07 Janeiro 2023
Mapa mostra como é amplo o desmatamento no mundo e, em especial, mostra que o Brasil lidera o ranking dos países que mais desmatam.
O artigo é de José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e pesquisador de meio ambiente, publicado por EcoDebate, 26-12-2022.
“Tentamos proteger as árvores, esquecidos de que são elas que nos protegem” - Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
O mundo tinha cerca de 6 mil árvores por habitante antes da Revolução Industrial e Energética. Mas com o crescimento demoeconômico e a antropomorfização do mundo as florestas foram derrubadas para dar lugar à agricultura, à pecuária e à expansão urbana e humana. O resultado foi a redução do número de árvores por pessoa que ficou em 422 árvores por habitante em 2014.
O gráfico abaixo, do site Our World in Data, mostra a relação árvore por habitantes em todos os países. Entre os grandes países, o Canadá se destaca, pois tem quase 9 mil árvores por habitante. Também se destacam Rússia, com 4461 árvores por habitantes e a Austrália com 3266 árvores por habitantes. Na América Latina se destaca Suriname com 15279 árvores por habitante.
A tabela abaixo mostra os 70 países com maior quantidade de árvores por habitantes e alguns outros com menor quantidade. A média mundial é de somente 422 árvores por habitante. O Brasil aparece em 31º lugar no ranking, com 1494 árvores por habitante e os EUA aparecem em 52º lugar, com 716 árvores por habitante. A China que é o país mais populoso do mundo tem apenas 102 árvores por habitante e a Índia que será, em 2023, o país mais populoso do mundo tem míseras 28 árvores por habitante. O Haiti – que é o país mais pobre das Américas e tem tradição de desmatamento – tem mínimas 14 árvores por habitante. Mas uma das piores situações encontra-se no Iêmen com apenas 1 árvore para cada habitante.
O mundo está em um caminho insustentável, pois cresce o número de pessoas e diminui o número de árvores, sendo que as pessoas, quando mais consomem, mais emitem dióxido de carbono (que aumenta o efeito estufa e acelera o aquecimento global), enquanto as árvores utilizando a luz do sol – por meio da fotossíntese – transformam o dióxido de carbono em oxigênio. Ou seja, o impacto humano acelera o aquecimento global e o impacto vegetal ameniza o aquecimento global. Assim, reduzir as áreas ecúmenas e aumentar as áreas verdes anecúmenas pode manter o Planeta habitável, evitando tanto o ecocídio, quanto o suicídio civilizacional.
Reportagem da BBC (17/08/2022), com base nos dados do Instituto Global Forest Watch, mostram que, em todo o mundo, a quantidade de cobertura florestal queimada quase dobrou nos últimos 20 anos. A mudança climática é um fator chave no aumento, pois leva a temperaturas mais altas e condições climáticas mais secas. Dos 9 milhões de hectares de árvores consumidos pelo fogo em 2021, mais de cinco milhões estavam na Rússia.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse a ministros de 40 países reunidos para discutir a crise climática na metade de julho de 2022: “Metade da humanidade está na zona de perigo, de inundações, secas, tempestades extremas e incêndios florestais. Nenhuma nação está imune. No entanto, continuamos a alimentar nosso vício em combustíveis fósseis”. A maior frequência e intensidade dos incêndios florestais e das ondas de calor causando estragos em várias partes do globo mostram que a humanidade caminha, alertou Guterres, para um “suicídio coletivo”.
Plantar árvores e reflorestar o mundo é essencial. Mas como mostrou Greta Thunberg: “Plantar as árvores certas no solo certo é muito útil. Elas eventualmente sequestram o dióxido de carbono da atmosfera e precisamos fazer isso onde seja adequado para o solo e para as pessoas que vivem aí e cuidam dessa terra. Mas o reflorestamento não deve ser confundido com compensação climática ou o carbono offsetting, que é algo completamente diferente. Vejamos: o principal problema é que já temos pelo menos 40 anos de emissões de dióxido de carbono para “compensar”.
Está tudo aí em cima, na atmosfera, e é lá que vai ficar, provavelmente por muitos séculos. É nesse CO2 histórico que deveríamos nos focar quando usamos nossas formas atuais e muito limitadas de remover o CO2 da atmosfera por meio de vários projetos, como o plantio de árvores. Mas a compensação como a concebemos não tem a intenção de fazer isso. Nunca foi criada para que limpemos o nosso desastre. Muitas vezes é usada como desculpa para continuar a emitir CO2 como habitualmente fazemos, business as usual, e, no entanto, enviar o sinal de que temos uma solução e de que não há necessidade de mudar”.
O IPCC divulgou relatório no dia 26 de outubro de 2022 mostrando que os países signatários do Acordo de Paris estão longe do prometido para conter crise climática global. Em um levantamento independente divulgado também em outubro, pela Forest Declaration Assessment (Avaliação da Declaração Florestal), o mundo está longe das metas internacionais de suspensão da perda e da degradação florestal para 2030.
Na conferência do clima de Glasgow, em 2021, o Brasil e mais de 100 países firmaram um acordo para proteger florestas, reverter o desmatamento e a degradação de terra até o fim da década, mas os números atuais de redução apontam que o mundo não está no caminho certo para esse marco. De acordo com o estudo, o desmatamento global diminuiu “modestos” 6,3% em 2021 em comparação com a taxa de base de 2018-20. Com isso, a área degradada de florestas pelo mundo chegou a quase 7 milhões de hectares no ano passado, uma região equivalente ao tamanho da Irlanda.
Apesar dessa queda, impulsionada muito pelo progresso de países como a Indonésia e a Malásia, uma redução de 10% no desmatamento a cada ano é necessária para interromper completamente o desmatamento até 2030, segundo o levantamento. O mapa abaixo mostra como é amplo o desmatamento no mundo e, em especial, mostra que o Brasil lidera o ranking dos países que mais desmatam.
Fonte: EcoDebate
O mundo precisa restaurar a biocapacidade dos ecossistemas e voltar ao velho equilíbrio de menos gente e mais árvores. Brasil, República Democrática do Congo e Indonésia já começaram a atuar em conjunto para proteger as maiores florestas tropicais do mundo.
Mas a civilização humana também precisa abandonar a queima de combustíveis fósseis e abandonar os hábitos do consumismo que fazem o conjunto das atividades antrópicas ultrapassarem a capacidade de carga da Terra.
ALVES, JED. Países com maiores áreas e percentagens de floresta.
ALVES, JED. Mais árvores e menos gente.
ALVES, JED. O mundo precisa de seis mil árvores para cada ser humano.
MATT MCGRATH. Climate change: ‘Staggering’ rate of global tree losses from fires.
Greta Thunberg. Mentiras perigosas.
IPCC. Climate Change 2022, Mitigation of Climate Change.
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Número de árvores por pessoa nos países e no mundo. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves - Instituto Humanitas Unisinos - IHU