Por: André | 19 Outubro 2012
"Anunciamos que a partir de agora iniciamos uma campanha de coleta de assinaturas de apoio em defesa do modelo de Igreja de San Miguel de Sucumbíos segundo o Concílio Vaticano II, seus sacerdotes incardinados, ministérios, missionários, missionárias, leigos, leigas e comunidades das quatro unidades pastorais: camponesa, indígena, urbana e afro, que serão apresentadas no dia 11 de outubro, no 50º aniversário da abertura do Concílio", informa a Carta Aberta da Igreja de San Miguel de Sucumbíos – ISAMIS, tornada pública no dia 29 de setembro de 2012, dia do padroeiro do Vicariato equatoriano. A carta foi tornada públicada e distribuída no Congresso Continental de Teologia, realizado na semana passada em São Leopoldo, RS.
Eis a carta.
Hoje, 29 de setembro de 2012, dia de São Miguel Arcângelo, padroeiro da nossa Igreja de San Miguel de Sucumbíos, compartilhamos com vocês:
Em 7 de março passado, dom Paolo Mietto assumiu como Administrador Apostólico do Vicariato de San Miguel de Sucumbíos, Equador, abrindo a esta Igreja Povo de Deus a esperança de iniciar um novo processo, animado pela proposta explícita de dom Mietto de fazer desta Igreja uma “Casa e Escola de Comunhão”.
Recordamos que no dia 30 de outubro de 2010, as autoridades eclesiásticas enviaram a Congregação Arautos do Evangelho para substituir dom Gonzalo López Marañón e “implantar de maneira diferente todo o trabalho pastoral”, rompendo assim um processo de 40 anos de Igreja Comunidade Ministerial, Missionária e Participativa, fiel a Jesus e seu Evangelho e atendendo ao convite renovador do Concílio Vaticano II, das Conferências Episcopais Latino-americanas; iniciando assim um plano sistemático de destruição da Igreja Local. Nunca imaginaram que a unidade desta Igreja Local provocaria um passo atrás na decisão da Hierarquia Eclesial, conseguindo a saída desta organização ultraconservadora. A confiança do povo continuou seriamente afetada pela indiferença e passividade do Delegado Pontifício, dom Ángel Polivio Sánchez.
Agora, depois de seis meses de presença do novo Bispo-Administrador Apostólico, o desencanto e a desilusão vão chegando às comunidades cristãs, afetando todas as instâncias da ação pastoral e cidadãos/ãs da Província. As propostas de dom Mietto ficaram somente em palavras. Ao contrário, dia após dia, suas contínuas ações e decisões vão implementando e legitimando uma Igreja paralela. Entre estas ações assinalamos a diluição do plano diocesano de pastoral, a falta de concreção de um processo de reconciliação aberto e transparente e de apoio às propostas pastorais feitas, a deslegitimação do clero diocesano incardinado, favorecendo a formação de seminaristas que foram observados, entre outras.
Denunciamos que:
– Mantém-se a intervenção – sistemática – à nossa Igreja de Sucumbíos e os acontecimentos posteriores evidenciam uma tendência a partir da Igreja institucional, para destruir o processo de Igreja Comunidade com opção pelos pobres (At 2, 42ss), o que se conseguiu em muitas dioceses da América Latina. Esta intervenção afeta não apenas a vida da nossa Igreja Local, mas todo o tecido social da nossa Província.
– Desconhecemos os motivos desta intervenção que provocou estas inexplicáveis decisões contra o Vicariato que por 40 anos contribuiu com seu trabalho de evangelização e pastoral social para o desenvolvimento e convivência pacífica, sendo uma referência de unidade provincial em Sucumbíos. É humilhante que dom Gonzalo, bispo emérito desta Igreja e cidadão equatoriano, desde a sua saída de Sucumbíos até o momento esteja impedido de voltar a Sucumbíos, assim como os padres carmelitas, por expressas disposições das autoridades eclesiásticas.
– O ataque ao clero incardinado da nossa Igreja manifesta-se de múltiplas maneiras, sem que o Administrador Apostólico se pronuncie: ameaça de morte sofrida por dois deles em 11 de julho passado; difamações e ofensas injustificadas; e o próprio dom Mietto mantém distância discriminatória dos quatro sacerdotes locais e não leva em conta suas colocações feitas a partir da sua provada trajetória comunitária, que tem a aceitação majoritária da população. Há três meses, estes quatro sacerdotes, próprios de Sucumbíos, esperam a resposta de seu bispo para saber no que podem contar com seu apoio. Ficou evidente uma situação de perseguição.
– Esta perseguição se visibilizou na acusação de perturbar a comunhão eclesial, feita por dom Mietto ao Pe. Pablo Torres, com a intenção de removê-lo de sua paróquia, sem apresentar provas nem ter demonstrado de nenhuma maneira esta acusação, impedindo-o de se defender. Isto confirma sua posição arbitrária, alheia à do Bom Pastor, desconhecendo o percurso comunitário dos 20 anos de sacerdócio do Pe. Pablo e seu apoio permanente à reconciliação neste conflito, do que dão testemunho as comunidades.
– Missionários, missionárias, religiosos, religiosas, leigas, leigos, ministérios instituídos, da Igreja de San Miguel de Sucumbíos, muitas vezes foram relegados/as em seus serviços e seus clamores e sofrimentos, causados por ações dos “sacerdotes colaboradores” não foram levados em consideração.
– Foram enviados, sem consulta, e continuam enviando e impondo “sacerdotes colaboradores” das dioceses de Guayaquil, Ibarra, Quito e Loja, sem vocação nem abertura missionária, deixando dúvidas sobre seu carisma de “Fidei donum”, e sobre seu perfil, já que não mostram nenhum interesse em conhecer a realidade, nem respeitam o processo da nossa Igreja. Pelo contrário, vêm prejudicando e com a consigna de destruir os processos locais. Até o momento, eles são: Wilson Yalamá, Ricardo Ruiz, diác. Ernesto Arosemena, Guillermo Torres, José Díaz, Pablo Silva e Luis Satián. Das mesmas atitudes participa permanentemente o Pró-vigário, Pe. Gabriel Prandi. Contudo, a Igreja Povo de Deus continua desenvolvendo o plano de pastoral de conjunto, apesar dos inconvenientes.
– Nos dois anos de intervenção, não houve a correção fraterna, quando necessário, nem nenhuma proposta pastoral concreta e séria, por parte dos administradores apostólicos, incluindo dom Mietto, exceto sua insistência na criação de paróquias territoriais em Nova Loja, o que favorece a nomeação de párocos sem vocação comunitária que não respeitaram as equipes missionárias atuais, propiciando desta maneira o rompimento do tecido eclesial. Recentemente, ele rechaçou o projeto de uma Paróquia “In Solidum” – Paróquia Solidária – sustentada à luz dos documentos eclesiais, pastoralmente, no Direito Canônico, nas necessidades de reconciliação e possibilidades da nossa realidade.
– Se está começando a legitimar uma Igreja paralela, impulsionada pelos “sacerdotes colaboradores” que fomentaram um sacramentalismo clientelar e um clericalismo que exclui um laicato ativo; algum deles apoiou ações e atitudes violentas de um pequeno grupo da população que apoia esse tipo de Igreja. Além disso, fomentaram uma fé individualista, sem compromisso social nem motivação com o bem comum, buscando seus interesses particulares. É paradoxal que inclusive não respeitam o próprio Plano Global da Igreja Equatoriana, assinado por seus próprios bispos que os enviaram.
A poucos dias de celebrar o início do Ano da Fé pelos 50 anos do Concílio Vaticano II, que recuperou o sentido da Igreja Povo de Deus, iluminados por Jesus de Nazaré, cremos que, rechaçar a luz da VERDADE é rechaçar JESUS CRISTO.
Por isso:
Exigimos no dia da nossa Igreja Local que ela seja respeitada em sua tradição, história, modelo e em seus ministérios ordenados e ministérios laicais reconhecidos. Que cesse a intervenção e a perseguição, por parte daqueles que pressionam o nosso bispo para que cumpra consignas externas.
Convidamos à conversão pastoral pedida por Aparecida (366-370), incluindo os pastores e autoridades eclesiásticas, que, fiéis ao seu ministério encomendado e a exemplo de Jesus de Nazaré, o Bom Pastor, exerçam sua autoridade, na comunidade eclesial como serviço, respeitando os leigos e leigas que, pela dignidade de nosso batismo, “...têm o direito e por vezes até o dever de exprimir sua opinião sobre as coisas que se relacionam com o bem da Igreja (LG 37).
Pedimos que se tome consciência de que dilatar o conflito trará graves consequências para a credibilidade da Igreja e mais grave que o fanatismo e o fundamentalismo religioso colocarão em perigo a paz social da região.
Alertamos o governo para vigiar o recrudescimento da violência, que caracterizou o setor fanático intolerante, sustentado por interesses externos e ao que responsabilizamos e exigimos que seja sancionado porque está criando o caos que alenta a desestabilização da província (como foi o caso no dia 11 de julho passado), com profundas consequências para a segurança do país.
Fazemos um apelo à solidariedade e pronunciamento ao Povo de Deus e às pessoas, organizações eclesiais e sociais, instituições locais, nacionais e internacionais que conhecem o caminho percorrido pela Igreja de San Miguel de Sucumbíos – ISAMIS –, onde se semeou e se segue semeando vida, apesar dos obstáculos, e que veem ameaçados os processos eclesiais e sociais em qualquer parte do mundo.
Anunciamos que a partir de agora iniciamos uma campanha de coleta de assinaturas de apoio em defesa do modelo de Igreja de San Miguel de Sucumbíos segundo o Concílio Vaticano II, seus sacerdotes incardinados, ministérios, missionários, missionárias, leigos, leigas e comunidades das quatro unidades pastorais: camponesa, indígena, urbana e afro, que serão apresentadas no dia 11 de outubro, no 50º aniversário da abertura do Concílio.
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Informações: http://isamis2012.blogspot.com/
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Intervenção no Vicariato Apostólico de San Miguel de Sucumbíos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU