º 23, p. 126. jan./jul. 2018.