08 Novembro 2021
“É claro para todos que a COP26 é um fracasso”. Entre aplausos e gritos de aprovação de milhares de seguidores e ambientalistas, Greta Thunberg afunda mais uma vez a crucial cúpula climática em Glasgow, do palco na George Square, após uma passeata de alguns quilômetros no centro da cidade escocesa. A ativista sueca e estrela contra as mudanças climáticas não poupa os acordos sobre desmatamento, metano e carvão anunciados nos últimos dias na COP26, ampliando ainda mais o fosso entre os trabalhos dentro do Scottish Event campus, onde se realiza a cúpula.
A reportagem é de Antonello Guerrera, publicada por Repubblica, 05-11-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Depois das acusações de "festival de greenashing" de ontem (ou seja, promessas falsas de finanças, bancos e instituições para "limpar sua reputação") e "o evento mais exclusivo de todos os tempos sobre o clima", Thunberg voltou ao ataque de líderes e negociadores: “São apenas belos discursos para esconder palavras vazias e blá blá blá”, que agora se tornou um mantra e um lema para todos, aqui na Escócia, entre manifestantes e ambientalistas, depois de tê-lo pronunciado pela primeira vez em Milão há algumas semanas durante a COP dos jovens.
Segundo Thunberg, a ameaça das alterações climáticas não pode ser enfrentada “com os mesmos métodos que levaram o mundo a ter que enfrentá-la”. Não somente. A jovem sueca acusa dirigentes e delegados de fornecerem voluntariamente "detalhes e estatísticas incompletas dos acordos anunciados", tudo isso, segundo Greta, "para salvaguardar o business e o status quo". É um grito alto e belicoso, portanto, aquele que vem das ruas e da praça de Glasgow, enquanto dentro do campus os negociadores discutem dia e noite para tentar chegar a uma síntese aceitável que se aproxime o mais possível do objetivo principal, ou seja, a contenção do aumento da temperatura para +1,5 °C nas próximas décadas. O limiar pelo qual, de acordo com os cientistas, o planeta e o futuro das próximas gerações podem ser salvos.
Mas de acordo com Thunberg, "os líderes não estão fazendo nada", disse ela a uma multidão de milhares de pessoas que responderam com aplausos estrondosos. “Parece que seu principal objetivo seja o de continuar a lutar pelo status quo”, concluiu Greta no final da manifestação de Fridays for Future que começou esta manhã no Parque Kelvingrove e que contou com a presença de muitos jovens, adolescentes e crianças, mas também adultos e pais. Todos, aqui na rua, estão com Greta, recebida como uma estrela como sempre e escoltada por um monstruoso serviço de segurança, com dezenas de jovens e voluntários que a protegem constantemente da mídia e seguidores.
Também é crítica a outra jovem estrela em ascensão do ambientalismo global, a ugandense Vanessa Nakate, de 24 anos, que falou do palco da George Square uma hora antes de Greta: "Quanto tempo levará para que os líderes das nações entendam que sua inação destrói o meio ambiente? Estamos em uma crise, um desastre que acontece todos os dias. A África é responsável por 3% das emissões históricas, mas sofre o maior peso da crise climática. Mas como pode haver justiça climática se eles não ouvem os países mais atingidos? Continuaremos a lutar”.
Nesse sentido, um novo relatório lançado hoje pela Oxfam denuncia que, em 2030, as emissões de CO2 produzidas pelo 1% mais rico da humanidade serão 30 vezes maiores do que o sustentável para conter o aumento das temperaturas globais em 1,5 °C. As emissões do 50% mais pobre são destinadas a permanecer bem abaixo do limite de segurança. Sem uma inversão radical em menos de 10 anos, de acordo com a Oxfam, as emissões produzidas pelos 10% mais ricos podem levar o planeta a um ponto sem retorno, independentemente do que os 90% restantes da humanidade fizerem.
Desde esta noite, após as acusações de Thunberg, a pressão sobre líderes e negociadores é imensa. E amanhã haverá mais uma manifestação ambientalista com muitos mais grupos envolvidos, que poderia reunir dezenas de milhares de pessoas pelo que esta COP26, como afirma Greta, é um fracasso. Ainda assim, após os anúncios sobre desmatamento e gás metano nos últimos dias, chegaram ontem outros dois da Cop26. O primeiro, sobre a paralisação dos investimentos em combustíveis fósseis no exterior a partir de 2022, que a Itália assinou no último momento após hesitações no governo. O segundo é o carvão que, com 35% da energia mundial que fornece e sua enorme quantidade de emissões no mundo, é a principal causa das mudanças climáticas.
“Mas o fim do carvão está próximo”, exultou ontem Alok Sharma, o presidente da COP26, a crucial cúpula sobre clima que está sendo realizada em Glasgow. Isso porque agora existem 23 outros países, entre os quais Indonésia, Coreia do Sul, Vietnã, Chile, Ucrânia e Polônia (a UE agradece), que se comprometeram a renunciar ao carvão e não financiar novas usinas. Para as nações mais ricas, esses objetivos deverão ser alcançados na década de 2030 (a Itália já havia se comprometido até 2025), enquanto os países em desenvolvimento poderão levar uma década a mais.
Promessas encorajadoras, mas que obviamente terão que ser cumpridas. Por exemplo, a Indonésia é o maior exportador de carvão do mundo e esta é a fonte de 68% da produção energética nacional. Portanto, Jacarta estará entre os primeiros, junto com a África do Sul e as Filipinas, a receber parte dos 100 bilhões prometidos aos países em desenvolvimento para a transição verde. A outra dúvida, que dispara as críticas de associações como o Greenpeace, é que nesse pacto contra o carvão estão faltando os maiores responsáveis mundiais pelas emissões, China e Índia, que atualmente abrigam metade das 2.600 usinas a carvão em operação ou em construção no mundo. Os Estados Unidos também estão ausentes do pacto. Em suma, tudo isso para Greta é absolutamente insuficiente. E para o fim da COP26 agora falta apenas uma semana.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
COP26, milhares de jovens marchando com Greta Thunberg: “É claro que a cúpula é um fracasso” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU