30 Julho 2015
Neste dia 29 de julho completam-se dois anos. Há mais de 730 dias, o jesuíta Paolo Dall'Oglio desapareceu em Raqqa, aonde havia retornado às escondidas, apesar da expulsão do regime.
A reportagem é de Lucia Capuzzi, publicada no jornal Avvenire, 28-07-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
E, no domingo, o Papa Francisco quis recordá-lo durante o Ângelus. "Dirijo um aflito e urgente apelo pela libertação desse estimado religioso", disse o pontífice. "Não posso esquecer também os bispos ortodoxos sequestrados na Síria – acrescentou o papa – e todas as outras pessoas que, nas zonas de conflito, foram sequestradas. Espero o renovado compromisso das competentes autoridades locais e internacionais, para que a esses irmãos seja em breve restituída a liberdade. Com afeto e participação nos seus sofrimentos, queremos recordá-los na oração."
Palavras acolhidas com profunda gratidão pelos familiares dos religiosos, há mais de 30 anos comprometido com o diálogo entre cristianismo e Islã.
"Em nome da nossa família, desejo expressar toda a nossa gratidão ao papa pelo apelo que dirigiu no Ângelus pela libertação do nosso irmão Paolo", disse à Rádio Vaticano Francesca Dall'Oglio, irmã do jesuíta. E acrescentou: "Gostaria de enfatizar que, para nós, foi fonte de grande consolação e ao mesmo tempo de emoção e de esperança".
Logo após o sequestro, no dia 31 de julho de 2013, Francisco havia manifestado a sua proximidade. Na missa celebrada com os coirmãos, por ocasião da festa de Santo Inácio de Loyola, o papa, falando sobre o compromisso dos jesuítas, tinha dirigido um pensamento a Dall'Oglio: "Penso em ti, padre Paolo".
O apelo de domingo traz novamente o caso – assim como o do Metropolita Boulos Yazigi, da Igreja Ortodoxa de Antioquia, e do Metropolita Mar Gregorios Youhanna Ibrahim, da Igreja Siro-Ortodoxa, reféns desde 2012 – à cena internacional.
Um fato importante, como demonstra a oportuna mensagem do ministro do Exterior italiano, Paolo Gentiloni, que, no Twitter, agradeceu o pontífice.
Enquanto isso, na segunda-feira, o presidente da República italiana, Sergio Mattarella, garantiu que o compromisso italiano com relação ao sacerdote "continua máximo".
Desde o início, o sequestro do padre Dall'Oglio é incomum. Até agora, nenhuma das inúmeras formações armadas sírias reivindicou o sequestro. Quem e por que capturou o "jesuíta do diálogo"?
Segundo a versão mais aceita, o religioso havia retornado para o país para mediar uma disputa. No último contato, no Facebook, no dia 27 de julho, ele dissera "ter que encerrar uma questão". Depois, o silêncio. Nunca interrompido.
Enquanto isso, circulou uma série de boatos, nunca verificados. Várias vezes, surgiu o rumor da sua morte, depois desmentida. A chama da esperança, no entanto, "continua sempre viva. Rezamos para que se possa ter alguma notícia reconfortante", disse ao canal TV2000 o núncio de Damasco, Dom Mario Zenari. "Naturalmente, quanto mais o tempo passa, mais essa pequena chama se torna sutil, mas não está absolutamente extinta".
Segundo Dom Zenari, na Síria, desapareceram mais de 20 mil pessoas, incluindo cinco sacerdotes e dois bispos. O fenômeno destaca como a crise síria já é uma guerra anárquica de todos contra todos. Em que os grupos armados se disseminam em uma miríade de bandos que se aproveitam da impunidade para acertar contas novas e velhas.
O padre Dall'Oglio havia previsto isso. Não por acaso, no livro-testemunho Collera e luce (EMI), escrito poucos meses antes de desaparecer, ele definira essa situação como "guerra insuportável", o "nosso naufrágio".
No entanto – apesar do horror – o jesuíta continuava tendo uma "fé inabalável, por estar enraizada em um futuro de decisões e não de previsões, no fato de que judeus, cristãos e muçulmanos nos amaremos e nos reconheceremos uns aos outros". Por isso, "de geração em geração, o nome da Síria será sinônimo de ressurreição".
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''De geração em geração, o nome da Síria será sinônimo de ressurreição'': o sonho do padre Dall'Oglio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU