06 Março 2020
"Tem quem diz que não faz sentido comemorar o Dia Internacional da Mulher, o que demostra uma visão reduzida, presente numa sociedade onde o patriarcalismo sempre foi um elemento dominador. Não podemos esquecer que os direitos das mulheres, em muitos países, são menores do que os dos homens", escreve Luis Miguel Modino, em editorial elaborado para a Rádio Rio Mar, da arquidiocese de Manaus.
8 de março tem se tornado uma data de luta pelo protagonismo feminino, para promover e afiançar as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres, independentemente de divisões nacionais, étnicas, linguísticas, culturais, econômicas ou políticas. A luta por direitos é uma constante na vida da sociedade, onde a gente percebe constantes avanços e retrocessos, especialmente naquilo que faz referência às mulheres.
A polêmica em volta de tudo isso sempre está presente na sociedade. Tem quem diz que não faz sentido comemorar o Dia Internacional da Mulher, o que demostra uma visão reduzida, presente numa sociedade onde o patriarcalismo sempre foi um elemento dominador. Não podemos esquecer que os direitos das mulheres, em muitos países, são menores do que os dos homens. Isso aparece inclusive nas leis, mas também na realidade social, uma situação presente também no Brasil.
A promoção da equidade de gênero e a adoção de políticas públicas que colaboraram para a redução da discriminação e das desigualdades de gênero, tem sido no Brasil uma luta da sociedade, especialmente das mulheres, que hoje é colocada em questão por algumas instituições, mostrando intolerância e rejeição aos direitos conquistados historicamente. A redução no orçamento das políticas em favor das mulheres coloca em risco nem só os direitos como a vida de muitas mulheres.
Ninguém pode negar que as mulheres entraram cada vez mais em nichos de trabalho antes considerados masculinos e as mais escolarizadas aumentaram sua participação em cargos de chefia e gerência, apesar da persistência do teto de vidro na maioria dos setores econômicos. Mesmo assim, no Brasil, as mulheres recebem um 25% a menos do que os homens desenvolvendo trabalhos semelhantes, e ainda existe certa rejeição em determinados âmbitos em referência ao papel que a mulher pode desempenhar na sociedade, também como representante do povo no legislativo, desde o Congresso Nacional às câmaras municipais. Inclusive tem quem faz divisões entre as cores apropriadas para homens e para mulheres.
A violência contra as mulheres, o femínicidio, são realidades cada vez mais presentes na sociedade brasileira. Inclusive manifestações que desrespeitam gravemente as mulheres são proferidas por aqueles que ocupam cargos de alta responsabilidade política no país, uma atitude que não ajuda a superar a discriminação feminina, sempre presente em olhares, brincadeiras e piadas de mal gosto, que são aceitas como algo normal.
A Igreja católica tem sido tachada ao longo da história como uma instituição que discrimina as mulheres. O Papa Francisco, desde o início do seu pontificado tem se manifestado em favor do reconhecimento do papel da mulher na Igreja. Voltando da Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro, em julho de 2013, insistia em avançar na explicitação do papel e carisma da mulher na Igreja, insistindo em que “não se pode entender uma Igreja sem mulheres”. Ele tem afirmado que o serviço da mulher na Igreja não pode ser confundido com servidão.
Na última assembleia sinodal, a presença feminina foi a maior na história dos sínodos. Inclusive foram as mulheres as que fizeram as propostas mais corajosas, aquelas que o Papa Francisco mais gosta. Em Querida Amazônia, ele diz que “no Sínodo, elas mesmas nos comoveram a todos com o seu testemunho”, ao tempo que denuncia as “graves violações dos direitos humanos e novas escravidões que atingem especialmente as mulheres”. A exortação destaca que “teriam caído aos pedaços muitas comunidades da Amazônia se não estivessem lá as mulheres, sustentando-as, conservando-as e cuidando delas”. O Papa Francisco pede para as mulheres “um reconhecimento público”, visando “que as mulheres tenham uma incidência real e efetiva na organização, nas decisões mais importantes e na guia das comunidades”. Na sociedade não pode ser diferente, e para isso se faz necessário o apoio de todos, também dos homens, que sem as mulheres não somos nada.
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8 de março, data para lembrar que sem as mulheres não somos nada - Instituto Humanitas Unisinos - IHU