08 Junho 2022
Talvez seja irreverente em relação a um ato eclesial de peso, mas a concessão do tomo da autocefalia à Igreja Ortodoxa da Macedônia (junho 5) lembra um balé entre Sérvia, Macedônia, Constantinopla e, na borda da pista, a Rússia.
O comentário é de Lorenzo Prezzi, teólogo italiano e padre dehoniano, publicado por Settimana News, 07-06-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Pode-se começar em 9 de maio de 2022: o patriarca de Constantinopla, Bartolomeu, abre a comunhão com a Igreja Ortodoxa da Macedônia do Norte, bloqueada desde 1967 em condição de cisma (em relação a Belgrado, a Igreja mãe, e consequentemente com as outras Igrejas da Ortodoxia). Em 16 de maio, o sínodo da Igreja Ortodoxa Sérvia anuncia a solução do cisma. No dia 24 de maio, o Patriarca sérvio Porfírio concelebra com o Metropolita macedônio Estêvão, em Skopje. Em 5 de junho, Porfírio transmite a Estevão o tomo da autocefalia.
No dia 12 de junho, festa de Pentecostes, segundo o ano litúrgico ortodoxo, Bartolomeu deveria conceder a autocefalia à Igreja macedônia em uma solene celebração em Constantinopla, colocando algumas condições sobre a denominação, na diáspora e nas relações com a vizinha Igreja grega. Moscou patrocinou a total responsabilidade sérvia pela autocefalia, deslegitimando todas as reivindicações do Fanar e destacando a diferença radical entre a autocefalia macedônia e a autocefalia ucraniana.
Voltando a 5 de junho, na basílica de Belgrado, em comunhão com seu próprio sínodo, Porfírio concede total autonomia (autocefalia) à Igreja Ortodoxa de Scopje. Ele acompanha o gesto com um discurso lírico muito amplo em que lembra que o ato litúrgico e canônico ocorre independentemente de pressões étnicas, políticas ou estatutárias. Não é um gesto que possa ser dobrado a interesses partidários: "a Igreja não é instrumento para outra finalidade".
O processo de brotamento de uma Igreja em relação à Igreja mãe não pretende dividir, mas unir e multiplicar a força do anúncio. A decisão da Igreja Sérvia será levada ao conhecimento das outras Igrejas para que todas se pronunciem em comunhão com a Igreja Macedônia. O metropolita macedônio Estevão, movendo-se no fio da navalha, agradeceu pela concessão do tomo que "confirma uma realidade de fato: o status de autocefalia da renovada arquidiocese de Ohrid, como uma Igreja Ortodoxa Macedônia".
Também confirma que está se movendo com a bênção do patriarca ecumênico com quem tem um encontro dentro de alguns dias. Em uma declaração posterior, Estevão informará Bartolomeu sobre as medidas tomadas para obter "a emissão do tomo da autocefalia de parte de sua santidade o patriarca ecumênico Bartolomeu, de acordo com sua jurisdição canônica e histórica".
Constantinopla, irritada por ter sido antecipada por Belgrado, atribui a descortesia ao Metropolita Irineu de Backa (grande eleitor de Porfírio) e exibe o pedido enviado pelo presidente da Macedônia do Norte, Stevo Pendarovski, para o pedido de autocefalia.
A Igreja Sérvia encerra a disputa macedônia, mas talvez tenha que reabrir o arquivo dos abusos dos eclesiásticos.
O Procurador-Geral de Montenegro pediu ao procurador de Belgrado que ouvisse o depoimento de Bojan Jovanović, apoiado pela ONG Montenegro International. A acusação é dirigida ao Metropolita de Montenegro, o bispo João, anteriormente, de Budimlje e Niskšić, acusado de ter encoberto os eclesiásticos predadores. Courrier des Balkans (3 de junho) relembra o livro Confessions: comment nous avons tué Dieu, publicado em 2021, no qual Bojan Jovanović contava sobre os abusos dentro da Igreja sérvia e acusava o bispo João de cumplicidade.
Uma comissão interna da Igreja, presidida pelo bispo João, investigou as acusações de abuso por padres ortodoxos entre 2002 e 2015 com cerca de quarenta interrogadores. Mas sem iniciar nenhum procedimento.
De acordo com o advogado de Bojan, os agressores somariam dois dígitos. As investigações conduzidas até agora não tiveram qualquer seguimento. O bispo Panomio de Vranje, acusado de violência contra quatro menores, foi absolvido em 2006. O promotor de Vranje reiniciou o caso com novas acusações em 2013, mas o ministério público encerrou o processo.
Um monge de Hopovo, na Voivodina, acusado de abusar uma dúzia de meninos e condenado em 2006, teve seu julgamento cancelado pela Suprema Corte em favor de um novo processo que nunca começou. O ex-bispo de Zvornik e Tuzia, Vasilio Kačavenda, acusado de pedofilia, nunca foi a julgamento. Seu caso foi até um tribunal de Londres que em 2009 se declarou incompetente.
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Sérvia-Macedônia: o balé da autocefalia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU