05 Outubro 2018
Não é uma obviedade e nem retórica observar que é o concílio o pano de fundo do sínodo sobre os jovens, aberto por uma missa no adro da praça de São Pedro e por uma intervenção do Papa. Por duas vezes Bergoglio referiu-se aos profetas da desgraça, citados por Roncalli no famoso discurso de abertura do Concílio Vaticano II, enquanto concluiu a homilia inaugural com uma longa citação da mensagem conciliar que Montini dirigiu aos jovens no dia em que, após quatro anos, se concluía a maior assembleia de bispos já convocada.
O comentário é de Giovanni Maria Vian, diretor do L'Osservatore Romano, em artigo publicado por L'Osservatore Romano, 04 a 05-10-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Existe, portanto, o desejo do Papa para estabelecer uma ligação explícita entre este Sínodo e o concílio, celebrado meio século atrás, mas que certamente não se esgotou na potencialidade de sua visão, independente da inevitável superação de alguns dos seus aspectos que caducaram por estarem relacionados ao contexto da época. "Nas atuais condições da sociedade humana, não são capazes de ver nada além de ruínas e problemas", lia em latim, João XXIII. "Eles dizem que nossos tempos, se forem comparados com séculos passados, resultam totalmente piores; e chegam ao ponto de se comportarem como se não tivessem nada a aprender com a história", continuava ele com a solidez e sutil ironia de quem realmente a havia estudado.
No final de um período irrepetível, Paulo VI quis concluir o concílio com sete mensagens. A última era endereçada aos jovens, para explicar-lhes que o Vaticano II tinha sido uma "revisão de vida", com a qual quis acender justamente para eles "uma luz, aquela que ilumina o futuro, o vosso futuro", disse Montini. Com essa mensagem o Papa entregava aos jovens um apelo apaixonado ("Sejam generosos, puros, respeitosos, sinceros. E construam com entusiasmo um mundo melhor do que o atual") que seu sucessor assumiu para si, confiando-a ao sínodo.
Como de costume, Francisco vai seguir o debate ouvindo, e justamente recomendou a escuta orientada ao discernimento, que não é uma "moda deste pontificado", mas um método baseado "na convicção de que Deus está à obra na história", observou ele. Certamente não foi um convite genérico este do Papa: "O discernimento precisa de espaços e tempo. Por isso estabeleço que durante os trabalhos, nas plenárias e nos grupos, a cada cinco intervenções se observe um momento de silêncio, cerca de três minutos, para permitir a cada um prestar atenção para as ressonâncias que as coisas ouvidas despertam em seu coração", especificou.
Uma disposição nova e eloquente, para mostrar também dessa forma que realmente a Igreja está "em dívida de escuta", como o Pontífice já havia observado com franqueza em Tallinn diante de milhares de jovens, a maioria deles não-católicos e em grande parte distantes de qualquer crença. Porque se não forem ouvidos seriamente os jovens, os laicos, especialmente as mulheres, que são a grande maioria nas comunidades cristãs, empenhando-se em um exercício indubitavelmente exigente, mas essencial e urgente, esta Igreja "não poderá resultar credível", repetiu o Papa. Em um momento histórico que deve ser lido sem fechar os olhos diante da realidade e sem mitigar as dificuldades, superando os temores autorreferenciais, mas, no entanto, com confiança.
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Três minutos de silêncio. O pedido do papa Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU