07 Mai 2020
"Nessa relação, centro-periferia e periferia-centro, onde o centro é o cérebro e a periferia todas as sensações que interagem no percurso evolutivo inicial e nas experiências de vida, se constroem a orientação sexual, a biografia afetivo-sexual da pessoa , aquele universo que se abre para as escolhas de vida e, de alguma forma, condiciona sua liberdade. Mas a pessoa permanece sempre, como Ricoeur afirma, 'homem capaz', que se define por ser capaz de 'se reconhecer como o autor de seus próprios atos, portanto, como imputável, responsável por eles'", escreve Luigi Renna, doutor em teologia na Pontifícia Universidade Lateranense e foi professor de teologia moral por anos na faculdade de teologia da Apúlia. Desde 2016, é bispo da diocese de Cerignola - Ascoli - Satriano, Itália, em artigo publicado por Il Regno, 06-05-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Parece ter-se acalmado aquela que alguns anos atrás Paolo Legrenzi e Carlo Umiltà chamavam de “neuromania” (2009), uma verdadeira explosão das neurociências "aplicadas" aos vários campos do saber, incluindo a teologia. Acredito que hoje estamos vivendo uma fase de "assentamento", em que a relação dos vários saberes com essa "nova" ciência sente-se menos preocupada em ser engolida por um monismo neurocientífico.
Muitas aquisições, no entanto, abrem horizontes interessantes para a compreensão da pessoa. Uma delas é a relação entre sistema cerebral e dimorfismo sexual.
É de 2005 o artigo que apareceu na Scientific American de L. Cahill, intitulado His brain, her brain, que propunha uma análise sintética no cérebro dos dois sexos. No entanto, diante de algumas variações estruturais, como peso, tamanho do hipocampo nas mulheres e da amígdala nos homens, os elementos de similaridade entre os dois cérebros são maiores do que as diferenças.
Outros aspectos mais amplamente aceitos, porque mais confirmados pela comunidade científica, são o impacto neurobiológico sobre a paixão amorosa e a atração estética como componente da relação emocional-sexual. A atração sexual seria devida, no primeiro caso, a variações hormonais e eventos que modificam o equilíbrio químico e funcional do cérebro, bem como a um aumento do tom do humor. Assim, também a percepção de formas simétricas, que respondem a cânones de beleza e de proporção, ativa áreas específicas do sistema nervoso. Realmente podemos afirmar com Boncinelli que o córtex cerebral é o "triunfo da complexidade" e, como qualquer coisa complexa, não pode ser conhecido com uma abordagem unilateral, sob pena de reducionismo: é necessário um diálogo interdisciplinar.
A abordagem neurocientífica não exclui o uso de outros saberes, que não podem ser considerados auxiliares, como Alberto Oliverio nos lembrava em 2002 em sua Primeira aula de neurociências:
“Mesmo que as neurociências nos digam, e com razão, que os processos mentais dependem do jogo dos mediadores, dos circuitos e núcleos nervosos, isso não comporta que, mesmo que no futuro possamos conhecer as modalidades através das quais os desejos, as intenções e as atitudes são incorporados e mediados pelo cérebro, poderíamos abrir mão daqueles conceitos que estão na base dos nossos conhecimentos do mundo e, portanto, do eu".[1]
De fato, existem três níveis estruturais que integram entre si: o biológico, o psicológico e o mental, com seus componentes de intelecto e vontade.
Nessa perspectiva, a sexualidade deve ser colocada na relação cérebro-mente-corporeidade, com as relativas abordagens disciplinares. O prêmio Nobel de medicina Eric Kandel, por exemplo, embora relevando a maior plasticidade do cérebro feminino e mesmo reconhecendo que as afasias evolutivas e o autismo infantil sejam mais frequentes nos homens, nunca chega à conclusão de que certos mecanismos biológicos estabelecem limites relativamente fixo e permanente ao comportamento.[2] A própria estrutura do cérebro não o torna "um rígido controlador da periferia", mas um órgão que, em sua complexidade, é influenciado pelas "mensagens" que chegam da periferia e fazem com que assuma formas e estruturas variáveis.
Nessa relação, centro-periferia e periferia-centro, onde o centro é o cérebro e a periferia todas as sensações que interagem no percurso evolutivo inicial e nas experiências de vida, se constroem a orientação sexual, a biografia afetivo-sexual da pessoa , aquele universo que se abre para as escolhas de vida e, de alguma forma, condiciona sua liberdade. Mas a pessoa permanece sempre, como Ricoeur afirma, "homem capaz", que se define por ser capaz de "se reconhecer como o autor de seus próprios atos, portanto, como imputável, responsável por eles".
[1] A. Oliviero, Prima lezione di neuroscienze, Laterza, Roma-Bari 2020, 135.
[2] Cf. E. Kandel, J. Schwartz, T. Jessel, Principi di neuroscienze, Milão 2003, 616.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Masculino e feminino na prova das neurociências - Instituto Humanitas Unisinos - IHU