13 Junho 2024
"Uma virada, dizíamos, mas na continuidade: a inspirar o olhar de Moltmann sempre eram a Cruz e a esperança, das quais, no entanto, ele agora também captava a dimensão cósmica".
A opinião é de Simone Morandini, Diretora de Credere Oggi; vice-diretora do Instituto Ecumênico “San Bernardino” – Veneza, em artigo publicado por Riforma, 14-06-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Meu encontro com a Teologia da Esperança de Moltmann? Aparentemente totalmente casual. É na realidade um sinal da vivacidade da Florença no final dos anos 1970 que uma conversa no ônibus entre um católico curioso no final do ensino médio e um amigo alguns anos mais velho se concluísse com a sinalização do fascínio por um grande pensador evangélico. Como leitor voraz, me encontrei assim a enfrentar meu primeiro livro importante de teologia, entendendo pouco na época, mas ficando profundamente impressionado por um autor ao qual retornaria muitas vezes depois.
Não falo de mim por capricho autobiográfico, mas apenas para sinalizar uma dinâmica que naqueles anos interessou a muitos e muitas, que encontrou inspiração - para a reflexão e para a prática - num autor que soube iluminar do Evangelho de Jesus Cristo diferentes experiências e caminhos. Uma leitura da esperança como motor da história e da mudança; uma palavra exigente sobre o mistério de Deus trino a partir do Crucifixo; uma escrita densa e instigante para uma teologia conscientemente colocada no espaço público.
Tantos elementos que encontraram fortes ressonâncias nos componentes do mundo católico que procuravam referências para a renovação de percursos de fé almejados pelo Concílio Vaticano II.
De Moltmann vieram, entre outras coisas, perspectivas próximas às exploradas naqueles anos por outro grande teólogo como o católico Johann Baptist Metz (1928-2019), numa sintonia que relativizava as limitações confessionais. Não por acaso ambos os autores encontraram amplo espaço na Itália - às vezes até lado a lado, em obras com vários autores - na série da editora Queriniana, transformada pela visão de Rosino Gibellini (1926-2022) num espaço de discussão entre as vozes mais interessantes da renovação teológica pós-conciliar. Suas contribuições também estiveram frequentemente no centro da pesquisa realizada pela revista Concilium, em denso diálogo com autores diversos - da teologia da libertação latino-americana ao primeiro surgimento de vozes asiáticas e africanas – para um horizonte realmente global.
Moltmann levava a tais espaços a sua lucidez como teólogo reformado, ao mesmo tempo em que testemunhava uma curiosidade para toda a ecumena cristã, mas também para o pensamento secular e o judaísmo.
Esta última dimensão assumiu, além disso, particular importância naquela grande virada que o levou à reflexão teológica sobre o tema ambiental, especialmente a partir de Deus na criação. Doutrina ecológica da criação. Um texto pioneiro que, ainda na década de 1980, propunha um repensamento da realidade do Criador à luz da doutrina cabalística do tzim-tzum, para fazer frente aos dramáticos questionamentos postos à teologia pela crise socioambiental. Toda a sua produção subsequente foi marcada por tal dimensão ecoteológica: que se tratasse de repensar a cristologia ou a pneumatologia, era agora uma harmônica imprescindível de seu pensamento. E também nessa fase houve muitos católicos e católicas - talvez desta vez em nível internacional, mais que italiano – que se inspiraram nele; também algumas razões hoje valorizadas pelo Papa Francisco na Encíclica Laudato Si' já estavam presentes na lúcida reflexão de Moltmann.
Uma virada, dizíamos, mas na continuidade: a inspirar o olhar de Moltmann sempre eram a Cruz e a esperança, das quais, no entanto, ele agora também captava a dimensão cósmica. Assim ele ofereceu uma "teologia messiânica da criação", na qual é o próprio mundo que nos foi doado que é apreendido na tensão entre um presente marcado pela negatividade e a bondade prometida no Espírito, segundo a perspectiva traçada por Paulo em Rm 8,19-23. É o fruto de um pensamento fecundo, que soube criativamente explicitar a inspiração evangélica na mudança de tempos e temporadas culturais.
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Ler Moltmann hoje. Artigo de Simone Morandini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU