Stefano Zamagni: Em 7 pontos, uma proposta para “uma negociação de paz credível” na Ucrânia

Foto: Freepik

23 Setembro 2022

 

Stefano Zamagni, presidente da Pontifícia Academia das Ciências, apresentou alguns pontos essenciais "para uma negociação de paz credível".

 

A reportagem é de Giovanni Tridente, publicada por Omnes, 20-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Daqui a poucos dias se completam sete meses do insensato conflito na Ucrânia que está causando destruição e morte, além de colocar o mundo inteiro em estado de sítio devido às consequências econômicas e sociais da guerra. Não que em outras partes do mundo não haja guerras - como o Papa Francisco destacou repetidamente -, mas sentimos que esse embate é mais premente tanto porque ocorre à porta de nossa casa quanto porque está afetando a cotidianidade material de nossas existências.

 

Desde o início da guerra desencadeada pela Rússia, o Papa Francisco pediu o fim das hostilidades mais de 80 vezes e qualificou os confrontos como monstruosidade insensata, heresia... loucura. Pediu insistentemente para iniciar a via do diálogo sem outras pretensões, e aos cristãos de implorar a Deus o dom da paz através da oração constante.

 

Diálogo

 

Na coletiva de imprensa com os jornalistas ao retornar do Cazaquistão, ele afirmou que, mesmo que custe, é preciso "falar" com o inimigo, porque a prioridade é salvar vidas humanas e o fim dos combates. Depois haverá tempo para acertar as coisas de acordo com a justiça, avaliando as responsabilidades de cada um, mas a urgência é parar o quanto antes.

 

De acordo com as últimas notícias vindas das zonas de guerra, parece que a Ucrânia está reconquistando parte dos territórios anteriormente ocupados pelo exército russo. Se por um lado esse cenário pode representar um elemento de otimismo para a conclusão do conflito para a retirada total dos ocupantes, não se exclui de parte adversária que esteja (re)preparando uma ofensiva ainda mais violenta. Esperamos que não.

 

Construtores da paz

 

Nesta conjuntura, surge uma proposta explícita do lado católico para alcançar a paz definitiva o mais rápido possível, pelo menos nesta área a leste da Europa. Traz a assinatura de ninguém menos que o presidente da Pontifícia Academia das Ciências, o italiano Stefano Zamagni, que neste caso torna-se o porta-voz do amplo magistério sobre o chamado a ser "construtores da paz". Conhecido economista e acadêmico, foi também um dos principais colaboradores do Papa Bento XVI na redação da encíclica Caritas in veritate.

 

Zamagni, na Itália, é também o inspirador e fundador de um grupo político "de inspiração cristã", centrista e popular, chamado "Insieme", que coloca o trabalho, a família, a solidariedade e a paz no topo de seu programa. Em tal qualidade, portanto, escreveu uma longa contribuição que traça os passos que levaram ao conflito, mas ao mesmo tempo estabelece alguns pontos essenciais "para uma negociação de paz credível".

 

Trata-se de sete pontos que o redator tem motivos para acreditar que possam ser "acolhidos favoravelmente pelas partes em conflito" se a proposta for "apresentada adequadamente e gerida com sabedoria pela via diplomática". Afinal, conclui Zamagni, “a paz não é uma meta inatingível porque a guerra não é algo que acontece como um terremoto ou um tsunami; mas é fruto da escolha de pessoas que a querem”. E o mesmo vale também para a paz.

 

Os 7 pontos da proposta

 

Aqui estão os sete pontos da proposta de paz assinada pelo presidente da Pontifícia Academia das Ciências:

 

Primeiro: “Neutralidade da Ucrânia que renuncia à sua ambição nacional de aderir à OTAN, mas que mantém plena liberdade para tornar-se parte da UE, com tudo o que isso significa”.

 

Segundo: “A Ucrânia obtém a garantia de sua soberania, independência e integridade territorial; uma garantia assegurada pelos 5 membros permanentes das Nações Unidas (China, França, Rússia, Reino Unido, EUA), bem como pela UE e Turquia”.

 

Terceiro: “A Rússia mantém o controle de fato da Crimeia por um determinado número de anos, após os quais as partes buscam, por via diplomática, um arranjo jure permanente. As comunidades locais desfrutam de facilidade de acesso à Ucrânia e à Rússia; além da liberdade de circulação de pessoas e recursos financeiros”.

 

Quarto: “Autonomia das regiões de Lugansk e Donetsk na Ucrânia, da qual continuam sendo parte integrante, do ponto de vista econômico, político e cultural”.

 

Quinto: "Acesso garantido da Rússia e da Ucrânia aos portos do Mar Negro, para a realização das normais atividades comerciais".

 

Sexto: "Remoção gradual das sanções ocidentais à Rússia em paralelo com a retirada das tropas e dos armamentos russos da Ucrânia".

 

Sétimo: “Criação de um Fundo Multilateral para a Reconstrução e Desenvolvimento das áreas destruídas e seriamente danificadas da Ucrânia, um fundo ao qual a Rússia é chamada a concorrer com base em critérios pré-definidos de proporcionalidade”.

 

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