20 Março 2020
A notícia foi recebida com incredulidade em muitos países. O Departamento de Estado dos Estados Unidos anunciou, na terça-feira, novas medidas para reforçar as sanções contra o Irã, justamente quando o país sofre um dos piores castigos pelo avanço do coronavírus. A emergência de saúde global não parece suficiente para que Washington faça uma pausa em sua tentativa de acabar com o Governo iraniano, por meio de uma guerra econômica.
A reportagem é de Iñigo Sáenz de Ugarte, publicada por El Diario, 18-03-2020. A tradução é do Cepat.
O número de mortos no Irã passou de mil, nessa quarta-feira, ao subir de 988 para 1.135, nas últimas 24 horas. O número total de infectados já é de 17.361. As autoridades agora enfrentam um novo desafio, porque nesta sexta-feira começam as comemorações do Ano Novo iraniano, que habitualmente se prolongam por duas semanas. Não param de recomendar que os cidadãos limitem ao imprescindível os deslocamentos entre cidades e nas ruas das cidades. Até agora, sem muito sucesso. “De forma desesperada, reivindico à população que fique em casa”, disse o vice-ministro da Saúde, Alireza Raisi. “Nos bazares continua havendo muita gente e as pessoas continuam viajando”.
A lentidão do Governo iraniano em reagir, a falta de recursos sanitários e econômicos e as sanções impostas pelos Estados Unidos fizeram com que os prognósticos dos especialistas sejam muito pessimistas em relação ao Irã. Uma simulação realizada em um centro científico da Universidade de Teerã forneceu uma estimativa que inclui o pior cenário possível. Nesse caso, a pandemia não alcançaria seu ponto mais alto de incidência até maio e o número de mortos poderia chegar a 3,5 milhões. A previsão otimista é que a crise atingirá o seu pico em uma semana e que causará a morte de 12.000 pessoas.
É possível que a realidade acabe em um ponto intermediário, mas tudo depende das medidas de contenção que sejam colocadas em andamento pelo Governo e de sua efetividade na sociedade. O problema está em que o Governo não está dando uma resposta unívoca em razão das diferenças entre autoridades políticas e militares. O líder religioso do país, o aiatolá Khamenei, ordenou, por decreto, que as Forças Armadas assumam o controle da situação e que a coordene com o Governo.
Os militares querem que Teerã e outras regiões do país sejam fechadas com medidas de confinamento semelhantes às da China. O presidente, Hassan Rohani, recusou porque o governo não possui meios econômicos suficientes para ajudar a população, caso não possa comparecer a seus trabalhos. Por isso, não declarou estado de emergência. O prefeito de Teerã admitiu que não estão em condições de aplicar a quarentena para toda a capital, que conta com nove milhões de habitantes.
Já há várias semanas, as autoridades suspenderam as celebrações semanais das sextas-feiras, mas não fecharam até há poucos dias os santuários religiosos que costumam receber milhares de visitantes. Inclusive, em alguns deles, grupos de fiéis protestaram contra o fechamento e desobedeceram aos agentes.
As últimas sanções estadunidenses são de menor impacto do que as aprovadas anteriormente. Contudo, confirmam que os Estados Unidos não têm a intenção de permitir que sejam suspensas para não ajudar na catástrofe humanitária que está ocorrendo no Irã. O argumento dos Estados Unidos é que as sanções não afetam os envios de materiais médicos.
Conforme explica Mehdi Hasan, as exceções não têm nenhum valor, porque bancos e empresas da Europa e Estados Unidos se negam a intervir em tratados comerciais com o Governo iraniano por medo de futuras retaliações estadunidenses. Foi o que aconteceu em 2019 com algumas empresas que enviaram material médico para o Irã. Por isso, os hospitais do país carecem de um número suficiente de máscaras, respiradores e medicamentos, ainda que tenham começado a receber suprimentos da China e de outros países.
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Estados Unidos reforçam as sanções contra o Irã, um dos países mais castigados pelo coronavírus - Instituto Humanitas Unisinos - IHU