21 Fevereiro 2022
O prefeito da Congregação para os Bispos abre o simpósio vaticano sobre o sacerdócio reconhecendo se sentir “desgarrado” e “humilhado” pelos abusos do clero.
A reportagem é publicada por Vida Nueva Digital, 17-02-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
“O que se pode esperar de uma ‘teologia fundamental do sacerdócio’ no atual contexto dominado pelo drama dos abusos sexuais do clero? Não deveríamos estar nos abstendo de falar do sacerdócio quando os pecados e crimes de ministros indignos ocupam as primeiras páginas da imprensa internacional por trair seu compromisso ou por encobrir vergonhosamente os culpados de tal depravação? Não deveríamos silenciar, nos arrepender e buscar as causas de tais fatos?”. Com estas três perguntas o cardeal Marc Ouellet começou seu discurso no simpósio internacional “Por uma teologia fundamental do sacerdócio”.
“Estamos todos desgarrados e humilhados por essas questões críticas, que nos desafiam diariamente como membros da Igreja de Jesus Cristo. Esta é uma oportunidade para expressar nossa sincera tristeza e pedir desculpas às vítimas, cujas vidas foram destruídas por comportamentos abusivos e criminosos, ocultados por muito tempo e tratados com leviandade, pelo desejo de proteger a instituição e os perpetradores, em vez de vítimas”, continuou o 'ministro' vaticano dos abusos sob o olhar do Papa Francisco.
Mais de 700 especialistas convocados pela Congregação para os Bispos participam deste fórum vaticano sobre vocação sacerdotal, formação de seminaristas e celibato, que se realiza na Sala Paulo VI até 19 de fevereiro. Embora as questões não incluam os abusos infantis, o prefeito não quis perder a oportunidade de se manifestar sobre o assunto em um momento em que os abusos na Igreja são protagonistas em vários países.
Segundo Ouellet, “este simpósio toma nota do clamor do Povo de Deus”. “Estamos aqui para unir nossas vozes àqueles que clamam por verdade e justiça, e elevar nossas orações ao Senhor da messe para que nos conceda a graça de responder adequadamente aos desafios colocados pela crise sacerdotal de nosso tempo”, frisou.
Por outro lado, o prefeito apontou para o clericalismo. Como sublinhou, pareceu-lhe importante organizar este simpósio “para fazer um balanço dos estudos sociológicos em curso e analisar as causas históricas, culturais e até teológicas que podem descobrir a raiz do que o Papa Francisco chama de ‘clericalismo’”. “Este termo é genérico e concreto, e descreve uma série de fenômenos: abusos de poder, abusos espirituais, abusos de consciência, dos quais o abuso sexual é apenas a ponta do iceberg, visível e perverso, emergindo de desvios mais profundos que devem ser identificados e desmascarados”, concluiu.
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“O que se pode esperar de uma ‘teologia do sacerdócio’ quando os abusos ocupam as manchetes?”, questiona o cardeal Ouellet - Instituto Humanitas Unisinos - IHU