06 Julho 2023
"A civilização humana também precisa abandonar a queima de combustíveis fósseis e abandonar os hábitos do consumismo que fazem o conjunto das atividades antrópicas ultrapassarem a capacidade de carga da Terra", escreve José Eustáquio Diniz Alves, demógrafo e pesquisador em meio ambiente, em artigo publicado por EcoDebate, 05-07-2023.
“Tentamos proteger as árvores, esquecidos de que são elas que nos protegem”.
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
O mundo está trilhando o caminho da insustentabilidade, uma vez que, nos últimos 250 anos, tem crescido o número de habitantes e diminuído o número de árvores. Em geral, as pessoas degradam a natureza e produzem gases de efeito estufa, enquanto as árvores, por meio da fotossíntese, sequestram carbono e liberam oxigênio. As árvores vivem muito bem sem o ser humano, mas o ser humano não tem futuro sem as árvores.
O mundo tinha cerca de 6 mil árvores por habitante antes da Revolução Industrial e Energética. Mas com o crescimento demoeconômico e a antropomorfização do mundo as florestas foram derrubadas para dar lugar à agricultura, à pecuária e à expansão urbana e humana. O número de árvores no mundo hoje em dia está em torno de três trilhões de unidades, segundo artigo da revista Science (Bastin et. al. 05/07/2019). O resultado tem sido a redução do número de árvores por pessoa que está em cerca de 400 árvores por habitante atualmente.
Embora as florestas sejam a ferramenta mais eficaz para combater o aquecimento global e evitar a perda de biodiversidade, a destruição das áreas florestais é uma triste realidade que prevalece no mundo. Uma área do tamanho da Suíça foi removida das florestas tropicais mais preservadas da Terra em 2022, apesar das promessas dos líderes mundiais de interromper sua destruição, segundo dados compilados pelo World Resources Institute (WRI) e pela Universidade de Maryland, conforme mostra o gráfico abaixo.
(Foto: Reprodução | EcoDebate)
Os trópicos perderam 10% a mais de floresta tropical primária em 2022 do que em 2021. A perda de floresta tropical primária em 2022 totalizou 4,1 milhões de hectares, o equivalente à perda de 11 campos de futebol de floresta por minuto. Toda essa perda de floresta produziu 2,7 gigatoneladas (Gt) de emissões de dióxido de carbono, o equivalente às emissões anuais de combustível fóssil da Índia.
Em nível nacional, enquanto a perda de florestas primárias aumentou nos dois países com maior número de florestas tropicais, Brasil e República Democrática do Congo, também aumentou rapidamente em outras nações, como Gana e Bolívia. Enquanto isso, a Indonésia e a Malásia conseguiram manter as taxas de perda de florestas primárias próximas a níveis recordes.
(Foto: Reprodução | EcoDebate)
O mundo precisa restaurar a biocapacidade dos ecossistemas e voltar ao velho equilíbrio de menos gente e mais árvores. Principalmente os 3 grandes países – Brasil, República Democrática do Congo e Indonésia – precisam atuar em conjunto para proteger as maiores florestas tropicais do mundo.
Mas a civilização humana também precisa abandonar a queima de combustíveis fósseis e abandonar os hábitos do consumismo que fazem o conjunto das atividades antrópicas ultrapassarem a capacidade de carga da Terra. As pessoas precisam da natureza, mas a natureza não precisa das pessoas.
ALVES, JED. A vida secreta das árvores e o déficit de natureza, Ecodebate, 14/12/2018.
ALVES, JED. Mais árvores e menos gente, Ecodebate, 02/10/2019.
ALVES, JED. Número de árvores por pessoa nos países e no mundo, Ecodebate, 26/12/2022.
Jean-François Bastin et. al. The global tree restoration potential, Science, Vol. 365, Issue 6448, pp. 76-79, 05 Jul 2019.
Mark Kinver. World ‘losing battle against deforestation’, BBC News, 12/09/2019.
Fred Pearce. Conflicting Data: How Fast Is the World Losing its Forests? Yale 360, 09/10/2018.
Progress on the New York Declaration on Forests. Protecting and Restoring Forests: A Story of Large Commitments, Five-Year Assessment Report, September 2019. Disponível aqui.
WRI. Forest Pulse: The Latest on the World’s Forests, World Resources Institute (WRI), Global Forest Watch, 27/06/2023.
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Mais gente e menos árvores. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves - Instituto Humanitas Unisinos - IHU