Em memória de Hiroshima e consciência atômica. Artigo de Enrico Peyretti

Foto: Wikimedia Commons

Mais Lidos

  • A ideologia da Vergonha e o clero do Brasil. Artigo de William Castilho Pereira

    LER MAIS
  • Juventude é atraída simbolicamente para a extrema-direita, afirma a cientista política

    Socialização política das juventudes é marcada mais por identidades e afetos do que por práticas deliberativas e cívicas. Entrevista especial com Patrícia Rocha

    LER MAIS
  • Que COP30 foi essa? Entre as mudanças climáticas e a gestão da barbárie. Artigo de Sérgio Barcellos e Gladson Fonseca

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

09 Agosto 2024

"Será que existe a consciência de nos reconhecermos como humanos? Que as antigas sabedorias voltem a socorrer a humanidade desorientada. Acredito que seja possível", escreve Enrico Peyretti, teólogo, ativista italiano, padre casado e ex-presidente da Federação Universitária Católica Italiana (Fuci), em artigo publicado por Incontri di "Fine Settimana", 07-08-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

7 de agosto de 2024 - Ontem à noite, um tributo a Hiroshima, na piazza Carignano, em Turim, como em outros lugares. No chão, um grande símbolo de paz, formado pelas velas da memória. Nós nos conectamos por telefone com Florença. Menos de cem pessoas presentes. E a cidade? E a política? E a informação civil? Um dos presentes deu uma olhada nos jornais de hoje: ninguém se lembra de Hiroshima. Não importa: mas nós vamos relembrar, aqui. Noite chuvosa, embora muito quente: nenhum turista passa por aqui, como todos os sábados, das 11 às 12 horas, na "presença da paz", que continua há 128 semanas. A que serve? Para manter viva a consciência. Pelo menos a nossa. O que é consciência? É mais do que conhecimento mental: é o saber-sentir íntimo, no coração, na profundeza humana, se não se está em catalepsia.

Saber e relembrar o crime de Hiroshima, assim como o de Nagasaki, não é apenas história, mas o desejo de uma nova história humana sem a destruição da humanidade. Hoje se fala de novas ameaças atômicas, de várias potências armadas, ou seja, anti-humanas. Como reagem os povos, as pessoas comuns, que são o objeto e não o sujeito da política atual? Existe alguma comunicação, entre os desertos de distração, de indiferença, de medos ocultos, de privatismo inconsciente, de impotência fatalista instilada pelos centros de poder? Há muita dessa "calma desesperança", renúncia ao direito e à dignidade. Será que nós, como sociedade, temos a "consciência atômica" na qual os mestres da humanidade trabalharam, em todas as linguagens, de 1945 até hoje? Existe informação e conscientização mais urgente do que essa, se a vida humana de todos é o valor mais precioso e ameaçado?

Acredito que pelo menos o saudável medo existe, mas adormecido na impotência. Os grupos e movimentos pacifistas devem se unir, cada um com sua própria contribuição tradicional, mas tornando-se aquela verdadeira força política lamentavelmente ausente hoje nos partidos, todos atolados em querelas secundárias de poder, em autoafirmação, em interesses corruptos, em ideologias ultrapassadas e no fatalismo tolo da guerra inevitável, e na tolice de acreditar que a única defesa contra a guerra é outra guerra de resposta, que reproduz, confirma e consagra a primeira: mais armas, mais morte, mais fracasso. Política escrava da desumanidade.

Nenhum partido tem a prioridade da paz, a única prioridade política verdadeira, condição de qualquer outra conquista civil, libertação e promoção humana. "A cada cem anos o povo acorda", cantava Neruda. O único objetivo de hoje, que contém toda a justiça, é o repúdio político perpétuo da guerra e a nova defesa-afirmação dos direitos humanos com a força humana não violenta, uma realidade histórica e não uma utopia (vejam Erica Chenoweth, a última voz desperta e documentada). Esse saudável medo atômico, instilado pelos poderes criminosos da guerra, despertará a consciência humana comum dos povos? Será que existe a consciência de nos reconhecermos como humanos? Que as antigas sabedorias voltem a socorrer a humanidade desorientada.

Acredito que seja possível. A humanidade é livre para escolher entre a loucura e a vida, mas não está abandonada à loucura. Em cada um de nós, consciente e livre, existe a verdadeira força vital, que busca se compor com as demais para formar uma humanidade viva, capaz e digna de viver, nos indefiníveis desdobramentos da vida humana. Coragem mútua!

Leia mais