24 Outubro 2018
Estou aqui em Roma cobrindo o Sínodo da Juventude há cerca de duas semanas. Tenho algumas confissões para fazer.
A reportagem é de Francis DeBernardo, publicada por New Ways Ministry, 23-10-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Minha primeira confissão é que, embora eu tenha tentado levantar o tópico das questões LGBT nas coletivas de imprensa aqui, tenho que reconhecer que tais questões não parecem ser um dos tópicos principais do sínodo. Fiquei surpreso ao perceber isso, porque sei que para muitos jovens em todo o mundo a igualdade LGBT é uma de suas grandes preocupações. E a lista de bispos delegados incluiu vários bispos com fortes opiniões sobre as questões LGBT, muitos deles com pontos de vista positivos.
Mas, ao contrário do Sínodo sobre a Família de três anos atrás (que, para fazer outra confissão, é o único outro sínodo em que já estive), a discussão neste sínodo parece ser sobre questões amplas, gerais, não problemas específicos. No Sínodo da Família em 2015, a conversa foi dominada por questões particulares: comunhão para os divorciados/recasados, coabitação, famílias LGBT, contracepção e assim por diante. Aqui no Sínodo da Juventude, a discussão centrou-se em temas como escutar, o acompanhamento, o discernimento e a vocação.
Acho que eu não deveria ter ficado surpreso, já que o título formal do Sínodo é “os Jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional”. Falaremos mais sobre a estruturação desse título abaixo.
Então, se parece que os tópicos LGBT são importantes no sínodo, pode ser pelo fato de ser especificamente sobre isso que estou reportando. Outras questões particulares surgiram além dos tópicos mais amplos e mais abstratos que mencionei acima. Como este é um sínodo global, a migração está recebendo muita discussão. Os bispos de países do mundo em desenvolvimento estão, com razão, preocupados com o fato de que muitos de seus jovens deixam suas terras natais por oportunidades de educação e emprego.
A influência das mídias digitais e sociais, tanto positiva quanto negativamente, também é um foco primário aqui. Os delegados do Sínodo estão muito focados em como os líderes e ministros da Igreja podem usar efetivamente a mídia eletrônica para influenciar o desenvolvimento da fé dos jovens. Como a mídia digital é onipresente nas vidas das gerações mais jovens, esse é um foco importante para a discussão.
Os repórteres só ouvem falar sobre o que é trazido na própria reunião sinodal (não é permitida a imprensa durante as sessões) se alguém menciona isso em uma coletiva de imprensa, ou dos pouquíssimos textos de discursos dos participantes do Sínodo que são divulgados à imprensa. Por exemplo, hoje Anastasia Indrawan, uma jovem auditora da Indonésia, divulgou o texto de seu discurso e mencionou que os jovens católicos indonésios querem “abraçar aqueles que estão na pobreza e que são marginalizados, como pais adolescentes, a comunidade com HIV/Aids, e os LGBT. Eles são tão humanos quanto todos nós”.
Agora, quanto ao título do sínodo, obviamente foi uma escolha deliberada de foco pelos organizadores do sínodo. No entanto, o foco em grandes questões do título parece ter afastado a discussão da sexualidade ou de outros tópicos tangíveis e concretos (a migração e a mídia digital são as exceções).
Essa omissão pode ser uma coisa boa, porque não acho que este sínodo seria capaz de dizer algo positivo sobre sexualidade, particularmente em questões LGBT. Quaisquer referências a questões LGBT têm sido menores, vigiadas e restritas: “Damos as boas-vindas a todos, mas em relação ao sexo...” Eu não esperaria que este sínodo fizesse qualquer declaração em relação à mudança do ensinamento da Igreja sobre as questões LGBT. Esse não é o seu foco. E, pelo que posso discernir, as opiniões sobre esse assunto provavelmente seriam mais inclinadas a serem conservadoras do que progressistas. Mas seria legal e poderia ser possível para o sínodo fazer algum tipo de declaração afirmativa não-condicionada sobre as pessoas LGBT e as preocupações dos jovens sobre a igualdade.
Minha segunda confissão é que, embora a minha reportagem tenha sido geralmente sobre os LGBT e alguns dos outros tópicos, este Sínodo parece ser muito mais sobre processos do que sobre tópicos. O que quero dizer é que parece que a experiência sinodal está ajudando pelo menos alguns dos delegados bispos a perceberem o quanto eles precisam ouvir os jovens - e os outros - na Igreja para que eles lhes contem sobre o mundo moderno. Se essa meta for alcançada, ela pode ter um grande impacto sobre o funcionamento da nossa Igreja: uma Igreja que escuta.
Na Episcopalis Communio, um documento sobre a instituição do sínodo que o Papa Francisco divulgou algumas semanas antes que o encontro fosse aberto, o Papa expressou sua esperança por exatamente esse tipo de Igreja:
“Da mesma forma, o Sínodo dos Bispos deve tornar-se cada vez mais um instrumento privilegiado para escutar o povo de Deus: ‘Para os padres sinodais pedimos ao Espírito Santo antes de tudo o dom de escutar: escutar Deus, para que com ele possamos ouvir o clamor do povo; escutar o povo até respirar o desejo ao qual Deus nos chama’” [23].
Embora estruturalmente seja essencialmente configurado como um corpo episcopal, isso não significa que o Sínodo exista separadamente do resto dos fiéis. Pelo contrário, é um instrumento adequado para dar voz a todo o povo de Deus, especificamente através dos bispos, estabelecidos por Deus como “autênticos guardiões, intérpretes e testemunhas da fé de toda a Igreja” [24], demonstrando, de uma assembleia para outra, que é uma expressão eloquente da ‘sinodalidade’ como um “elemento constitutivo da Igreja” [25].
Na coletiva de imprensa de segunda-feira, o bispo Frank Caggiano de Bridgeport, Connecticut, nos EUA, disse que ele (e outros bispos participantes) gostariam de ver o processo de sinodalidade ter o seu lugar em todos os níveis da Igreja - nações, dioceses, paróquias. Caberá aos bispos que participaram deste sínodo em particular, disse ele, levar essa metodologia para casa e colocá-la em prática.
Seguindo a linha do processo, este sínodo parece estar dando grandes passos no sentido de pelo menos algum progresso substancial em permitir às mulheres maior participação. Vários bispos parecem ter reconhecido o fiasco em que estão neste momento, já que dois irmãos religiosos não-ordenados receberam a autoridade para votar, mas as irmãs religiosas não obtiveram a concessão desse privilégio. Essa omissão injusta levou pelo menos um bispo a pedir um sínodo sobre as mulheres na Igreja. Uma boa ideia, mas tal encontro estará condenado se os homens forem os participantes predominantes. Um passo menor e mais realista foi proposto pela União dos Superiores Gerais (homens) e pela União Internacional das Superioras Gerais (mulheres). O National Catholic Reporter afirmou que os dois grupos estão preparando uma proposta para o Papa Francisco de permitir que as mulheres tenham um papel maior nos futuros sínodos.
Minha terceira confissão é que, enquanto eu tento acompanhar tudo o que acontece aqui no Sínodo, especialmente em relação às questões LGBT, devo admitir que às vezes estou um ou dois dias atrasado em noticiar as informações. Há tantas novidades e comentários para acompanhar - e em muitos idiomas! Estou fazendo o melhor possível para escrever para vocês o mais rápido possível, e prometo esclarecer tudo até o final do sínodo em 28 de outubro. (Pode haver duas postagens por dia.)
Um corolário dessa terceira confissão é que, como a cobertura do sínodo foi uma maratona, o tive que adiar outras notícias e opiniões católicas LGBT. Estamos tentando cobrir apenas as histórias mais importantes. Retornaremos à nossa cobertura diária regular assim que o sínodo e suas repercussões terminarem.
Minha última confissão: é realmente incrível estar trabalhando no Vaticano todos os dias!
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Confissões de um repórter no Sínodo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU