23 Janeiro 2015
Quase no limiar entre 2014 e 2015, lemos um prenúncio irônico e catastrofista: "Por algumas hóstias aos divorciados, a Igreja alemã beira o cisma". Assim dizia o jornal Il Foglio no dia 31 de dezembro passado. Uma severa contrariedade a toda essa Igreja, o adversário de sempre para alguns "círculos" da Cúria, que nunca suportaram os "ultramontanos": assim os indicavam, nos anos anteriores ao Vaticano II, e também durante os trabalhos conciliares. Em primeiro lugar, então, Karl Rahner, mas também o jovem Ratzinger, e depois os da Nouvelle Théologie (De Lubac, Congar, Chenu) e, no topo, Suenens, Koenig, Lercaro etc. Hoje, no topo da lista está o cardeal Kasper, com todos os "kasperianos"...
A reportagem é de Gianni Gennari, teólogo e jornalista, publicada no jornal Avvenire, 22-01-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Realmente "cisma"? Sim, cisma, e pour cause: naquelas páginas eles entendem disso. Entre aqueles que inspiram a visão teológica, muitas vezes bastante singular, expressada no Il Foglio e nos imediatos arredores, muitos entendem em primeira pessoa de "cisma", verdadeiro ou rastejante.
Posicionam-se, de fato, desde sempre, em posições hiperconciliadoras ou abertamente favoráveis em relação ao único verdadeiro "cisma" que a Igreja Católica sofreu recentemente e do qual ainda sofre: o cisma provocado pela rejeição substancial do Concílio Vaticano II, iniciado já durante a sua celebração e, depois, pouco a pouco, provocado até a ruptura formal da excomunhão ao bispo Lefebvre e seus seguidores (mais ou menos conhecidos e declarados).
Um cisma dolorosamente confirmado por atos formais de Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI. De fato, apesar do misericordioso perdão deste último às excomunhões aos bispos ordenados por Lefebvre, ainda hoje a comunhão eclesial não abraça a galáxia às vezes pitoresca, às vezes ofensiva e caluniosa dos negadores do Vaticano II.
Da parte deles, hoje especialmente na internet, choveram as piores (e até infames) calúnias contra o Bem-aventurado Paulo VI, além de trovejantes acusações de "heresia" contra São João Paulo II, definido como "modernista, imanentista e panteísta" (cfr. Patrick de La Rocque: Imanência, encarnação e redenção em João Paulo II ou o modernismo de um papa).
Meio século de acusações em 360 graus contra os seis papas que indicaram no Vaticano II a estrela-guia do seu ministério petrino, no caminho da realização das suas perspectivas de fundo. Eis: aqueles que desde sempre denunciam o Vaticano II (a bibliografia de De Mattei e vários seguidores é conhecida de todos, obviamente também nas páginas onde De Mattei escreve e onde, agora, geram manchetes escandalizadas) estão do lado dos únicos e verdadeiros "cismáticos".
O principal argumento desde sempre de todos esses? O Vaticano II seria um Concílio apenas "pastoral" e não doutrinal, muito menos "dogmático". No entanto, há fortes palavras dos papas – todos de 1962 em diante – que dizem o valor e a importância do Vaticano II.
Palavras muitas vezes lembradas, parece-me, exceto uma, absolutamente surpreendente, porque, de algum modo, está na própria fonte do evento, nos lábios e nos escritos de Paulo VI, máximo guia desse Concílio. Ninguém se lembra dela nunca ou quase nunca, e vale a pena retomá-la na íntegra, até pelo fato de que não só o autor, o papa, é o máximo da competência a respeito, mas também porque ela é dirigida ao máximo da ruptura em questão, isto é, pessoalmente, a Dom Marcel Lefebvre, com um debate que tem um quê misteriosamente surpreendente.
No dia 29 de junho de 1975, com a ruptura já consumada com a Igreja Católica, Lefebvre (contradizendo todas as tentativas da Santa Sé, especialmente através da pessoa do cardeal Thiandoum, que havia sido o primeiro padre ordenado por Lefebvre quando ele era bispo na África) ordenou, pela primeira vez, novos sacerdotes.
Naquele mesmo dia, Paulo VI escreveu-lhe uma carta pessoal e quase implorando concórdia e comunhão, na qual, no entanto, encontra-se uma frase que tem um peso doutrinal quase inédito e surpreendente. Ei-la: "O Segundo Concílio Vaticano não tem menos autoridade, ao contrário, em alguns aspectos, é mais importante do que o Concílio de Niceia" (cfr. Documentation Catholique, 58 (1976), p. 34).
Conceito tão forte que o cardeal Villot, secretário de Estado, surpreendido (cfr. Yves Chiron, Paolo VI. Un Papa nella bufera, Ed. Lindau, 2014, p. 389), propôs que o papa suavizasse a frase, se não até a eliminasse, mas Paulo VI disse que não e quis que a afirmação, tão relevante justamente por causa disso, fosse mantida.
Pois bem: o Vaticano II tão importante quanto e "mais" do que Niceia, o Concílio que, no ano 325, fixou o texto do Credo, as fórmulas da fé católica. Assim, portanto, Paulo VI, em pessoa, ao autor do único cisma recente e ainda sofrido pela Igreja Católica.
Giovanni Battista Montini, um papa sempre surpreendente, mesmo nos pontos mais problemáticos, em várias frentes, da sua vida de padre, bispo, cardeal. Um papa que ainda e sempre está "diante de nós", indicando a esperança que não decepciona.
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Quando Montini disse: o Vaticano II é mais importante do que Niceia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU