12 Setembro 2025
"As comunidades imaginadas — algumas já existentes, embora em fase inicial — pelos "pós-teístas" têm pouca semelhança com paróquias e mais com centros de pesquisa espiritual; são muito menos identitárias do que as Igrejas tradicionais, em nome de uma espiritualidade não denominacional, mas plural, compatível com diferentes formas de falar sobre Deus e praticar a oração. Elas são projetadas para acolher pessoas que, de acordo com a divisão tradicional entre crentes e não crentes, se encontrariam em lados opostos: diante de um Deus/ Divinitas, de quem nada se pode saber ou dizer, exceto que Ele é espírito e relacionamento, e que informa todo ser; e diante de um Jesus que é o modelo da plena realização da centelha divina que somos. Assim, aqueles que se sentem desafiados são muito mais numerosos".
O artigo é de Beatrice Iacopini, publicado por Settimana News, 10-09-2025.
Beatrice Iacopini, professora de religião e escritora, autora do recente livro Etty Hillesum vivere e respiro con l'anima, busca esclarecer o que pode ser corretamente entendido por “pós-teísmo”.
Eis o artigo.
A corrente teológica conhecida como "pós-teísmo", ou, como alguns preferem, "transteísmo", floresceu principalmente nos círculos católicos e na língua espanhola. Há alguns anos, também vem se desenvolvendo na Itália, graças ao trabalho de teólogos como os jesuítas Paolo Gamberini, Paolo Scquizzato, Paolo Zambaldi, a biblista Annamaria Corallo e outros.
Embora seja um movimento diverso, com múltiplas sensibilidades e posicionamentos, ele compartilha algumas teses essenciais, a primeira das quais se baseia na crença de que a imagem teísta de Deus, por um lado, não é mais crível hoje e, por outro, é prejudicial ao desenvolvimento de uma espiritualidade adulta.
A representação de Deus como um Ser sobrenatural e onipotente, que cria e governa o mundo com seus desígnios misteriosos e intervenções milagrosas, pertence, argumentam os "pós-teístas", a um horizonte cultural pré-moderno e pré-científico e, por essa razão, não é mais crível ou acreditada por grandes massas de pessoas: Importante é o título de um livro de sucesso do bispo episcopal John Shelby Spong, no qual os "pós-teístas" frequentemente se inspiram.
O Deus do Teísmo
O Deus do teísmo é um Deus do qual se prega uma série de qualidades, resumidas em dogmas, e a quem se atribuem revelações e testamentos, cujos guardiões são a instituição eclesiástica: um Deus, em suma, que é objeto de uma série de crenças a serem tomadas como autoritativas, apesar da recalcitrância da inteligência.
Essa maneira de conceber o divino acabou confundindo a fé com a adesão a crenças, ou, no fundo, com uma forma de subjugação da razão, que hoje é percebida por muitos como inaceitável; além disso, é uma concepção que corre o risco de alimentar uma espiritualidade da dependência, em vez de favorecer uma espiritualidade madura e adulta.
Não é por acaso que, apesar de sua diversidade, todos os "pós-teístas" compartilham referências frequentes ao chamado "misticismo", em particular a Mestre Eckhart, que é sempre citado: e é compreensível o porquê, visto que não há autor cristão que tenha fornecido mais do que ele as ferramentas para superar a imagem teísta de Deus.
O mestre renano, de fato, distinguia entre Deus, o Deus cujos atributos são predicados, concebido como pessoal, criador e transcendente, e a Divinitas, a própria essência divina, que está além de todo conceito e de toda representação possível — por isso também chamada de "nada" —, que é impessoal, imanente e transcendente ao mesmo tempo. O primeiro é, por assim dizer, a face do divino tal como se apresenta ao homem religioso, mas na qual a jornada espiritual não se detém, pois é necessário ir além, alcançar, através do desapego total do eu, as profundezas da alma, onde se experimenta que "eu" e "Deus" são um. É precisamente essa unitas spiritus que, na opinião de Marco Vannini, desapareceria no "pós-teísmo", no qual o polo divino seria negado.
Deus e o eu: uma e a mesma coisa?
No entanto, os "pós-teístas" comumente criticam um elemento do teísmo: o dualismo, que teria o homem de um lado e Deus do outro, e, portanto, a natureza e o sobrenatural, e assim por diante. E é precisamente no misticismo que eles unanimemente identificam uma chave essencial para superá-lo, porque, diferentemente da metafísica tradicional, a experiência do espírito reconhece que existem contradições, de modo que, por exemplo, não é absurdo nem blasfemo afirmar que Deus e o eu são um.
