08 Novembro 2021
Um grande sucesso ou um evidente fracasso? Esta primeira semana da COP26 se encerra com avaliações opostas, tanto que os protagonistas questionados parecem ter assistido a duas conferências distintas sobre o clima: se Alok Sharma, o presidente britânico da COP, fala de acordos fundamentais já alcançados e de grande esperança para o resultado final na próxima sexta-feira, Greta Thunberg nas últimas horas rotulou o evento de Glasgow com o blá blá blá de sempre e o festival do greenwashing.
A reportagem é de Luca Fraioli, publicada por La Repubblica, 07-11-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Quem está certo? Como observadores interessados no destino do planeta, como se orientar entre os anúncios bombásticos e as denúncias de fake news? Enfim, que avaliação pode ser feita desta primeira semana da COP26?
Nem mesmo confiar nos especialistas parece ser a solução: “Até para nós é difícil entender como estão as coisas”, admite Massimo Tavoni, professor da Politécnica de Milão e diretor do Instituto Europeu e de Economia Ambiental (EIEE). “A verdadeira dificuldade é entender o que será feito de imediato, ainda nesta década. Todos são mestres em prometer medidas que depois serão outros a implementar daqui a meio século."
E por falar em promessas, para nos orientarmos na avalanche de declarações de intenções durante os 7 dias de Glasgow, vamos listar as principais.
- Parar o desmatamento até 2030: um anúncio já ouvido em cúpulas internacionais. Mas desta vez a diferença é o dinheiro: os 12,2 bilhões de dólares alocados para a operação. O que está causando perplexidade são a adesão do Brasil de Bolsonaro ao Pacto, que até agora não brilhou pela proteção de sua Amazônia, e a Indonésia, que considera as árvores (e principalmente seu corte para dar lugar às plantações) um recurso econômico irrenunciável.
- Reduzir as emissões de metano em 30% na década atual. Acordo assinado por 90 países com grandes deserções: China, Índia e Rússia.
- Fechar as usinas de energia movidas a carvão. A boa notícia é que a Polônia está entre os quarenta signatários. Mas mesmo neste caso faltam os "grandes poluidores".
- Fechar as torneiras públicas do financiamento em países terceiros de infraestruturas que se baseiam em combustíveis fósseis. O acordo, porém, foi assinado por apenas umas vinte nações e instituições financeiras públicas.
- Mobilizar os financiamentos privados para investir na economia verde: anúncio do enviado especial da ONU, Mark Carney, que citou valores estonteantes: 130 trilhões de dólares. Há dias estamos nos perguntamos se se trata de assets dos 450 bancos envolvidos na operação ou de dinheiro que pode realmente ser investido imediatamente na transição ecológica dos países em desenvolvimento.
- Alcançar a neutralidade de carbono em 2070: o objetivo da Índia anunciado em Glasgow.
Diante de tudo isso, o Financial Times, que certamente não é o boletim dos Fridays for Future, intitulou "Mais palavreado do que progressos na COP26". “Na realidade”, explica Tavoni, “os verdadeiros jogos são disputados na segunda semana e, portanto, é cedo para julgar o evento de Glasgow. No entanto, também vejo sinais positivos. O Diretor da Agência Internacional de Energia Fatih Birol ressaltou como os compromissos anunciados nos últimos dias são compatíveis com a meta de um aumento da temperatura no final do século entre 1,5 e 2 °C. E é uma perspectiva também confirmada pelas simulações que nós mesmos acabamos de elaborar. O problema é entender se os compromissos anunciados nos últimos dias serão cumpridos e se outras nações vão aderir”.
Além disso, há a questão do curto e do longo prazo. "As promessas para 2050 deixam o tempo presente. É preciso entender o que será feito de concreto nesta década”, continua o economista ambiental. “Mas só a União Europeia, entre as grandes do mundo, se equipou para intervir imediatamente”.
Na verdade, até o entusiasmo pela America is back, o retorno dos EUA à mesa de negociações climáticas após o parêntese de Trump, não durou muito. "Biden enfraqueceu muito internamente, corre o risco de perder as eleições de meio de mandato e dificilmente conseguirá assumir a liderança mundial na luta contra as mudanças climáticas", diz Tavoni. A tudo isso deve ser somada a ausência de Xi Jinping e Vladimir Putin, bem como o anúncio indiano de parar as emissões apenas daqui a meio século. “Mas pode ser. Também é certo que os países ocidentais eliminem o carbono em 2050 e concedam mais vinte ou trinta anos às economias que agora precisam recuperar terreno.”
Tavoni é cético quanto ao rio de dinheiro prometido: “Não me parece possível que valores privados como os anunciados migrem espontaneamente de fontes fósseis para as renováveis. A política precisa favorecer essas operações, desestimulando os investimentos em um setor e incentivando-os no outro”. E, de fato, o anúncio de Carney sobre os 130 trilhões de dólares disponíveis para a transição verde levantou muitas dúvidas até mesmo entre os especialistas da área. O Financial Times analisou que a cifra, igual a 40% das atividades do sistema financeiro global, é composta por 57 trilhões de dólares de atividades controladas pelos signatários, 63 trilhões de dólares dos bancos envolvidos e outros 10 trilhões de proprietários dos assets. “Não é dinheiro novo chegando ao mercado e, na maior parte, não pode ser alocado”, explicou ao jornal da City Ben Caldecott, diretor do Oxford Sustainable Finance Group da Universidade de Oxford. “Muito desse dinheiro é para empréstimos imobiliários ou investimentos no setor fóssil.”
A esperança é que a segunda semana marque uma mudança de ritmo: dos anúncios a acordos de implementação imediata. “A verdadeira COP26 começará na terça-feira, quando chegarão as delegações de alto nível, aquelas com os ministros do Meio Ambiente”, confirma Stefano Ciafani, presidente nacional da Legambiente. “Só então saberemos se a política será capaz de transformar em ações concretas as propostas em que os negociadores estão trabalhando.”
E todos os anúncios que se seguiram nos primeiros dias da Conferência de Glasgow? “É bom, mas são compromissos voluntários e dizem respeito a um número limitado de países: o desafio das próximas horas é transformar essas promessas sobre desmatamento, metano, carvão em compromissos vinculantes para todas as nações da ONU. E depois há outro capítulo. O mais importante é que os países em desenvolvimento esperam ajudas econômicas prometidas desde 2009 em Copenhague e depois reconfirmadas em 2015 em Paris. São os famosos 100 bilhões de euros por ano para poder enfrentar a transição energética. Se os ricos novamente não mantiverem a palavra, existe o risco de 120 delegações, entre nações africanas e países vulneráveis, se atravessem fazendo fracassar a COP26.” A partir de amanhã, novamente olhos voltados para Glasgow.
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Grande sucesso ou o ‘blá, blá, blá’ de sempre? Veja como foi a primeira semana da COP26 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU