14 Agosto 2019
A Alemanha confirma, com os números em mãos, que recorre cada vez mais a algemas, correias e fitas para imobilizar os imigrantes recusados. Nos primeiros seis meses deste ano, a polícia amarrou as mãos, às vezes até os pés, a pessoas que foram repatriadas para seus países de origem ou relocadas para outros países europeus por 1.289 vezes. Tanto quanto em todo o ano de 2018, dez vezes mais do que no ano dos refugiados 2015, quando cerca de 850 mil requerentes de asilo chegaram à Alemanha principalmente das zonas de guerra do Oriente Médio.
A reportagem é de Tonia Mastrobuoni, publicada por La Repubblica, 13-08-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
A confirmação do aumento da violência contra os migrantes a serem repatriados, fato que o La Repubblica foi o primeiro a noticiar, é substanciada pelos números fornecidos pelo Ministério do Interior alemão à parlamentar de Linke Ursula Jepke, que pediu explicação por conta de um inquérito no Bundestag. A maioria dos migrantes expulsos com algemas ou outros meios de coerção vêm da Argélia, Marrocos, Nigéria e Gâmbia.
O ministério liderado por Horst Seehofer justifica o vertiginoso aumento no uso de correias ou algemas com o fato de que "aumentou o número de pessoas que resistem às rejeições". Em uma pergunta de nosso jornal, o ministério já havia respondido há algumas semanas que considerava legítimo o fato de amarrar os migrantes (especificamente os refugiados “dublinantes” (a serem mandados de volta à Itália, primeiro país de chegada à Europa, ndt). Mas a parlamentar Jelpke considera "inaceitável que o desespero dessas pessoas seja quebrado de forma cada vez mais implacável com a violência, para mandá-las de volta contra sua vontade para lugares terríveis".
O Ministério do Interior também admitiu que entre janeiro e final de junho várias expulsões falharam especialmente durante a fase em que os migrantes foram acompanhados pela polícia até os aviões. Em 869 casos devido a "ações de resistência", outras 79 vezes por "razões médicas". Mas, em 20 casos, migrantes ou requerentes de asilo tentaram cometer suicídio ou se autoinfligiram ferimentos, para não embarcar nos aviões.
Além disso, a Alemanha também admite ter retomado o uso de voos charter de repatriação. A uma pergunta do nosso jornal, os homens de Horst Seehofer haviam admitido ter usado aviões exclusivos para as rejeições, inclusive para as viagens para a Itália até o final de 2018, mas não mais desde então. E haviam acrescentado que queriam retomar até mesmo aquelas viagens especiais, consideradas "mais eficientes" e menos caras do que as rejeições individuais em aviões de passageiros. No entanto, no que diz respeito aos custos, o Ministério do Interior responde a Jelpke que gastou a soma de 380 mil euros para um voo fretado em 13 de junho que repatriou 34 migrantes para o Paquistão, escoltados por 75 policiais.
Aumentam, no entanto, também os migrantes que saem voluntariamente da Alemanha: entre janeiro e o final de junho, 14.500 partiram. Mas naquela data as pessoas que o Ministério do Interior condenou ao repatriamento imediato somavam quase quatro vezes mais, 55.620.
Dois meses atrás, o Bundestag aprovou um endurecimento em relação aos refugiados, o que prolonga o tempo de permanência nos "centros de ancoragem", permite que eles fiquem retidos mesmo em prisões normais na véspera da data de repatriação, cancela a ajuda aos solicitantes “dublinantes” e torna mais rigorosas as regras para aqueles que falsificam documentos de identidade. Um pacote proposto especificamente por Seehofer, rebatizado pela Ong como Pro Asyl "Lei Caia Fora".
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Alemanha, repatriados com violência 1.289 imigrantes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU