23 Setembro 2022
Um vento de reforma está soprando da Europa continental sobre a Igreja Católica. Do sínodo alemão, chega ao papa o pedido para abrir ao sacerdócio feminino e mudar a norma sobre o celibato obrigatório. Na Bélgica, pela primeira vez, os bispos desenvolveram diretrizes para uma espécie de bênção aos casais homossexuais crentes. Na Áustria, da síntese do debate sinodal, surge o pedido da maioria dos fiéis de ver crescer a liderança feminina na Igreja e de cancelar a proibição de acesso das mulheres ao diaconato e ao sacerdócio.
A reportagem é de Francesco Peloso, publicada por Domani, 22-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Normalmente esse tipo de posições expressas pelas igrejas do centro e norte da Europa são tratadas com certa intolerância pelos ambientes mais tradicionalistas e rebaixadas a posições elitistas, expressão de episcopados em crise que seguem as modas dos tempos.
No entanto, trata-se de uma representação superficial. Enquanto isso, como o catolicismo está em crise em toda parte na velha Europa, a pressão para se abrir a essas e outras mudanças é latente em muitas igrejas do continente, onde questões semelhantes vêm sendo discutidas há várias décadas.
Dois fatores devem ser levados em consideração: o desenvolvimento de caminhos sinodais que foram levados a sério pelas comunidades católicas continentais, em particular pelos leigos que manifestaram suas opiniões, mas também por muitos bispos, incluindo vários cardeais de peso, como o arcebispo de Munique, Reinhard Marx.
Nesse sentido, a convocação do papa para um sínodo mundial para discutir como o povo de Deus possa participar da vida da Igreja e da proclamação do Evangelho teve sucesso, pelo menos em alguns países. É um processo dividido em quatro fases (de 2021 a 2023): diocesana, nacional, continental, mundial; o risco, é claro, é que, à medida que os documentos chegam ao Vaticano, possam ser posteriormente enfraquecidos e diluídos em afirmações cada vez mais genéricas e abrandadas.
No entanto, a sensação é de que o sínodo posto em movimento pelo pontífice é um dos últimos trens que a Igreja pode tomar para não cair na irrelevância, certamente na Europa, mas não só.
Será necessário ver até onde Francisco vai querer avançar depois de abrir a caixa de Pandora do sínodo. Por outro lado, e é o segundo elemento, o impulso para mudar as coisas veio, em vários casos, na esteira dos escândalos dos abusos sexuais contra menores que atingiram a Igreja como uma catástrofe irreversível em todas as latitudes.
A decisão sobre a bênção aos casais homossexuais, no entanto, assume particular valor porque foi tomada por alguns bispos (os flamengos da Bélgica) – entre os quais o arcebispo de Bruxelas, cardeal Jozef De Kesel - de forma autônoma, embora dentro de um percurso de abertura ao longo do qual a igreja belga havia se encaminhado há tempo.
No documento, aparece a palavra "bênção" em referência às uniões homossexuais, que depois foi diluída em um comunicado em que, no entanto, afirma-se que "os bispos convidam as comunidades a reconhecer e acolher os casais cristãos homossexuais:" Causa dor quando essas pessoas ouvem que não pertencem à comunidade ou são excluídas dela. Querem ser ouvidas e reconhecidas”.
Além disso, explica-se, “propõem também um quadro de oração através do qual os casais homossexuais, na presença da comunidade, possam pedir a Deus que zele pela sua união.
Insistindo que não poderia ser um matrimônio sacramental, oferecem um quadro para a oração que não é, estritamente falando, uma bênção. Isto prevê, em particular, uma forma de compromisso e de oração da comunidade”.
Além disso, a Igreja belga dá a conhecer que "no início de 2022 a diocese de Liège publicou um folheto intitulado ‘Acolher, acompanhar, trazer para a oração o projeto de vida compartilhado pelas pessoas homossexuais’ - que foi apresentado ao Papa Francisco em julho. Talvez também uma abordagem comum dos bispos de língua francesa poderia em breve ser apresentada”.
Quanto ao sínodo alemão, repetidamente advertido pelo Vaticano para não assumir decisões que contradigam descaradamente a doutrina católica, a fórmula escolhida foi votar as propostas até radicais de reforma, na forma de pedido ao papa.
Este foi o caso da ordenação sacerdotal feminina, que obteve um consenso particularmente amplo tanto na assembleia sinodal como um todo (92 por cento) como entre os bispos (82 por cento). Entre outras coisas, o texto aprovado diz: "Não é a participação das mulheres em todos os serviços e ofícios da Igreja que deve ser justificada, mas a exclusão das mulheres do ministério sacramental".
Deve-se notar que foram os bispos que quiseram acrescentar uma emenda ao texto em que se pede ao papa para reexaminar o documento de João Paulo II, Ordinatio sacerdotalis de 1994, no qual se estabelecia que a ordenação sacerdotal diz respeito apenas a homens, para verificar se é possível aportar mudanças.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
A luta na igreja sobre mulheres-padres e homossexualidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU