25 Setembro 2024
No “Saldão do Fim do Mundo” montado na Rio Oil and Gas, ministro de Minas e Energia disse que licença está em fase “quase final”.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 25-09-2024.
Em Nova York, na Climate Week, o presidente Lula e os ministros do Meio Ambiente, Marina Silva, e da Fazenda, Fernando Haddad, tentaram mostrar o Brasil como referência em economia verde. Já no Rio de Janeiro, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, e outros executivos da petroleira estatal lideravam o “Saldão do Fim do Mundo”, insistindo na exploração de combustíveis fósseis na foz do Amazonas. Pior: afirmando que o início do trabalho é uma questão de tempo.
O “Saldão do Fim do Mundo” foi o nome dado por organizações integrantes do Observatório do Clima (OC) à Rio Oil and Gas (atual ROG.e], considerado o maior evento da indústria de combustíveis fósseis no país. Por coincidência ou deboche, a feira ocorre simultaneamente à Climate Week, cujo lema é “It’s time”. A Rio Oil and Gas também tem um lema: “Conectando energias”. Mas, diante da presença de líderes das maiores petroleiras do mundo, como Shell, Chevron, Exxon, BP, TotalEnergies e Equinor, e do secretário- geral da OPEP, Haitham Al-Ghais, o que se vê é um único tom de energia: o sujo, dos combustíveis fósseis.
Esse tom já era esperado, mas não deixa de chocar, diante das tragédias climáticas que vêm assolando o Brasil, como a seca histórica, os incêndios na Amazônia, no Pantanal e no Cerrado e os temporais no Rio Grande do Sul em setembro e novembro de 2023 e maio deste ano. Estudos já mostraram a relação desses eventos com as mudanças climáticas, estas causadas principalmente pela queima de combustíveis fósseis. Mas, para Silveira, Magda e companhia, o que importa é produzir petróleo “até a última gota”. E com a simpatia de Lula, que teve uma reunião com a Shell em NY, um encontro que não estava em sua agenda oficial.
“Eles lucram, a gente sofre” foi uma das frases do protesto feito pelas organizações da sociedade civil na abertura do “Saldão do Fim do Mundo”, destaca a Folha. E o que se viu nas falas foi mesmo uma lavagem de mãos quanto à responsabilidade da indústria dos combustíveis fósseis na crise climática. O lucro é o fim, porque deixa os acionistas felizes. Mesmo que os custos da tragédia climática – só no Rio Grande do Sul, até agora, o BID calculou uma perda de R$ 87 bilhões, mostra o Valor – sejam pagos por todos. Inclusive com a vida.
Assim, a diretora de Exploração e Produção da Petrobras, Sylvia dos Anjos, afirmou estar otimista com a obtenção da licença ambiental do IBAMA para a petroleira perfurar um poço no bloco FZA-M-59, na foz do Amazonas, relatam Folha e Bnamericas. E o ministro Alexandre Silveira afirmou em alto e bom som que o Brasil está em fase “quase final” para obter a licença, informam Agência Brasil, Valor, IstoÉ, IstoÉ Dinheiro, O Dia e DNews.
Como frisou Tica Minami, coordenadora de projetos do ClimaInfo, a Rio Oil and Gas é um contrassenso na busca pela transição energética. Embora tente parecer inovador, também preocupado com as mudanças climáticas, é na verdade um evento para promover os combustíveis fósseis, que são a principal causa da emergência climática que estamos vivendo hoje, explicou. Sem falar no contrassenso do governo em estar promovendo energia renovável em Nova York e energia suja no Rio, lembrou o diretor para América Latina e Caribe da 350.org, Ilan Zugman.
Com os eventos extremos cada vez mais frequentes e intensos por causa das mudanças climáticas, já passou da hora das petroleiras – Petrobras inclusive – deixarem o passado sujo do petróleo para trás e se tornarem empresas de energia, ressaltou Ricardo Baitelo, gerente de projetos do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA). Ou é isso ou é mesmo o fim. Inclusive delas.
Em tempo
Um protesto do Greenpeace na Rio Oil and Gas [ou “Saldão do Fim do Mundo’] interrompeu a apresentação do secretário-geral da OPEP, Haitham Al-Ghais, na 3ª feira (24/9), informam Valor e Folha. Uma ativista interrompeu a fala inicial de Al-Ghais com um placa que dizia “Transição energética justa” ao mesmo tempo em que a energia elétrica do evento foi desligada.
Outra placa com a mensagem “Who pays?” também foi levantada. Em tom de deboche, Al-Ghais comentou a interrupção: “Adoro a energia desse país. Isso mostra que não há energia para todos aqui, vamos precisar de petróleo. Não há preocupação nenhuma.” A urgência climática que espere. Se sobrevivermos.
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