Por esta razão, os já citados Gamberini e Scquizzato, mas também José Arregi – o maior “pós-teísta” de língua espanhola – também se inspiram na filosofia indiana do Advaita Vedanta: é um pensamento que se desenvolve sob a bandeira da “não dualidade”, que é uma forma diferente, talvez mais adequada aos ouvidos contemporâneos, de expressar a unitas spiritus.
Por exemplo, Paolo Gamberini afirma em seu Deus 2.0 (Gabrielli, 2022), após um excurso que passa pelo Advaita Vedanta, mas também por Agostinho, Eckhart, Catarina de Gênova: "Quem vê Deus não vê mais a si mesmo e a Deus como aliud, mas a si mesmo em Deus… Tudo se torna teofania e encarnação de Deus no mundo… aquele ou aquela por meio de quem Deus aparece só pode ser puro nada, puro vazio, deixar ser sem nenhuma determinação, porque somente assim aquele outro que é Deus aparece por aquilo que ele ou ela é [para ele ou ela]: non aliud".
No panenteísmo de Gamberini, que ele chamou de "monismo relativo", o dualismo Deus/homem é superado, mas sem chegar a nenhuma negação de Deus; em vez disso, é o pequeno ego humano que deve ser aniquilado no autodesapego — como ensinam os místicos — para que Deus possa brilhar.
Paolo Scquizzato, por sua vez, argumentando com Vannini que o cristianismo deve ser místico para encontrar sua própria profundidade e não ser reduzido a uma crença superficial, escreve: "A fé [para o cristão místico] é a experiência do Espírito no espírito. O crente afirma uma verdade... o místico não sabe, ele simplesmente experimenta a união, ele apenas experimenta o Espírito" (Prefácio a Aa.Vv., Oltre Dio, Gabrielli, 2021).
Finalmente, há alguns anos, José Arregi interveio para defender a si mesmo e aos demais autores de um dos primeiros volumes "pós-teístas" (em italiano, Oltre Dio. In ascolto del Mistero senza nome, Gabrielli 2021) da acusação de ateísmo feita contra eles pelo teólogo José María Castillo. Ele resumiu a posição compartilhada da seguinte forma:
Acreditamos que Deus, Mistério, Presença ou Realidade Fonte, está além da oposição expressa pelos termos "transcendente"/"imanente" e, consequentemente, além do monismo panteísta e do dualismo teísta. Por exemplo, a frase "nEle vivemos, nos movemos e existimos", que os Atos dos Apóstolos colocam na boca de Paulo no Areópago de Atenas (Atos 17,28), expressa transcendência ou imanência? Ou a afirmação de São João da Cruz de que "Deus é a substância da alma" significa transcendência ou imanência?
Uma tentativa de salvar Deus?
A-teísmo sim, portanto, no sentido de não-teísmo (ressalto que há também grupos de teólogos, por exemplo no Canadá, que chamam às suas pesquisas cristianismo não-teísta), mas certamente não ateísmo tout court: aliás, se quisermos, o "pós-teísmo" nasceu precisamente para salvar Deus do seu desaparecimento definitivo de cena!
É uma tentativa, ainda em sua infância, de reler e reafirmar o núcleo essencial do cristianismo por meio dos novos paradigmas cognitivos de hoje, para que ele não desapareça completamente, mas ressurja, talvez em uma nova forma, mas mantendo todo o seu significado, e possa assim continuar a inspirar, como tem feito por dois milênios, as mulheres e os homens do nosso tempo.
Mesmo em relação à figura de Jesus, há, sem dúvida, visões diferentes entre os "pós-teístas", mas todos, ainda assim, têm a intenção de permanecer discípulos do Evangelho. Os autores que considerei, aos quais adicionaria, por exemplo, Annamaria Corallo, não negam de forma alguma a sua divindade, mas certamente reinterpretam o princípio da encarnação para além do mito. Portanto, na visão deles, Cristo não é o Filho do Deus teísta que, em determinado momento da história, desceu entre os humanos para salvá-los com o sacrifício da cruz, mas sim aquela "pura transparência de Deus" que todo ser humano é em potencial.
Jesus é considerado divino – e não um simples profeta – no sentido, porém, de ser a realização exemplar e completa daquela unitas spiritus, que não é um evento ocorrido em um único ponto da história, mas sim um chamado universal para todo ser humano.
Parece-me que as críticas de Vannini se baseiam sobretudo numa preocupação, a relativa ao desaparecimento da religião: para ele, uma teologia como a "pós-teísta" levaria ao fim da religião, fundamento indispensável do sentido ético.
Aqui nos deparamos com duas leituras diferentes da realidade: a posição de Vannini parece semelhante à de muitos na Igreja que, para salvar o que pode ser salvo, acreditam ser melhor, por exemplo, não disseminar conhecimento bíblico ou histórico, ou não chamar a atenção para reflexões que possam escandalizar os fiéis. Mas, enquanto isso, as igrejas estão se esvaziando, e os supostamente "simples", que não deveriam se escandalizar, estão desaparecendo, e certamente não por culpa dos poucos "pós-teístas".
Uma resposta ao cristianismo tradicional
Os jovens em particular, aqueles com quem lido diariamente como professor de religião, estão cada vez menos dispostos a abraçar uma religião que, embora possa atraí-los com os valores e a comunidade compartilhada que promete, os afasta quando lhes pede que aceitem um conjunto de crenças que são inacreditáveis para eles.
O "pós-teísmo" – como eu dizia – nasceu justamente como reação ao esgotamento do cristianismo tradicional, que vem inexoravelmente perdendo terreno no Ocidente há décadas, e denuncia a demora das Igrejas em investigar as razões profundas desse fenômeno e em levá-lo a sério.
Por outro lado, cada um dos teólogos "pós-teístas" está pastoralmente engajado na busca de novas formas religiosas, na crença de que o culto, a comunidade, a oração e o relacionamento com o divino são absolutamente essenciais para a humanidade. É evidente que a oração é concebida principalmente como silêncio atento e meditação, e não como petição e diálogo. O culto busca se concentrar no louvor ao Mistério sem nome — não nos esqueçamos de que Deus é um termo simbólico, não um nome próprio, como Ele de fato se tornou — e na conexão com todas as criaturas, eliminando qualquer palavra ou símbolo que se refira ao Deus teísta, aquele que julga e intervém. Por fim, cada um deles se esforça para promover formas de celebração, estudo e oração individuais e comunitárias que utilizem uma linguagem compreensível, inclusiva e não dogmática.
Sem dúvida, as comunidades imaginadas — algumas já existentes, embora em fase inicial — pelos "pós-teístas" têm pouca semelhança com paróquias e mais com centros de pesquisa espiritual; são muito menos identitárias do que as Igrejas tradicionais, em nome de uma espiritualidade não denominacional, mas plural, compatível com diferentes formas de falar sobre Deus e praticar a oração. Elas são projetadas para acolher pessoas que, de acordo com a divisão tradicional entre crentes e não crentes, se encontrariam em lados opostos: diante de um Deus/ Divinitas, de quem nada se pode saber ou dizer, exceto que Ele é espírito e relacionamento, e que informa todo ser; e diante de um Jesus que é o modelo da plena realização da centelha divina que somos. Assim, aqueles que se sentem desafiados são muito mais numerosos.
Um Deus concebido dessa maneira certamente destrói a forte identidade do crente e da comunidade religiosa — fonte, convenhamos, de tanta violência na história —, mas também a de seu "inimigo" ateu, favorecendo um encontro no limiar do mistério, onde é possível a todos nós nos descobrirmos, de certa forma, agnósticos. A linha divisória, nesse ponto, não seria mais traçada por acreditar/não acreditar nisso ou naquilo, mas pela decisão de dar espaço e confiar, ou não, nesse Mistério.
É realmente possível imaginar comunidades compostas por "agnósticos apaixonados" (segundo a bela expressão de Santiago Villamayor, um "pós-teísta" espanhol), portadores de luz e arautos da esperança porque estão dispostos a confiar no Mistério como "bondade criadora" e a confessar — no sentido pleno do termo — que, "apesar de todos os males, tudo é ou pode ser bom, e que o Ser é ternura e cuidado" (José Arregi)? Portadores de luz e arautos da esperança porque estão comprometidos em nutrir em si o Bem, que constitui a rede em que todos estamos interligados e, com isso, o amor agápico para com cada ser humano, por mais miserável, marginalizado ou empobrecido que seja, aquele amor do qual Jesus de Nazaré foi um dia mestre?
Os "pós-teístas" apostam que sim, e seria bom se esta fosse, num futuro não muito distante, uma das possíveis cristandades.
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