29 Junho 2015
Uma ampla entrevista com o arcebispo de Chieti-Vasto, Itália, reconfirmado como secretário especial também para o Sínodo de 2015. Um Instrumentum laboris enriquecido com novos temas pertinentes à vida em família. Para os divorciados em segunda união, é importante a sua integração na vida eclesial, o que não significa necessariamente o acesso à comunhão eucarística.
A reportagem é de Giuseppe Rusconi, publicada no sítio Rosso Porpora, 25-06-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis-nos na casa das Irmãs de Maria Bambina – a pouco mais de uma hora da conclusão da coletiva de imprensa em que foi apresentado o Instrumentum laboris do Sínodo de 2015 – com um dos seus protagonistas: o arcebispo Bruno Forte. Reconfirmado secretário especial para a assembleia dos bispos de outubro – depois da experiência não desprovida de momentos de tensão durante o Sínodo de 2014 –, o prelado napolitano de 65 anos (consagrado bispo pelo cardeal Ratzinger, enquanto na sua entrada em Chieti estava presente o cardeal Martini) está bem disposto para responder às nossas perguntas sobre alguns dos conteúdos mais interessantes do documento fundamental de trabalho descrito na Sala de Imprensa junto com os cardeais Lorenzo Baldisseri e Peter Erdö.
Um esclarecimento ainda mais necessário por causa dos primeiros títulos dos meios de comunicação sobre o Instrumentum, que falam de "abertura" do Sínodo a gays e divorciados em segunda união. O Avvenire logo insistiu na "misericórdia e perdão" (e onde escondeu a verdade?). Pior de todos, infelizmente, foi o título da agência nacional italiana Ansa: "Sínodo quer abrir a divorciados recasados, projetos para famílias homossexuais". Além da inconstitucionalidade daquele "famílias", uma superficialidade de leitura? Vontade de sensacionalismo? Má-fé?
O fato é que títulos desse tipo induzem a opinião pública – geralmente mal-informada – a pensar o falso. Um exemplo que é mais do que suficiente: no bar, ontem de manhã, uma senhora católica praticante nos puxa para o lado e nos diz, confusa e desconsolada: "Mas o que o papa está fazendo com os divorciados recasados e os homossexuais?".
Eis a entrevista.
Dom Forte, em previsão do primeiro Sínodo sobre a família de outubro 2014, foi enviado para as dioceses do mundo um questionário com 38 perguntas sobre as questões pastorais pertinentes ao assunto: a participação das associações e indivíduos foi muito consistente. Para o Sínodo de outubro próximo, também foi enviado um questionário com 46 perguntas que aprofundavam o debate do Sínodo de 2014. Qual foi, nesta ocasião, a participação do mundo católico? Na Alemanha e na Suíça, em geral, registrou-se uma forte queda no número das respostas...
Eu sei que, desta vez, 99 Conferências Episcopais de um total de 114 responderam, um bom resultado; cerca de 360 foram as observações de dioceses, grupos, famílias, dirigidas diretamente à secretaria do Sínodo. Eu acho que, globalmente, registramos novamente um dado muito positivo de interesse do tema para o mundo católico.
Qual é o principal objetivo desse segundo Sínodo sobre a família?
Anunciar o Evangelho da família. A família, em muitas partes da terra, parece estar em crise, e já se preferem as uniões de fato, a coabitação à vida familiar, que, ao contrário, tem um extraordinário valor para a pessoa humana, assim como para a sociedade e para a Igreja: é ventre de humanidade, de socialidade, de eclesialidade e de fé. Entre os jovens de todo o mundo, como surge das respostas recebidas, há um desejo, uma nostalgia de família, que, paradoxalmente, contrasta com a escolha por parte de muitos da coabitação. Nós devemos valorizar esse desejo, anunciando a beleza da família natural, fundada na união de um homem e de uma mulher, aberta à procriação.
Em relação ao Instrumentum laboris (o documento de trabalho) do Sínodo do ano passado e também em relação ao Relatório Final desse Sínodo, o Instrumentum laboris deste ano parece considerar com mais amplitude diversos aspectos da vida familiar anteriormente apenas referidos, se não até ignorados...
Especialmente na primeira parte do Instrumentum, foi introduzida ou ampliada a abordagem de temas como, por exemplo, o luto em família, a viuvez, a deficiência, a oração em família, a dimensão missionária, o medo de se casar, a misericórdia, também a liturgia nupcial. Isso confirma a colegialidade que se levou muito em conta ao redigir o documento, enriquecido, portanto, por tantas propostas provenientes de sensibilidades diferentes em todo o mundo católico.
Nesse Instrumentum – como já no ano passado e no Relatório final do primeiro Sínodo, em conformidade com uma atitude nada nova na história da Igreja –, também se evidencia a necessidade de acolher plenamente na comunidade eclesial aquelas famílias e aqueles fiéis que se encontram em situação irregular sob o aspecto canônico. Como se pode concretizar a "acolhida" que – no que diz respeito ao primeiro Sínodo e ao período intersinodal – foi interpretada por muitos meios de comunicação como um simples "sim ou não" à comunhão para os divorciados em segunda união?
Essa é uma interpretação muito redutiva. Parece-nos mais importante a capacidade de integrar na comunidade eclesial quem é frágil, por estar ferido por experiências dolorosas. Quem está em tal situação deve se sentir bem acolhido na Igreja, sentir o abraço, o acompanhamento da misericórdia de um Deus que os ama. É uma atitude pastoral que leva quem está envolvido a se sentir não objeto, mas sujeito na vida eclesial.
Como pode se traduzir na cotidianidade esse ser "sujeitos" e não "objetos" na vida eclesial?
Algumas limitações prescritas hoje pelo Direito Canônico poderiam ser superadas...
Dê-nos um exemplo...
Por que um divorciado recasado não pode ser padrinho? Poderíamos imaginar que, justamente por ser divorciado recasado fiel e envolvido em um processo de reflexão e de penitência, ele dá um testemunho também dos próprios erros, convidando a viver com fidelidade o sacramento do matrimônio.
A integração do divorciado recasado na comunidade implica necessariamente a possibilidade da Comunhão eucarística?
Não, porque é possível ser partícipe da vida comunitária, até mesmo da Liturgia Eucarística, em um espírito penitencial, mesmo sem ter acesso à Comunhão, quando não existem as condições para poder fazê-la. Naturalmente, o discernimento de tais condições não deve ser considerado apenas à luz de uma norma abstrata, mas deve ser avaliado – com a orientação espiritual de um presbítero – caso a caso, para que as pessoas possam ser ajudadas a amadurecer a consciência da própria verdade diante de Deus.
Passemos para outro assunto que teve grande evidência na mídia durante o primeiro Sínodo (embora muito escassa na realidade das intervenções dos padres sinodais), isto é, a questão da atenção às pessoas homossexuais fiéis. No Instrumentum laboris para outubro, não há novidades em relação ao Relatório final de outubro passado, embora, mais uma vez, certas manchetes de agência forcem a realidade do texto falando de "abertura" para as "famílias homossexuais"...
Na realidade, trata-se de acolhida e de acompanhamento às famílias em que vivem pessoas homossexuais e às próprias pessoas. Aqui também se trata de ter o respeito devido à pessoa humana, como filha e imagem de Deus, qualquer que seja a sua orientação sexual. Deve haver espaço na Igreja para experimentar o processo de renovação empreendido por essas pessoas.
O acompanhamento também inclui o anúncio da doutrina social da Igreja sobre o tema?
É evidente. A Igreja não pode desistir a anunciar a verdade em que acredita. Ela simplesmente considera que o anúncio da verdade é inseparável da atitude de misericórdia para com as pessoas. O reconhecimento de "casamentos gays" é uma coisa totalmente diferente.
No parágrafo 45 do Instrumentum laboris, no capítulo sobre "União e fecundidade dos cônjuges", afirma-se: "Alguns evidenciam que, no desígnio criador, está inscrita a complementaridade do caráter unitivo do matrimônio com o procriativo: o unitivo, fruto de um livre consentimento consciente e meditado, predispõe à implementação do procriador". Por que só "alguns"?
"Alguns" se refere ao fato de que, sobre esse ponto, algumas Conferências Episcopais e algumas "observações" insistiram muito em tal complementaridade, mais do que outros. É uma acentuação de um ponto importante da doutrina da Igreja, sobre o qual, porém, não reina um consenso universal.
Em diversos pontos do Instrumentum, associa-se o casamento civil à coabitação ("pessoas unidas civilmente ou coabitantes"). Mas, entre as duas situações, há uma diferença não pequena...
Sim, o casamento civil é uma expressão de um compromisso público perante comunidade, ao contrário da coabitação, embora não realize plenamente as características matrimônio-sacramento.
No ponto 83, afirma-se: "A partir da constatação da pluralidade religiosa e cultural, espera-se que o Sínodo guarde e valorize a imagem de 'sinfonia das diferenças'". O que se entende por essa expressão?
Não somos todos iguais, e cada um de nós tem características próprias a explicitar. Na Igreja, deve haver espaço para as diferenças. Por exemplo, um divorciado recasado deve se sentir amado e acolhido, mesmo que tenha condições diferentes em relação àqueles que vivem uma situação matrimonial regular. Assim também para um homossexual, que tem uma inclinação cujo exercício não é considerado justo, aceitável por parte da moral católica.
A propósito do direito-dever da educação dos filhos por parte dos progenitores, no parágrafo 86, lemos: "É assinalada em alguns países a presença de projetos formativos impostos pela autoridade pública, que apresentam conteúdos em contraste com a visão propriamente humana e cristã: em relação a eles, deve-se afirmar com decisão o direito à objeção de consciência por parte dos educadores". E, mais adiante, no parágrafo 144: "Requer-se que a Igreja encoraje e apoie as famílias na sua obra de participação vigilante e responsável em relação aos programas escolares e educativos que dizem respeito aos seus filhos". Uma ênfase de forte atualidade social...
Demos um exemplo muito atual: prevê-se que, em alguns países, a ideologia de gênero deve ser ensinada como uma espécie de disciplina comum a todos. Isso não está certo, não é justo, porque aquilo que é comum a todos, inscrito na carne da pessoa, é que a união conjugal é entre homem e mulher, aberta à procriação dos filhos. Em relação a quem quisesse impor uma concepção diferente, há o direito-dever de objeção de consciência.
A esse propósito, no sábado, 20 de junho, a Praça de São João de Latrão acolheu uma grande manifestação de centenas de milhares de pessoas (em grande parte católicos) pela família homem-mulher-filhos e contra a imposição da ideologia de gênero nas escolas. Como você avalia essa manifestação?
Eu tive uma impressão muito positiva por dois motivos. O primeiro é que foram os leigos que a organizaram, demonstrando grande maturidade: é muito bom que sejam eles, que têm uma experiência direta da vida familiar, que testemunhem a beleza e a verdade de tal situação. Segundo motivo: a manifestação quis valorizar a experiência da família, fundamental para a sociedade como escola de humanidade. Não se contrapôs a ninguém, ninguém quis impor uma ideologia: ao contrário, quis-se dizer "não" a uma ideologia, a de gênero, que alguns gostariam de impor a todos.
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Instrumentum Laboris: "sujeitos" e não "objetos" na vida eclesial. Entrevista com Bruno Forte - Instituto Humanitas Unisinos - IHU