Igreja ucraniana pró-russa. E depois? Artigo de Lorenzo Prezzi

Fonte: Wikimedia Commons

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14 Mai 2022

 

"Os bombardeios, massacres, destruições e saques do exército russo fizeram explodir o sentimento contra os russos nas comunidades [pró-Rússia]: a referência a Kirill desaparece nas orações, o pedido para cortar todos os laços com Moscou está crescendo, as relações de confiança estão se degradando", afirma Lorenzo Prezzi, teólogo italiano e padre dehoniano, em artigo publicado por Settimana News, 11-05-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Eis o artigo.

 

Ainda é considerada a maior igreja do país. Com 12.000 paróquias, 52 dioceses e uma centena de bispos, supera a Igreja autocéfala (7.000 paróquias, 50 bispos) e reúne a maioria da população ortodoxa (60-70% dos 41 milhões de habitantes). Muito mais consistente que a estimada Igreja Católica de rito bizantino (4 milhões) e de rito latino (1 milhão).

 

Para não mencionar várias comunidades menores: a Igreja Católica Rutena, a Igreja de Filarete, comunidades protestantes, etc. “Mas a guerra poderia acelerar uma reconfiguração radical: muitos padres e fiéis ucranianos pró-russos se sentem traídos por Moscou e várias dioceses já teriam pedido para passar para a Igreja autocéfala. É previsível que o Metropolita Onufrio convoque um conselho de reunificação da Ortodoxia Ucraniana no final da guerra, cortando laços com Moscou” (J-A. Derens).

 

Da autonomia à separação de Moscou?

 

A condição pré-bélica da Igreja pró-russa de Onufrio é caracterizada por "ampla autonomia" em relação a Moscou.

 

A práxis da Igreja Ortodoxa Russa prevê três graus de autonomia: a plena autonomia, como no caso da ortodoxia japonesa, a ampla autonomia, como no caso da Ucrânia, e um regime de menor autonomia, como o caso da Moldávia ou da Letônia.

 

A Igreja ucraniana elege seu primaz e seu sínodo, estabelece as dioceses e determina autonomamente as normas de funcionamento. Seus bispos têm o dever de participar do Concílio dos Bispos de Moscou.

 

Este último vínculo deveria dar origem a uma clara dissidência em relação à agressão militar russa no próximo concílio de bispos em Moscou (previsto para novembro passado e depois adiado para o outono do hemisfério norte de 2022). Tanto Onufrio quanto uma dezena de bispos se expressaram claramente nesse sentido.

 

Até agora a Igreja Russa não se distanciou de Onufrio e seus seguidores. Ela foi a porta-voz da denúncia de vários episódios de assédio administrativo ou policial contra comunidades pró-Rússia na Ucrânia.

 

Todos os dias as fontes de informação do Patriarcado de Moscou divulgam notícias sobre as igrejas requisitadas, sobre as ameaças aos popes, sobre os danos a propriedades e pessoas: de Konotop a Ivano-Frankivsk, de Yasinya e Lviv, de Dubensky a Buchansky, de Ovruch a Rukshin. Amplificam a decisão do sínodo de considerar ilegais as decisões dos órgãos administrativos locais sobre os bens eclesiásticos.

 

Acima de tudo, denunciam as duas leis prontas no Parlamento que penalizariam a Igreja pró-Rússia; a mudança do nome que obrigaria a uma complicada obra de recadastramento de pessoas, bens e comunidades nos registos nacionais, mas sobretudo a modalidade simplificada de passagem da obediência pró-russa para a autocéfala, já agora fortemente criticada.

 

Isolamento previsível

 

Os bombardeios, massacres, destruições e saques do exército russo fizeram explodir o sentimento contra os russos nas comunidades: a referência a Kirill desaparece nas orações, o pedido para cortar todos os laços com Moscou está crescendo, as relações de confiança estão se degradando. Mesmo que o desconforto não se traduza na passagem para a Igreja autocéfala. Nos últimos três anos, não mais de 700 paróquias passaram de uma obediência a outra.

 

Por parte de Moscou, registram-se os primeiros sinais de distanciamento da Igreja de Onufrio. Surpreendeu o silêncio total do patriarca de Moscou sobre o dramático apelo de Onufrio para facilitar a evacuação da população civil de Mariupol.

 

E, no caso da eficaz mediação da ONU, ONGs e Kirill para a libertação dos últimos civis da usina de Azovstal, Moscou confiou ao Metropolita Mitrofan de Gorlovski, ignorando o primaz.

 

Segundo Peter Anderson, a escolha pode antecipar o desejo de Moscou de exigir jurisdição direta sobre a Crimeia, Donetsk e Luhansk. Um sinal para uma gestão mais direta dos territórios num contexto de crescente isolamento.

 

A Igreja Russa fica com a aliança com as Igrejas sérvias e búlgaras, enquanto as outras parecem abandoná-la.

 

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