Por: Jonas | 02 Agosto 2013
Quatro meses após o início do pontificado do papa Francisco, o cardeal alemão Walter Kasper deseja que o novo pontífice propicie uma mudança de “mentalidade” na Cúria Romana e que restabeleça a “comunicação”. Numa entrevista publicada no dia 16 de julho de 2013, no jornal italiano “Il Foglio”, o ex-presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos não esconde sua admiração pelo papa Francisco que, segundo seu parecer, acabará decepcionando tanto aos progressistas como aos conservadores.
Fonte: http://goo.gl/q4bttH |
A reportagem é publicada no sítio Religión Digital, 31-07-2013. A tradução é do Cepat.
No momento em que a Cúria Romana é uma efervescência de rumores, esperando a nomeação – provavelmente até o mês de outubro – de um novo Secretário de Estado, o cardeal Kasper afirma que não importa tanto qual é o nome do mais próximo colaborador do Papa, mas, principalmente, a mudança de “mentalidade” que precisa haver no interior da Cúria Romana. A Cúria é obrigada, manifesta, a abandonar o “poder” e a “burocracia” em favor do “serviço à Igreja universal e, é claro, às Igrejas locais”.
“Há algo que não funciona na Cúria”
O cardeal Kasper se manifesta partidário de uma “mudança em nível institucional” porque “existe algo que não funciona na Cúria”. “O título de Secretário de Estado já não tem sentido”, explica, antes de propor a criação de “um moderador”, tendo em conta a falta, até o presente, de “comunicação”.
O antigo chefe do dicastério entende que os responsáveis da Cúria “devem se encontrar muitas vezes. Pelo menos uma vez por mês. E devem ter acesso direto ao Papa, sem passar pela Secretaria de Estado que, ultimamente, funcionou como um órgão intermediário no governo da Igreja”. Além disso, o cardeal Kasper acredita que a reforma da Cúria não será feita sem “dificuldades”, nem “resistências”. No entanto, afirma que é preciso uma mudança “na mentalidade e nas estruturas”.
“Dar mais protagonismo às mulheres”
O cardeal Kasper gostaria que “na Cúria houvesse mais espaço para as mulheres”. São muitos os dicastérios que não precisam ser dirigidos por ministros ordenados, aponta, antes de manifestar seu desejo de que o papa Francisco também facilite “a transparência”. Esta última deve ser exigida das “instituições vaticanas que administram o dinheiro e os bens imóveis”, aponta seguidamente, e não apenas do Instituto para as Obras de Religião (IOR).
Nesta longa entrevista, o cardeal Walter Kasper também analisa o perfil do novo papa e assegura, entre outros pontos, que “serão muitos os decepcionados com Francisco”. “Os conservadores já estão, explica, porque não tem a marca intelectual de Bento e porque, além disso, aboliu a corte pontifícia, algo – sei disso por experiência própria – que era um anacronismo barroco”.
“Contudo, também os progressistas ficarão igualmente decepcionados”, afirma, antes de acrescentar: “se é certo que as maneiras de ser papa mudaram, não é menos certo que os conteúdos não mudarão”. E prossegue: “entre ele e Bento há uma continuidade em matéria doutrinal: não mudará o celibato dos sacerdotes e não haverá abertura em relação à ordenação das mulheres e em todas essas coisas das quais os progressistas falam”.
“Alguns o acusam de ser um showman, mas acredito que o seu testemunho é autêntico”
Em outro momento, o cardeal Kasper se refere aos fiéis “entusiasmados”, assegurando que o papa Francisco é “um verdadeiro pastor, que possui um grande encanto e uma grandiosíssima proximidade com as pessoas, além de uma linguagem direta e compreensiva”. “Alguns o acusam de ser um showman, mas acredito que o seu testemunho é autêntico: vive o que diz”, afirma seguidamente, antes de precisar que embora Bento XVI também fosse “uma pessoa simples”, no entanto, é inquestionável que estava um pouco “adaptado a certas formas que Francisco rejeita”.
Depois de seu primeiro Angelus, no dia 17 de março, o papa Francisco manifestou à multidão, reunida na Praça São Pedro, que acabava de ler uma obra do cardeal Kasper, qualificando-o como “bom teólogo”. “Não pensem que me dedico a fazer publicidade dos livros de meus cardeais”, disse o novo Papa esboçando um sorriso.
O cardeal alemão, agora enfermo, celebrou seus 80 anos no último dia 5 de março, poucos dias após a sede apostólica ficar vacante, e participou do conclave que escolheu o papa Francisco.
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“Há algo que não funciona na Cúria”, afirma o cardel Kasper - Instituto Humanitas Unisinos - IHU