17 Dezembro 2024
"Não importa o partido que esteja no governo dos EUA, se democrata ou republicano. O taxímetro da indústria bélica funciona em ambos os casos, cobrando seus dividendos da corrida militar", escreve Edelberto Behs, jornalista.
Às vésperas do Dia D, 6 de junho de 1944, quando tropas aliadas se preparavam para invadir a Normandia, na costa francesa, e quebrar a resistência nazista na área, o presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt, falou à nação encorajando soldados para esse duro embate.
Ele comentou, então, que esperava que a Alemanha não se lançasse de novo, numa única geração, à conquista do mundo, o que seria difícil e dispendioso. Declarou, a seguir: “As Nações Unidas estão determinadas a não permitir que, no futuro, raça alguma seja capaz de controlar o mundo inteiro”.
Ironia das tantas que ocorrem na história, são os Estados Unidos, hoje, que bancam o xerife do mundo. Recorrendo à Wikipedia, veremos que o “pais que mais se empenha pela democracia no mundo” envolveu-se, desde 1950, em cinco guerras – Guerra da Coreia, do Vietnã, do Golfo Pérsico, do Afeganistão e do Iraque.
Mas foi muito maior o envolvimento, sub-reptício, como verificado no golpe cívico-militar no Brasil, em 1964, do “irmão do Norte” em quebras institucionais e derrubadas de governos. De 1952 no Egito e 1953 no Irã, até o apoio a grupos de oposição na Iugoslávia em 2000, passando pela frustrada invasão de Cuba, em 1961, e a queda de Allende, no Chile, em 1973, os Estados Unidos da América se envolveram em 30 “salvamentos da democracia” em diferentes partes do mundo, da América à África e Ásia, e mais recentemente em Gaza.
Não importa o partido que esteja no governo dos EUA, se democrata ou republicano. O taxímetro da indústria bélica funciona em ambos os casos, cobrando seus dividendos da corrida militar. Já se referia o historiador romano Tito Lívio: “A guerra alimenta a si mesma”.
Relatório da Global Alliance for Banking on Values apontou novos recordes no financiamento de gastos militares em 2023, atingindo um pouco menos de um trilhão de dólares, apoiado por instituições financeiras globais à produção e o comércio de armas. Mais de 500 bilhões de dólares vieram de instituições financeiras dos Estados Unidos. Aquele dado certamente será maior em 2024 devido o conflito em Gaza. Com a guerra na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022, o valor das ações das empresas de armamentos disparou.
Análise do International Peace Bureau comparou o quanto o gasto em armamento significaria se aplicado em bens e serviços de saúde. Assim, uma fragata multifuncional europeia vale o salário de 10.662 médicos por anos (média dos países da OCDE); um caça F-35 equivale a 3.244 leitos de terapia intensiva e um submarino nuclear custa o mesmo que 9.180 ambulâncias.
“Tributar os altos lucros da indústria militar tornou-se um imperativo ético”, defende o padre Tonio Dell’Ollio, jornalista e presidente da associação Pro Civitate Christiana. O problema é que a cadela da guerra está sempre no cio.
Contrariando Roosevelt, as Nações Unidas não conseguem estabelecer um período de paz mundial porque os Estados Unidos da América não o permitem. Eles detêm o poder de veto no Conselho de Segurança da ONU. Os americanos, e outros impérios modernos, preferem o confronto, a competência à colaboração. Tudo em nome do lucro e do poder.
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A hipocrisia do grande irmão democrata do Norte. Artigo de Edelberto Behs - Instituto Humanitas Unisinos - IHU