05 Mai 2024
Cidades gaúchas registraram em dois dias um volume de chuva três vezes maior do que a média histórica para o mês, de acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Ao mesmo tempo, seis Estados do Sudeste e Centro-Oeste estão em alerta para uma onda de calor que deve se estender até 10 de maio, segundo o Climatempo.
Tanto calor e tanta chuva são atípicos para o outono, mas, como alerta o professor do Instituto de Física da USP e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas Paulo Artaxo, os fenômenos climáticos extremos vieram para ficar, cada vez mais intensos, frequentes e imprevisíveis.
Ele falou ao Estadão sobre a relação dos fenômenos recentes com a mudança do clima, a necessidade urgente de adotar diferentes estratégias para adaptar um País de dimensões continentais a esse “novo clima” e de agir para reduzir as emissões de gases de efeito estufa capazes de limitar o aquecimento do planeta.
A entrevista é de Juliana Domingos de Lima, publicada por O Estado de S. Paulo, 03-05-2024.
Eis algumas passagens da entrevista que pode ser lida na íntegra aqui.
Estados do Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste estão neste momento com alertas de perigo do Inmet para onda de calor e chuvas intensas. É algo inédito para essa época do ano?
A palavra inédito já não cabe mais, esse é um ponto importante. Nós já mudamos o clima do planeta, ele já é diferente do que havia nos últimos dez, vinte anos em relação à intensidade e frequência dos fenômenos climáticos extremos. É inegável que eles já estão impactando o clima de maneira muito significativa e certamente, com o agravamento do aquecimento global, só vão aumentar em frequência e intensidade no futuro.
Há influência do El Niño nas chuvas que vimos nos últimos dias no Rio Grande do Sul?
O El Niño já terminou. O ponto principal é que já ocorreu o resfriamento das águas do Pacífico, isso foi medido por satélite e o fim dele foi decretado pela NOAA, a agência americana de oceanos. Não podemos creditar esses eventos no Rio Grande do Sul ao El Niño, mas podemos creditá-los a um agravamento da crise climática. Nem precisa ir para o Rio Grande do Sul, veja a onda de calor que estamos tendo em São Paulo, que é absolutamente atípica: 32 graus no meio de maio, uma temperatura típica de verão, por uma semana inteira. São manifestações das mudanças que nós fizemos no clima.
Quais as previsões para os próximos meses do ano? Continuaremos vendo mais fenômenos extremos como esses?
É impossível prever. O clima mudou tanto que os modelos climáticos que estavam programados para fazer previsões confiáveis há dez anos já perderam muito dessa capacidade. Nós estamos vivendo num novo clima. Isso também é um ponto importante. Essencialmente, um novo clima cheio de ondas de calor e de chuvas muito intensas, que traz prejuízos socioeconômicos muito intensos e a única maneira de lidar com isso é reduzindo as emissões de gases do efeito estufa.
Há regiões que estão mais vulneráveis?
Agora temos cheias no Rio Grande do Sul, ondas de calor no Sudeste, tivemos secas e enchentes completamente atípicas na Amazônia. Então esses fenômenos basicamente estão acontecendo em todos os biomas. O Pantanal queimou durante dois anos seguidos, algo que nunca tinha se observado em dez, vinte anos. Esses eventos mostram de forma clara que a gente está mudando drasticamente o clima do nosso planeta.
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Chuva no Rio Grande do Sul e crise climática: ‘Até quando vamos correr atrás do prejuízo?’, pergunta Paulo Artaxo, membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU