09 Março 2024
A única saída possível para o conflito entre Israel e o povo palestino é um cessar-fogo, o início de um processo de reconciliação entre israelenses e palestinos e a sua coexistência num Estado único.
A afirmação é de Raniero La Valle, jornalista e ex-senador italiano, em artigo publicado por Chiesa di Tutti, Chiesa dei Poveri, 07-03-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Enquanto a infeliz perspectiva que se abre para os Estados Unidos e para o mundo é de uma alternativa entre uma nova presidência Biden e uma nova presidência Trump, a guerra em Gaza continua a piorar. Os Estados Unidos pediram o estabelecimento de um “cessar-fogo” de seis semanas. Estão preocupados com o descrédito que recai sobre Israel e ainda mais com a penalidade eleitoral resultante para Biden: o Ramadã começa, e se Israel impedir a massiva peregrinação árabe anunciada em direção à mesquita de Al Aqsa no Monte do Templo em Jerusalém, poderia resultar uma nova carnificina.
O Hamas, por sua vez, disse que está pronto para uma trégua e disposto a devolver os reféns, mas pede que o "cessar-fogo" seja permanente, que o exército invasor se retire de Gaza e que importantes prisioneiros palestinos detidos nas prisões israelenses sejam libertados, a começar por Marwan Barghuti, o líder da segunda Intifada, que participou no processo de paz promovido por Arafat. E o que menos poderia pedir?
Mas para Netanyahu nem se fala a respeito, e enquanto isso o Estado de Israel aprovou a construção de 35.000 novas casas na Cisjordânia, para tornar impossível a solução dos dois povos em dois estados, o palestino não tendo mais sequer a terra onde ser estabelecido. Nesse interim, o ministro do Exterior britânico, David Cameron, ao receber o ministro da Defesa israelense, Benny Gantz (aliás, desmentido por Netanyahu) disse que a Grã-Bretanha está "profundamente preocupada" com a perspectiva de uma ofensiva israelense sobre Rafah", e revelou ter feito "novamente pressão sobre Israel para que aumentasse o fluxo de ajudas humanitárias para Gaza", sem, contudo, ver "melhorias no campo", acrescentando solenemente: "Isso deve mudar".
Mas, infelizmente, isso não pode mudar a menos que a pedagogia da violência seja invertida. Para o conflito entre Israel e o povo palestino, a única saída possível é, com o “cessar-fogo”, o início de um processo de reconciliação entre israelenses e palestinos, e a sua coexistência num Estado único, que passe por uma distinção entre o Estado de Israel e dos Judeus da Diáspora, e uma profunda conversão da figura de tal Estado.
Não deve perder a sua inspiração judaica, mas, pelo contrário, restaurá-la, desenvolvendo aquela de Isaías, não a de Josué, tal como a cristandade saiu do regime constantiniano e carolíngio para abraçar a misericórdia e o serviço ("lavar os pés da Europa"!, como fala o Papa Francisco ). Assim, Israel poderia realmente transformar-se numa verdadeira democracia no Oriente Médio: um Estado pluralista, multiétnico e garantidor das liberdades religiosas. E então poder-se-ia até conceber o sonho de que em Jerusalém, talvez num pequeno espaço extraterritorial entre o Monte do Templo, o Muro das Lamentações e a Basílica do Santo Sepulcro, se estabelecesse um centro de comunhão e de difusão do Judaísmo, Cristianismo e Islã, as três religiões do único Deus.
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Um sonho para Jerusalém. Artigo de Raniero La Valle - Instituto Humanitas Unisinos - IHU