04 Agosto 2018
Sabemos que os católicos sírios, mas também a Santa Sé, nos tempos da geopolítica Wojtyla-Sodano, sempre tiveram um “ponto fraco” pelo ditador sírio Bashar Hafiz al-Assad, nascido em 11 de setembro de 1965 e presidente da Síria há mais de 18 anos, cargo que ele herdou do pai, Hafiz al-Assad, em 2000.
A reportagem é de Luis Badilla, publicada por Il Sismografo, 03-08-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Esse “ponto fraco”, que nunca desapareceu, por assim dizer, nem mesmo nesses cinco anos de guerra, tem uma explicação muito concreta, pelo menos é o que se repete por toda a parte: Assad sempre protegeu os cristãos, mesmo que fosse uma minoria, e raramente agiu contra as igrejas e os fiéis cristãos dos diversos ritos presentes no país.
Esse sentimento de reconhecimento para com o ditador tornou-se ainda mais intenso e talvez desesperadamente mais necessário com o aparecimento do ISIS-Daesh, que, como se sabe, é um conjunto de pessoas e grupos terroristas ferozes e impiedosos, e contrários a todas as fés religiosas, incluindo o Islã, no qual, teoricamente, se inspira.
Em junho de 2012, o Pe. Antonio Zani disse à revista Tempi.it: “Na Síria, os cristãos tinham uma grande liberdade sob o regime de Assad. Por exemplo, em Aleppo, durante o Corpus Christi, os católicos podiam fazer as procissões pelas ruas da cidade. A ditadura facilitava para os cristãos, as paróquias não pagavam a energia elétrica. Obviamente, há um do ut des. No fim das missas, o pároco sempre pedia para rezar pelo presidente Assad”.
Encontrar um bispo ou um sacerdote na Síria que fale mal do regime é muito difícil. E há motivo: “Se Assad cair, quem vai tomar o seu lugar?”, continua Zani. “Muito provavelmente os sunitas, e aí você acha que os cristãos ainda poderão fazer as procissões pelas ruas? Eu realmente acho que não. É preciso pensar nessas coisas e levá-las em conta quando se julga. A liberdade religiosa acabará, e os cristãos estarão em perigo. A situação da Síria, além disso, não é tão diferente da Tunísia, Líbia e Egito. E todos vemos o que está acontecendo nesses países: a segurança não existe, não há mais uma ordem constituída. Na Síria também os sequestros já estão na ordem do dia.”
O Pe. Zani continua: “Houve alguém que levantou a voz em defesa do povo: o padre Paolo Dall’Oglio, jesuíta, ordenado pela Igreja sito-católica e expulso do país no domingo passado (17 de junho de 2012). Eu o conheço bem, é meu amigo. A expulsão foi-lhe formalmente notificada pelo patriarca da sua Igreja, mas obviamente foi ordenada pelo governo. Porém, é indicativo que o patriarca o tenha notificado, porque se entendem bem as relações muito delicadas entre o governo e a Igreja. Mas, mais uma vez, não podemos nos escandalizar. O próprio Dall’Oglio sempre foi pró-árabe, grande crítico de Israel e, como observavam os meus companheiros, para ir ao seu mosteiro de Deir Mar Musa no deserto, grande centro inter-religioso, uma joia, há uma estrada asfaltada. E não pensemos que as estradas asfaltadas na Síria estão por toda parte. Quem a construiu para ele?”.
Mas depois – reflete o Pe. Zani – Dall’Oglio se inclinou pela defesa do povo sírio e foi expulso. “Encontrei-me no Líbano com muitos refugiados da Síria, e eles me falaram da incrível crueldade e dureza com que o regime está massacrando as crianças ou cortando a energia elétrica durante 23 horas por dia em cidades inteiras. De modo indiscriminado, afetando, por exemplo, até mesmo os hospitais. Se Dall’Oglio começou a dizer essas coisas, não me surpreende que ele tenha sido expulso do país. É desde março de 2011 que a Igreja na Síria está sob forte pressão.”
O Pe. Dall’Oglio, após essa expulsão, retornou “ilegalmente” à Síria, em Raqqa, por duas vezes até 29 de julho de 2013, quando desapareceu no nada até hoje.
O próprio Pe. Dall’Oglio, a Alberto Bobbio, na revista Famiglia Cristiana de 26 de junho de 2013, relatou: “A questão da solidariedade de muitos cristãos com o regime em nome de uma certa associação de minorias contra as reivindicações da maioria sunita é bem conhecida. Mas nunca faltaram os cristãos que consideraram essa atitude como suicida em longo prazo. A ditadura laica nasce, no fundo, como desconfiança na população islâmica. Em suma, a questão não é a da forma do Estado, mas sim a de saber qual é o Estado que mais nega o desejo de emancipação dos muçulmanos. Na minha opinião, essas atitudes têm pouco a ver com o Evangelho. Muitos cristãos orientais pensam como eu e não escondem isso. Alguns desapareceram nas prisões de Assad por causa disso”.
Assad não tinha nenhuma simpatia pelo Pe. Paolo Dall’Oglio, que ele considerava como um “anti-Síria profissional e um padre a serviço dos terroristas”, como ele disse a alguns diplomatas ocidentais no início do desaparecimento do jesuíta italiano, há cinco anos.
Em todo esse caso complexo e doloroso, há uma parte sombria, um buraco negro, que nunca encontrou nenhuma resposta, mas, com o passar dos anos, alguns esclarecimentos precisos são cada vez mais urgentes.
Sobre essa questão, dois ex-diplomatas sírios, hoje no exílio, há alguns dias, em uma cidade do norte da Itália, levantaram algumas perguntas, ressaltando que talvez possam levar à verdade:
- O que o presidente Assad, os seus generais e os seus serviços secretos sabem sobre o Pe. Paolo Dall’Oglio?
- O que foi perguntado, como e quando, sobre o Pe. Dall’Oglio ao presidente Assad por parte da Santa Sé, do núncio Zenari e das diplomacias ocidentais, mas não só?
- Quais foram as respostas de Assad?
- Foram respostas claras e convincentes?
- Ele esclareceu as zonas de sombra sobre a relação entre os seus serviços secretos e as perseguições contra o Pe. Paolo Dall’Oglio?
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Perguntas ao ditador sírio Assad sobre o padre Paolo Dall'Oglio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU