14 Setembro 2023
Os países-membros do G20 são responsáveis por mais de 80% das emissões globais e um esforço cumulativo do grupo para descarbonizar é crucial na luta global contra o aquecimento global.
O artigo é de José Eustáquio Diniz Alves, doutor em Demografia, publicado por EcoDebate, 10-09-2023.
“Os líderes do G20 podem impedir o colapso climático” - António Guterres, Secretário-geral da ONU (setembro de 2023)
A cúpula do G20 em Nova Déli, na Índia, realizada nos dias 9 e 10 de setembro de 2023, aprovou a entrada da União Africana, que reúne 55 países, como membro permanente do grupo que reúne as maiores economias do mundo. Antes, o G20 contava apenas com a África do Sul como o único integrante do continente africano. Agora, o G20 consiste em 19 países e dois blocos: a União Europeia e a União Africana, fortalecendo sua representatividade como o fórum econômico mais abrangente da governança global. O Brasil assumiu a presidência do bloco de dezembro de 2023 a novembro de 2024.
No discurso de abertura na Cúpula do G20, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, fez um apelo aos países ricos por financiamento para o combate às mudanças climáticas, especialmente para os países em desenvolvimento. Ele destacou que desde a COP de Copenhague, os países ricos deveriam garantir 100 bilhões de dólares por ano em financiamento climático, uma promessa que nunca foi cumprida. Lula ressaltou que o mundo gasta mais de 2 trilhões de dólares em despesas militares, enquanto metade desse valor seria suficiente para promover a transição energética e reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
No entanto, a questão climática está assumindo proporções catastróficas. Pouco antes do início da Cúpula do G20 em Nova Delhi, em 8 de setembro, a ONU, por meio da UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), publicou o primeiro inventário global das ações contra a crise climática (Global Stocktake).
Segundo o relatório, mesmo se os compromissos de neutralidade climática de longo prazo, apresentados na COP27 (que ocorreu no Egito no ano passado), forem totalmente implementados, o mundo não conseguirá limitar o aquecimento abaixo de 1,5º C em relação ao período pré-industrial. Isso significa que o mundo não está conseguindo cumprir as metas do Acordo de Paris e está caminhando para um aumento de temperatura entre 2,4°C e 2,6°C.
O documento da UNFCCC enfatiza a necessidade de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 43% até 2030, 60% até 2035 (em comparação a 2019) e alcançar o "net zero" global em 2050. Isso requer um aumento na eficiência energética e a expansão do uso de energia renovável, além da eliminação gradual dos combustíveis fósseis, exceto aqueles necessários para uma transição energética justa em direção à neutralidade climática.
No entanto, contrariando o Acordo de Paris, os países do G20 aumentaram as emissões relacionadas ao carvão em 9% desde 2015, conforme relatado pelo Instituto Ember em 5 de setembro de 2023. O gráfico mostra que pouco mais da metade dos países do G20 reduziu as emissões de carbono provenientes do uso do carvão mineral. Os países que reduziram as emissões per capita incluem Austrália, Coreia do Sul, África do Sul, EUA, Alemanha, União Europeia, Canadá, Itália, México, Reino Unido e Brasil. Já os países que aumentaram as emissões foram China, Japão, Turquia, Rússia, Índia e Indonésia.
Observa-se que os países com as maiores emissões per capita são a Austrália e a Coreia do Sul, enquanto os menores são Brasil, França e Argentina. No entanto, vale ressaltar que a China lidera em termos de uso total de carvão mineral, seguida de longe pela Índia e pelos EUA.
A responsabilidade histórica pelas alterações climáticas é um tema central nos debates sobre a justiça climática. A quantidade cumulativa de dióxido de carbono (CO2) emitida desde o início da Revolução Industrial está diretamente relacionada com o aquecimento de 1,2º Celsius que já ocorreu até 2021 e que está prestes a ultrapassar 1,5º C. No total, os seres humanos emitiram aproximadamente 2.500 bilhões de toneladas de CO2 (GtCO2) na atmosfera desde 1850, deixando menos de 500 GtCO2 do orçamento de carbono restante para manter o aquecimento abaixo de 1,5ºC.
Isso significa que, até 2021, o mundo consumiu 86% do orçamento de carbono disponível. Um artigo do Carbon Brief (EVANS, 05/10/2021) analisou a responsabilidade nacional pelas emissões históricas de CO2 de 1850 a 2021 e, pela primeira vez, incluiu as emissões de CO2 provenientes do uso do solo e da silvicultura, além das provenientes dos combustíveis fósseis, o que teve um impacto significativo no ranking dos países mais poluentes.
O gráfico abaixo mostra que os EUA lideram a classificação, tendo emitido mais de 509 GtCO2 desde 1850 e sendo responsáveis pela maior parcela das emissões históricas, com cerca de 20% do total global. A China está em segundo lugar, mas com uma diferença significativa, contribuindo com 11% do total. Em seguida, temos a Rússia (7%), Brasil (5%) e Indonésia (4%). O Brasil e a Indonésia estão entre os 10 maiores emissores históricos, em grande parte devido às emissões de CO2 decorrentes do desmatamento e do uso da terra. Portanto, o Brasil ocupa o 4º lugar no ranking das emissões acumuladas de CO2.
A maioria dos países apresentados no gráfico anterior pertence ao G20, com exceção da Ucrânia, Polônia, Tailândia e Irã. Portanto, entre os países que mais poluíram em termos históricos, 16 deles fazem parte dos 19 países do G20. Isso ressalta que as responsabilidades pelas emissões históricas não são tão claras entre o "Norte global" (países desenvolvidos) e o "Sul global" (países em desenvolvimento).
Os países-membros do G20, em conjunto, são responsáveis por mais de 80% das emissões globais, e um esforço conjunto do grupo para a descarbonização é fundamental na luta global contra o aquecimento global. No entanto, é urgente que todos os países, independentemente de sua classificação, contribuam para abandonar o uso de combustíveis fósseis, eliminar o desmatamento e recuperar as áreas degradadas.
Embora as maiores economias do mundo, reunidas em Nova Delhi, tenham concordado em triplicar a capacidade de energia renovável até 2030, não houve progresso significativo na eliminação progressiva do carvão, petróleo e gás.
Contudo, o relatório da UNFCCC deixou claro a necessidade de eliminar progressivamente os combustíveis fósseis, uma vez que há uma "janela cada vez mais estreita" para que os governos ajam rapidamente.
As emissões globais de gases com efeito de estufa devem atingir seu pico até 2025, no mais tardar, e serem rapidamente reduzidas a partir desse ponto, a fim de limitar os aumentos de temperatura a 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais.
Não há mais espaço para procrastinação, e o G20 precisa promover rapidamente a transição energética e a restauração dos ecossistemas.
ALVES, JED. Crescimento demoeconômico no Antropoceno e negacionismo demográfico, Liinc em Revista, RJ, v. 18, n. 1, maio 2022.
EMBER. G20 Per Capita Coal Power Emissions 2023, 05/09/2023.
EVANS Simon. Which countries are historically responsible for climate change? Carbon Brief, 05/10/2021.
UNFCCC. Synthesis report on the technical dialogue of the first global stocktake, 8 September 2023.
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Os países do G20 aumentaram as emissões relacionadas ao carvão desde 2015. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves - Instituto Humanitas Unisinos - IHU