13 Fevereiro 2012
Uma guerra em grande escala, com um fundo confessional, que pode envolver o Iraque e o Líbano é o cenário imaginado para a Síria pelo padre Paolo Dall'Oglio, jesuíta italiano presente no país há mais de 30 anos e que lança um apelo ao Vaticano para que realize um gesto no âmbito do "esforço de mediação pela reconciliação e a justiça".
A reportagem é do sítio Vatican Insider, 06-02-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Enquanto, de Homs, vêm notícias de outros massacres durante um grande bombardeio de artilharia realizado à noite pelas tropas do governo, o padre Paolo afirma que o país está "bloqueado em dois impasses". O primeiro é político e está na base do segundo, o militar: "O território já é controlado por grupos armados. Para resolver o impasse militar, é preciso enfrentar o político", defende o jesuíta, sobre quem pesa há semanas um decreto de expulsão emitido pelas autoridades locais, depois suspenso também por causa de uma grande mobilização popular.
Para o padre Paolo, "é preciso apresentar propostas não violentas com relação ao tema da segurança das populações. Só assim se reabsorve parte do discurso do poder constituído em Damasco e se abre, assim, um caminho para uma negociação eficaz". O monge italiano propõe, na prática, que se faça chegar na Síria "milhares, dezenas de milhares de acompanhadores da sociedade civil global, cuja presença permitiria, por exemplo, que as pessoas em perigo sejam acompanhado em segurança, que se separem os bairros em luta entre si, que se permita a incolumidade para quem se manifesta de forma pacífica. Isso facilitaria o início de um verdadeiro diálogo nacional".
Paralelamente, o jesuíta invoca a intervenção direta do Vaticano: "A Santa Sé deve lançar uma missão diplomática exploratória não só para a Síria, ouvindo as autoridades civis e religiosas cristãs, mas também para Moscou, encontrando-se com as autoridades civis e religiosas".
O padre Dall'Oglio acrescenta que "o gesto da diplomacia vaticana" deveria envolver o Teerã, Cairo (Liga Árabe) e Ankara, todas capitais envolvidas na mediação regional referente ao caso sírio. Para o padre Paolo, também é "necessário que a Santa Sé explicite a sua preocupação legítima com o destino dos cristãos na Síria, e dos católicos em particular, salientando a igual preocupação da Igreja com os direitos humanos e democráticos de todos, em uma lógica de construção de uma nova base para o contrato nacional".
Para o monge, que continua atuando no antigo mosteiro de Mar Musa, no centro da Síria, "deve-se oferecer à Rússia a garantia de que as suas exigências estratégicas no Mediterrâneo serão respeitadas". Nesse sentido, a desejada mediação vaticana "também deve levar em conta os temores da comunidade cristã ortodoxa e fornecer a ela respostas culturais aos seus medos".
Os ortodoxos, lembra o padre Paolo, "são os cristãos da Síria que hoje têm mais medo, seja porque estão espalhados por todo o território nacional, seja porque estão concentrados na região costeira", dominada pelas montanhas alauítas (ramo do xiismo ao qual pertencem os clãs no poder) e, por isso, candidata a se tornar um cantão separado em um cenário em que a Síria de hoje seja dividida em base confessional.
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Síria: ''Que o Vaticano proponha uma ação diplomática'', defende jesuíta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU