15 Agosto 2019
Mediterrâneo. Riccardo Gatti: "Os migrantes do Open Arms agora dizem que querem voltar à Líbia e morrer imediatamente, em vez de continuarem esperando". "A situação a bordo está se tornando crítica e até mesmo a menor mudança pode criar problemas", alerta Riccardo Gatti.
O presidente da Open Arms Italy segue de Lampedusa a odisseia que é forçada a viver o navio da ONG espanhola bloqueado no mar com 151 migrantes a bordo pela proibição do ministro do Interior, Matteo Salvini, de entrar em águas territoriais italianas. Na terça-feira à noite, um psicólogo e um mediador cultural enviados pela Emergency chegaram para ajudar a tripulação. E ontem, foi solicitada permissão para evacuar uma menina de 9 meses de idade, Isa, com problemas respiratórios. "Sua situação piorou nos últimos dois dias, e com ela também desembarcariam a mãe e o irmão gêmeo, Moussa. Mas mesmo essa operação corre o risco de se tornar um problema", continua Gatti.
A reportagem é de Carlo Lania, publicada por il manifesto, 14-06-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Toda vez que alguém é evacuado entre os migrantes, surgem brigas, que são regularmente acalmadas, mas se tornam cada vez mais violentas. Temos um menino com um hematoma no olho. Eles não entendem porque não podem desembarcar." Alguns migrantes começaram a recusar alimento, uma espécie de greve de fome espontânea. "Um gesto desesperado, resultado da depressão", explica Gatti.
"Alguns deles nos disseram que prefeririam retornar à Líbia e morrer em vez de permanecerem nesse impasse, como é o caso agora". Para tornar as coisas mais complicadas, há também as previsões meteorológicas que hoje anunciam um agravamento das condições do mar com ondas de até dois metros e meio de altura. "Pedimos permissão à Itália para entrar pelo menos para nos proteger, mas nos foi negado", concluiu Gatti.
"Enquanto isso, chegamos ao décimo segundo dia sem ver uma solução possível. O que está acontecendo é vergonhoso, inclusive pela forma com que está se comportando a Europa com a Comissão Europeia, que há quatro ou cinco dias vem dizendo que espera que algum estado se apresente. Já existem nove desembarques feitos com essa mesma dinâmica: primeiro o porto é proibido, a Comissão inicia as negociações e finalmente o desembarque. Agora é uma dinâmica já conhecida.
Desta vez, porém, a Espanha está fazendo a mesma política que Salvini: como quer que também os migrantes que chegam de Ceuta e Melilha sejam distribuídos na Europa, não intervém na Comissão Europeia. Madri também rejeitou o pedido do comandante para dar acolhimento aos menores que estão a bordo. Quem disse isso foi o ministro Abalos, que tem uma maneira de raciocinar similar a Salvini. Outro dia ele nos chamou de falsos humanitários.
O ministro Salvini diz que está trabalhando para impedir que vocês ou o Ocean Viking desembarquem. Salvini sempre diz que ele está trabalhando, depois as pessoas desembarcam mesmo assim porque ele não pode evitá-lo e porque é previsto pelas normas internacionais.
No entanto, para uma parte da opinião pública, as ONG e os traficantes de seres humanos são praticamente a mesma coisa. Como você responde? É como quando eles comparam imigrantes ilegais com terroristas. Temos ouvido essas falsidades há anos. É a maneira pela qual os soberanistas fazem política, um padrão que é sempre o mesmo, independentemente de quem o usa, que pode ser Bolsonaro, Trump ou Salvini. Nós todos vemos os resultados".
"Richard Gere também percebeu isso: ele ama muito a Itália, mas disse que há dois anos algo mudou. E isso é algo que para nós, como defensores dos direitos humanos, causa revolta e tristeza porque não defendemos apenas os direitos dos migrantes, mas de todos e vemos como as pessoas são enganadas fazendo-as acreditar que, de fato, não há diferença entre ONGs e traficantes de seres humanos. Hoje eles encontraram um bote carregando dois imigrantes, um dos quais morto. O Mediterrâneo central é o mar mais militarizado do mundo e é impossível que ninguém soubesse que eles estavam lá. Mais cedo ou mais tarde, os responsáveis por esses sofrimentos serão chamados a responder pelo que fizeram".
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“A bordo a situação está cada vez mais crítica. A Europa deve se envergonhar” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU