01 Abril 2024
No planeta, são produzidos alimentos suficientes para alimentar toda a humanidade, mas um quinto de tudo o que está disponível é desperdiçado. Em 2022, foram jogados no lixo 1 bilhão de toneladas de alimentos, de acordo com o último Índice de Desperdício de Alimentos da ONU.
A reportagem é de Raúl Rejón, publicada por El Diario, 27-03-2024. A tradução é do Cepat.
Assim, embora aproximadamente 20% dos alimentos disponibilizados durante aquele ano não tenham sido consumidos, cerca de 780 milhões de seres humanos passam fome. E até 150 milhões de crianças com menos de cinco anos sofrem problemas de crescimento e desenvolvimento devido à falta de nutrientes essenciais na sua dieta, recorda este relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Um desperdício que também gera danos ambientais inúteis – porque os alimentos produzidos diretamente não são consumidos – na forma de gases do efeito estufa e destruição de ecossistemas. Para completar, a pesquisa estima que a obtenção destes alimentos custou 1 bilhão de dólares que, de alguma forma, também acabaram na lata de lixo.
“O desperdício de alimentos é uma tragédia global. Milhões de pessoas passam fome enquanto os alimentos são jogados em todo o mundo”, reflete a diretora-executiva do PNUMA, Inger Andersen.
A maior parte deste desperdício ocorre nas residências, explica o Programa. “Foram responsáveis por 60%”, estima este trabalho. Isso significa cerca de 630 milhões de toneladas anuais ou “1 bilhão de refeições por dia”. Em média, cada pessoa se desfaz de 79 kg de alimentos por ano. Isto equivale, acrescenta a pesquisa, a jogar no lixo, todos os dias, “1,3 refeições disponíveis para todas as pessoas afetadas pela fome”.
Na Espanha, o desperdício total de alimentos fica próximo de 4 milhões de toneladas, segundo a coleta de dados do Eurostat. Quando se olha para os lares, os alimentos descartados somam cerca de 1,4 milhão de toneladas. É o quinto pior dado global da União Europeia, atrás da Alemanha, Itália, França e Polônia.
Em relação ao desperdício por pessoa, na Espanha, chega a 70 kg, segundo o Índice da ONU. Os líderes europeus são Portugal e Suíça, que estão perto dos 170 kg per capita. Acima dos 100 kg de desperdício total por pessoa estão também Áustria, Dinamarca, Alemanha, Grécia, Itália, Letônia e Malta. Em 2022, a Espanha se tornou o terceiro país da União Europeia a legislar contra este desperdício.
Andersen recorda que esta dinâmica também gera “custos substanciais para o clima e a natureza”. A ONU define o desperdício de alimentos como “um fracasso ambiental” já que atribui ao desperdício alimentar “a geração de 8 a 10% das emissões de gases do efeito estufa”, a causa física do aquecimento global do planeta que leva à crise do clima.
É um problema muito subestimado, segundo as conclusões do relatório, porque, apesar destes dados, “apenas 21 dos 193 países que apresentaram Compromissos Climáticos Nacionais, no âmbito do Acordo de Paris, incluíram planos para reduzir o desperdício de alimentos”. O PNUMA insiste em pedir aos estados que incluam programas para reduzir a perda e o desperdício de alimentos em seus planos climáticos.
Além disso, produzir alimentos é uma atividade de grande impacto na natureza. “A conversão dos ecossistemas em terras agrícolas tem sido a principal causa da perda de habitats no planeta”, recorda o PNUMA. Por exemplo, desde 1990, 420 milhões de hectares de floresta desapareceram para dedicar essas terras a outros fins e “a expansão da agricultura é o fator essencial do desmatamento”. Constitui também a principal ameaça para 85% das 28.000 espécies conhecidas em perigo de extinção, conclui a ONU.
A contradição aparece quando boa parte da produção que causa esses impactos acaba jogada nas latas de lixo. O cálculo é que este 1 bilhão de toneladas de alimentos desperdiçados precisou “do equivalente a quase 30% das terras agrícolas do mundo”. E os danos que isso provoca.
Em suma, o PNUMA alerta que este problema não é mais uma questão exclusiva do mundo rico porque as diferenças de desperdício per capita entre países de renda alta, média e baixa foram reduzidas para apenas 7 quilos por pessoa.
A diretora da ONG WRAP – que colaborou com o PNUMA na elaboração do relatório -, Harriete Lamb, resume que “com o enorme custo para o meio ambiente, nós, sociedade e economias que provocam o desperdício de alimentos, precisamos de mais ações porque é algo fundamental, caso queiramos alimentar as pessoas e não os aterros sanitários”.
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Fome e destruição ambiental inútil: 1 bilhão de toneladas de alimentos vão para o lixo todos os anos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU