"O livro (Um cristianismo sinodal em construção), portanto, aponta algumas características que darão nova fisionomia ao cristianismo nos anos vindouros. Com uma linguagem clara e acessível a qualquer público Mario de França Miranda, no presente texto, renuncia a um tratamento mais sistemático e acadêmico, pois sua finalidade é explicitar as mudanças em curso, as tensões que provoca, as iniciativas inovadoras e, sobretudo, a ação decisiva do Espírito Santo", escreve Eliseu Wisniewski, presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos) Província do Sul, mestre e doutorando em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).
Apontar algumas características que darão fisionomia ao cristianismo nos anos vindouros é o escopo da obra: Um cristianismo sinodal em construção: a fé cristã na atual sociedade (Paulinas, 2022, 120 p.), escrita pelo veterano teólogo Mario de França Miranda. O presente livro oferece um discernimento preciso para entender os processos de transformação do cristianismo na história, sabendo que as verdades reveladas serão sempre entendidas, expressas e vividas inevitavelmente condicionadas por seus respectivos horizontes de compreensão. Daí termos novas compreensões, novos insights, novas dimensões, novos significados, novas práticas, novas organizações e novas instituições surgidas ao longo dos séculos no próprio cristianismo.
MIRANDA, Mario de França. Um cristianismo sinodal em construção: a fé cristã na atual sociedade. São Paulo: Paulinas, 2022, 120 p. | Foto: divulgação
Chamando a atenção para a crise atual (p. 13-44), apresentando os fundamentos teológicos para um cristianismo futuro (p. 45-63), para o sentido e a missão do cristianismo hoje (p. 65-88), do cristianismo a ser construído (p. 89-114), apresentando os traços marcantes de um cristianismo sinodal futuro (p. 115-119), Miranda ressalta que as transformações não ameaçam a identidade do cristianismo, que tem sua origem em Deus e foi revelada na pessoa de Jesus Cristo, mas dizem respeito às configurações plurais que põem apresentar essa identidade no curso dos séculos. Assim, as verdades essenciais, constitutivas da fé cristã, serão expressas, confessadas e vividas por homens e mulheres habitando contextos vitais e socioculturais próprios, distintos conforme as regiões ou épocas em questão. Só assim tais verdades poderão ser entendidas e acolhidas pela humanidade ao longo de sua história. Observa, ainda que, os desafios atuais contribuirão para uma nova configuração do cristianismo, seja de cunho doutrinal, seja de cunho institucional – cabendo às futuras gerações enfrentá-los e resolvê-los. No entanto, observa o autor que podemos afirmar que o cristianismo de amanhã continuará a oferecer à sociedade pluralista, tensa e insegura em meio a tantos discursos, e até depressiva diante dos males, a sua maior riqueza: o sentido da vida revelado na pessoa de Jesus Cristo, ou seja, promover que todos tenham a vida que já antecipa nossa vida eterna.
Nesta perspectiva uma futura configuração do cristianismo deverá ser apresentado a partir da pessoa de Jesus Cristo, de suas palavras e de suas ações; deverá fomentar a vivência real da fé que impregne toda a vida do cristão, deverá ser um cristianismo missionário, na fidelidade a seu destino e a sua finalidade, deverá recuperar a diversidade de carismas no interior da comunidade cristã, deverá se expressar com uma linguagem acessível, deverá fomentar mais a experiência religiosa, a percepção da atividade do Espírito Santo em cada cristão, deverá consistir em comunidades menores, deverá estar presente e colaborar em todos os setores da sociedade, para levar adiante o projeto de humanização.
O livro, portanto, aponta algumas características que darão nova fisionomia ao cristianismo nos anos vindouros. Com uma linguagem clara e acessível a qualquer público Mario de França Miranda, no preste texto, renuncia a um tratamento mais sistemático e acadêmico, pois sua finalidade é explicitar as mudanças em curso, as tensões que provoca, as iniciativas inovadoras e, sobretudo, a ação decisiva do Espírito Santo. O referido autor que optou pelo termo “cristianismo” para intitular esta obra por ser um termo mais amplo, já que muitas questões atingem também as Igrejas nascidas da Reforma, nota que o adjetivo “sinodal” levará a reencontrar as comunidades cristãs do início do cristianismo: missionárias, participativas, confiantes na força de Deus mais do que no prestígio do poder humano.
Miranda adverte que o cristianismo do futuro passará tantos por mudanças amplas para poder realizar sua missão em vista do Reino de Deus, em uma sociedade transformada pela cultura virtual, quanto por mudança nas expressões da mensagem e na própria instituição eclesial, por isso, o cristianismo futuro dependerá também de nossa colaboração neste momento histórico. Consequentemente devemos atualizar nossa fé, captar a ação do Espírito Santo em nossos dias, conhecer e apoiar o heroico esforço do Papa Francisco pela reforma eclesial, afinal, todo cristão, como tal, está ativamente comprometido com o projeto de Deus para o mundo, no seguimento de Jesus Cristo.