16 Novembro 2021
“Não podemos desistir. A sobrevivência do meu país está em jogo. Corremos o risco de nos afogar”. Era 1995, durante a primeira Conferência das partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP1), em Berlim, quando o Ministro do Meio Ambiente das Ilhas Marshall, Tom Kijiner, pronunciou essas palavras. Elas não são muito diferentes daqueles proferidos ontem no Scottish Event Campus de Glasgow pela atual enviada do pequeno estado do Pacífico, Tina Stege, 26 anos e 25 Cop depois (a defasagem se deve à pandemia). Enquanto isso, o oceano continuou sua inexorável subida, chegando a ameaçar 40% dos edifícios em Majuro, a capital do arquipélago de mais de mil atóis. No "momento da verdade", como o definiu o presidente da COP26 Alok Sharma, no final, "um acordo ruim é melhor do que nenhum acordo", como se sussurrava nos corredores.
A reportagem é de Lucia Capuzzi, publicada por Avvenire, 14-11-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Ou, para usar s palavras do enviado dos EUA, John Kerry, "o melhor é inimigo do bem". Também o secretário-geral da ONU, António Guterres, é categórico: os textos aprovados pela COP26 são um “compromisso. Eles refletem interesses, condições, contradições e o estado da vontade política no mundo hoje”. A diplomacia climática avança a passos minúsculos, quase imperceptíveis.
Os países do Sul global aprenderam isso da maneira mais difícil. No sentido literal da palavra: as nações africanas investem 10% de sua taxa de crescimento anual para resistir ao aquecimento global, pelo qual têm pouca responsabilidade. Um estudo do Global carbon project mostra que os EUA, Canadá, Japão e Europa Ocidental, com um total de 12% da população global, emitiram metade do CO2 produzido nos últimos 150 anos. Por isso, depois de um cabo de guerra extenuante em 2009, os "poluidores históricos" prometeram às nações mais vulneráveis 100 bilhões de dólares por ano em ajudas, a partir de 2020. Até agora, porém, eles ainda não conseguiram reunir tal cifra que mal e mal representa um quinto do montante dos subsídios para gás, petróleo e outros combustíveis fósseis. A soma, aliás, coloca em um único caldeirão recursos para enfrentar a emergência e combater os gases de efeito estufa, discriminando os últimos dos últimos que pouco poluem, mas fazem esforços incomensuráveis para se adaptar às mudanças climáticas.
Compreensível, portanto, a frustração com que os países pobres - reunidos no grupo dos 77 mais a China - receberam o Pacto pelo Clima de Glasgow. O texto não concede muito às suas demandas. A ponto de ser definido por Greta Thumberg como "patético" e ironizando sobre a síntese do documento final: "Blá, blá, blá". O objetivo dos 100 bilhões por ano é confirmado. Como encontrá-los, porém, é adiado para conversas, previstas entre 2022 e 2026. Ao menos, pede-se maior equidade na sua distribuição, com a duplicação dos fundos para adaptação, ainda que a partir de 2025. O ponto mais dolorido é o da compensação econômica pelas devastações causadas pelo clima. É uma petição incessante da frente Sul, nunca reconhecida pelos grandes. Em Glasgow, depois dos discursos encorajadores dos primeiros dias, o nó parecia em vias de ser desatado. Não foi assim. Porém, para adoçar a pílula, são destinados fundos para a assistência técnica e é iniciado um diálogo imediato sobre o dossiê.
Claro, isso ainda é um passo em frente: o Acordo de Paris realmente não mencionava esse capítulo.
Ou, em todo caso, é assim que o Grupo dos 77 teve que interpretá-lo, que, apesar de representar 130 nações e 85% dos habitantes do mundo, não tem armas contra os Grandes. Até porque Pequim, formalmente "aliada", joga por conta própria. A sua partida era de outro teor e dizia respeito à obrigação, incluída no documento, de apresentar no próximo ano - e não a cada cinco como pretendia o acordo de Paris - os compromissos de cortes das emissões, para conter o aumento da temperatura dentro dos 1,5 graus. Além da menção inédita aos combustíveis fósseis e à eliminação gradativa dos subsídios a eles destinados e das centrais a carvão sem mitigação.
Duas batalhas se cruzaram ontem na plenária informal do Scottish Event Campus. A mais evidente entre o Norte e o Sul geopolíticos, sobre os financiamentos, combatida arduamente por este último. A reunião, convocada por Sharma às 12h, foi adiada de hora em hora para às 16h11, com o presidente tentando desesperadamente convocar as 197 partes sem mover africanos, latino-americanos e asiáticos. E aquela subterrânea entre os EUA, a UE e aliados contra os sabotadores China, Índia, Austrália, Rússia e Arábia Saudita sobre os combustíveis fósseis. O resultado foi determinado pela "diplomacia da presidência" de Kerry que, enquanto esperava o início da reunião, circulou entre os delegados, para os convencer um a um. Desnecessário dizer que ele se deteve mais tempo com o chinês Xie Zhenhua. Apenas a Índia permaneceu hostil até o fim, com uma troca acalorada de respostas com o vice-presidente da Comissão da UE, Frans Timmermans.
No entanto, foi precisamente a resistência de Nova Delhi que levou os países pobres a aceitar o acordo, com relutância. Ainda mais "diluído" - com as desculpas de Sharma - pela Índia que, in extremis, transformou a "eliminação" do carvão em "redução". Votado 27 horas após o término previsto, o pacto "imperfeito" - como o chamam -, no entanto, existe. Os EUA, a UE, a ONU e a Grã-Bretanha evitaram o "fracasso" no último minuto. E confirmado, embora ainda apenas no papel, o objetivo do limite de 1,5 grau.
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Acabou sem fracasso o encontro de Glasgow. Mas o Pacto climático foi “diluído” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU