04 Outubro 2023
Na véspera da reunião do Sínodo sobre o futuro da Igreja, algumas pessoas questionam o esforço do papa para proteger as discussões das pressões externas, impondo sigilo.
A reportagem é de Loup Besmond de Senneville, publicada em La Croix International, 03-10-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O que exatamente saberão as pessoas lá fora sobre as discussões que ocorrerão durante a 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, comumente chamada de Sínodo sobre o futuro da Igreja?
A pergunta permanece sem resposta mesmo às vésperas do encontro entre os dias 4 e 29 de outubro no Vaticano, que promete ser decisivo para a Igreja Católica.
E isso deve estar na mente dos 364 Padres e Madres sinodais, que passaram os últimos três dias que antecederam a missa de abertura desta quarta-feira em um retiro espiritual a cerca de 15 quilômetros de Roma.
A ideia de realizar os debates do Sínodo a portas fechadas ganhou espaço nas últimas semanas. Mas isso vai contra a noção – defendida até por algumas figuras-chave da assembleia – de que deveria haver uma abertura parcial ou até mesmo total nas discussões entre os participantes, que, durante quase quatro semanas, alternarão entre grupos de trabalho e sessões plenárias.
Foi o Papa Francisco quem teve a ideia de submeter a assembleia sinodal ao “sigilo”. Mas Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação, refutou essa palavra. Um “espaço de silêncio” é como ele prefere chamar.
“Não é o Show de Truman”, insistiu ele durante uma coletiva de imprensa no dia 29 de setembro. A referência, claro, era ao filme satírico de ficção científica de Peter Weir, no qual um homem chamado Truman Burbank é involuntariamente tema de um reality show.
Ao longo do mês de outubro, Ruffini será responsável por reportar regularmente aos jornalistas o conteúdo das discussões. O leigo italiano já deixou claro que não tem certeza se terá “material suficiente” para oferecer relatórios diários.
Como o La Croix revelou recentemente, o Papa Francisco está até considerando submeter os participantes ao sigilo pontifício. Seu objetivo é garantir uma forma de liberdade de expressão para os participantes.
“Ele não quer repetir o que ocorreu no Sínodo sobre a Amazônia”, disse um de seus visitantes regulares.
Durante aquela reunião de 2019, que levou bispos da vasta Região Amazônica ao Vaticano, alguns grupos conservadores foram a Roma e protestaram contra o que consideraram como a promoção do sincretismo religioso por parte dos prelados. Os manifestantes disseram que uma estátua da Virgem Maria usada no encontro era na verdade a deusa pré-colombiana da Pachamama, representando a Mãe Terra.
“O silêncio é essencial na vida da Igreja”, disse o papa durante a vigília ecumênica na Praça São Pedro, no sábado, em uma clara mensagem aos membros da assembleia sinodal. “O silêncio na comunidade eclesial torna possível a comunicação fraterna, na qual o Espírito Santo harmoniza os pontos de vista”, continuou Francisco.
Aqueles que lhe são próximos insistem que o receio do papa jesuíta é, acima de tudo, que, ao se expressarem publicamente, os participantes do Sínodo “definam” suas posições e, então, sejam incapazes de modificá-las durante as discussões.
De fato, foi isso que foi dito aos participantes do Sínodo nas últimas semanas nas reuniões preparatórias organizadas pelo Vaticano. Durante esses encontros, os Padres e as Madres sinodais foram aconselhados a não dizer nada aos jornalistas sobre suas “expectativas”.
“Você sabe que eu não tenho permissão para falar com você”, disse um dos participantes com um sorriso, quando questionado sobre o assunto.
Mas, no Vaticano, a decisão de ser excessivamente discreto causou grande perplexidade, mesmo entre os maiores promotores do Sínodo.
“A comunicação vai ser complicada. Isso não pode ficar como está”, preocupou-se uma autoridade da Cúria Romana.
“O sigilo corre o risco de reforçar a oposição entre os conservadores estadunidenses e os progressistas alemães. Ambos os lados têm dinheiro e jornalistas que simpatizam com sua causa e contarão a história que quiserem, em detrimento dos mais moderados”, disse outro.
“Por que deveríamos esconder tensões que todos sabem muito bem que existem?”, perguntou-se um diplomata com sede em Roma.
Em Roma, alguns dos que são favoráveis a uma maior abertura esperam agora que algo mude durante os momentos iniciais da assembleia sinodal.
“Precisamos convencer o papa. Poderia ser por meio da comissão de comunicação, cujos membros, oriundos do Sínodo, serão eleitos no início da assembleia”, explicou uma fonte.
Outros também esperam que cardeais experientes, como Christoph Schönborn, de Viena, um veterano das assembleias sinodais romanas, ajudarão a mudar a opinião do papa.
É claro que Francisco poderia exigir publicamente o “fechamento total” amanhã em seu discurso de abertura da assembleia. E, se o fizer, será muito mais difícil para os defensores de uma maior transparência defenderem sua posição.
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Rumo a uma assembleia sinodal “a portas fechadas”? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU