11 Janeiro 2018
Líderes católicos denunciam a decisão do governo de Trump de encerrar o status de proteção temporária (Temporary Protected Status – TPS) para mais de 200 mil salvadorenhos que vivem nos Estados Unidos.
A reportagem é de J.D. Long-García, publicada por America, 08-01-2018. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
A secretária de Segurança Interna dos EUA Kirstjen M. Nielsen anunciou a decisão em 8 de janeiro. Os salvadorenhos terão até 09-09-2019 para retornarem a seu país.
“A decisão de encerrar o TPS para El Salvador é dolorosa”, disse em comunicado Dom Joe Vásquez, da Diocese de Austin, no Texas, e presidente da Comissão para Migração da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA. “O nosso país não deve virar as costas aos beneficiários e familiares do TPS – eles também são filhos de Deus”.
Os salvadorenhos formam o grupo com o maior número de imigrantes que receberam o status de proteção temporária, concedido pelo Departamento de Segurança Interna para que fossem aceitas aquelas pessoas cujos países sofrem com conflitos em curso, desastres ambientais ou outras condições de insegurança; a medida protege-os da deportação.
O caso dos salvadorenhos, 88% fazem são trabalhadores e pais de 192 mil crianças, cidadãs americanas, segundo dados do Centro de Estudos Migratórios (Center for Migration Studies).
“Trata-se de uma decisão míope, em que todos perdem”, afirmou à revista America Kevin Appleby, diretor de políticas migratórias internacionais do Centro de Estudos Migratórios de Nova York. Ele considerou esta decisão como uma demonstração da ideologia do governo Trump. “É mais do que uma orientação política. Trata-se de uma visão nacionalista branca. Querem criar imigrantes à sua própria imagem. Se alguém não se enquadra no perfil – seja pela raça, seja pela condição econômica –, irão tentar mandar embora. É preciso ligar os pontos”.
Ashley Feasley, diretora de política migratória e assuntos públicos da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos, disse que as famílias com crianças cidadãs americanas terão de decidir se retornam a El Salvador juntos ou se separam, com as crianças permanecendo nos EUA.
“É realmente importante que o Congresso trabalhe para corrigir esta situação, especialmente para os beneficiários a longo prazo que estão aqui há muitos anos”, disse. “Essas pessoas trouxeram muitas contribuições, possuem lares, administram negócios e são líderes em suas igrejas. São pessoas que querem continuar fazendo parte da nossa sociedade”.
Feasly encorajou os beneficiários do TPS a consultar instituições de imigração com boa reputação, como a Catholic Legal Immigration Network (CLINIC, como é conhecida em inglês) e a American Immigration Lawyers Association, para que descubram se as suas situações em particular podem ser juridicamente alteradas.
Kevin Vann, presidente do conselho da CLINIC e bispo da Diocese de Orange, na Califórnia, falou que o TPS protegeu os salvadorenhos da violência em El Salvador e lhes deu condições de começar uma vida nova.
“Pelo desejo por educação e cuidado de suas famílias, eles mostraram contribuir para o bem comum dos Estados Unidos. Em muitos lugares, eles são nossos vizinhos e amigos”, disse Vann em um comunicado. “Esta decisão infelizmente recorda o sentimento antiestrangeiro (e, por vezes, anticatólico) que tanto marcou a história do nosso país”.
Vann afirmou ainda que o governo “não conseguiu mostrar como esta decisão torna os Estados Unidos mais seguro”. Em vez de retirar a proteção dessas pessoas, “o governo deveria acolher estes membros de nossas comunidades há tempos assentados, e encontrar maneiras de lhes dar uma via permanente para a residência”.
Na nota que lançou, o Catholic Relief Services – CRS também pediu que o Congresso aja para proteger os beneficiários do TPS.
“Encerrar o TPS irá separar famílias, afetará negativamente comunidades, tanto aqui nos Estados Unidos como em El Salvador, que dependem destas pessoas como um apoio econômico. Além disso, prejudica o objetivo dos EUA em reduzir a pobreza, diminuir a migração irregular e promover a segurança cidadã na região”, lê-se no texto divulgado pela CRS. “Com base na nossa experiência de trabalho com a Igreja Católica e outros parceiros locais em El Salvador, o governo salvadorenho não possui a capacidade humanitária adequada para receber, proteger e integrar novamente, com segurança, na sociedade esta quantidade de pessoas”.
Donald Kerwin, diretor executivo do Centro de Estudos Migratórios, disse que o governo Trump alega acolher imigrantes legais ao mesmo tempo em que “continua a eviscerar programas imigratórios legais e a marginalizar famílias imigrantes”.
Kerwin observou um padrão ao longo dos últimos quatro meses: um teto recorde de reassentamento de refugiados; o desmantelamento do programa Central American Minors, que permitia que crianças refugiadas de países do Triângulo Norte se juntassem aos pais nos Estados Unidos; e o encerramento do TPS para o Haiti, a Nicarágua e o Sudão.
“Estas decisões vêm na esteira da decisão [do governo Trump] de acabar com o programa de Ação Diferida para Chegadas na Infância [Deferred Action for Childhood Arrivals – DACA], sem qualquer substituto em seu lugar, com base em preocupações exageradas e pouco características ao trabalho do Executivo”, afirmou Kerwin, acrescentando que o presidente está comprometido em reduzir a imigração com base em motivos de família bem como o programa de Vistos de Diversidade.
“Ele caracterizou estes dois programas como um perigo à segurança da nação. Ataques a programas de refugiados e migração legal se tornaram uma característica definidora deste governo”, disse. “A decisão de hoje cria muitos perdedores, e nenhum vencedor”.
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Líderes católicos pedem o fim da proteção temporária dos salvadorenhos de uma decisão “em que todos perdem” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU