24 Novembro 2023
Demissão, que durou apenas quatro dias, provocou onda de protestos de funcionários e investidores e transformou o futuro da empresa OpenAI numa incógnita. Pressionada, ela acabou anunciando retorno do seu CEO.
A reportagem é de Isadora Pamplona, publicada por Deutsche Welle, 23-11-2023.
Um abalo de proporções sísmicas chacoalhou o mundo tech nos últimos dias. Todos os holofotes se voltaram para a OpenAI, startup de inteligência artificial (IA) por trás do popular chatbot ChatGPT, mas não por causa de um novo produto ou programa. No fim de semana passado, a empresa se viu no centro de uma disputa com a demissão de Sam Altman, cofundador da empresa, do cargo de CEO, anunciada na sexta-feira (17/11).
Nesta terça-feira (21/11), numa reviravolta, a OpenAI, sob forte pressão de funcionários e investidores, anunciou o regresso de Altman, apenas quatro dias depois da demissão, como presidente executivo de um novo conselho de administração.
A OpenAI foi fundada em 2015 por um grupo de empreendedores e investidores, entre eles o bilionário Elon Musk, que abandonou o projeto em 2018, após conflitos com o conselho de administração.
Estabelecida como uma organização sem fins lucrativos, a empresa atraiu os holofotes em novembro de 2022 com o lançamento do ChatGPT, um modelo de linguagem baseado em inteligência artificial e aberto ao público geral.
A notícia inundou as redes como um tsunami: Altman, de 38 anos, foi demitido na sexta-feira (17/11) da empresa que criou o ChatGPT. Para muitos, ele era considerado nada menos que o pai da chamada IA generativa.
Ao justificar a decisão no blog da empresa, o antigo conselho de administração da OpenAI acusou Altman de não ser "coerentemente sincero em suas comunicações", prejudicando sua capacidade de exercer suas responsabilidades e levando a uma "perda de confiança" em sua liderança.
O afastamento de Altman não foi a única mudança. O então presidente do conselho de administração, Greg Brockman, logo anunciou seu desligamento.
O conselho de administração anterior da OpenAI deu poucas explicações sobre o afastamento de Altman, declarando apenas que Altman "não foi coerentemente honesto nas comunicações", o que afetou a capacidade "de exercer as suas responsabilidades", pelo que "não confia mais na sua capacidade de continuar a liderar a OpenAI".
A rixa que custou ao queridinho da inteligência artificial seu cargo de CEO na OpenAI reflete uma diferença fundamental de opinião sobre segurança e impacto social da tecnologia ainda incipiente.
De um lado estão aqueles com uma visão mais "agressiva", como Altman, que veem o rápido desenvolvimento e, especialmente, a implementação pública da IA como essencial para testar e aperfeiçoar a tecnologia. Do outro, estão os que preferem a cautela, na crença de que tais ferramentas devem ser desenvolvidas primeiramente em laboratório, a fim de garantir que sejam "seguras para consumo humano".
Esses últimos alertam que um software superinteligente corre o risco de se tornar incontrolável, podendo levar até mesmo a uma catástrofe. Entre os que compartilham tais temores está Ilya Sutskever, cientista-chefe da OpenAI e membro do conselho que aprovou a demissão de Altman.
"Não temos uma solução para direcionar ou controlar uma IA potencialmente superinteligente e evitar que ela se torne corrupta", admitiu Sutskever num post assinado em julho em conjunto com um colega. "Os humanos não seremos capazes de supervisionar com segurança sistemas de IA muito mais inteligente do que nós".
Menos de 24 horas após a notícia das mudanças no conselho, surgiram boatos de que Altman e outros ex-colegas da gigante de tecnologia estavam traçando planos de um empreendimento próprio, e que a OpenAI estaria considerando pedir a volta do antigo CEO.
Na manhã de segunda-feira, o caso já ganhava dimensões mais fortes, com um abaixo-assinado de centenas de funcionários da OpenAI ameaçando deixar a empresa se o conselho não renunciasse e Altman e Brockman não fossem restituídos. Um dos signatários era Sutskever, que disse lamentar "profundamente" seu papel na saída de Altman.
I deeply regret my participation in the board's actions. I never intended to harm OpenAI. I love everything we've built together and I will do everything I can to reunite the company.
— Ilya Sutskever (@ilyasut) November 20, 2023
No mesmo dia, a Microsoft anunciou que Altman, Brockman e outros colegas que estavam de saída da OpenIA poderiam chefiar uma nova unidade de pesquisa avançada de IA na gigante de Redmond.
A saída dramática de Altman gerou intenso lobby dos maiores investidores da OpenAI, entre eles a Microsoft, pelo retorno dele. A Microsoft investiu bilhões de dólares na OpenAI, incorporando sua tecnologia em vários produtos, incluindo o mecanismo de busca Bing.
A OpenAI comunicou nesta terça-feira (21/11) ter chegado a um "acordo de princípio" para Altman retornar como presidente executivo, com um novo conselho de administração.
O conselho incluirá o antigo copresidente executivo da empresa americana Salesforce Bret Taylor, o ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos Larry Summers e o líder do portal de perguntas e respostas Quora, Adam D'Angelo.
Analistas disseram que a remodelação favorecerá Altman e a Microsoft, que detém 49% das ações, prometeu bilhões de dólares à startup e está lançando sua tecnologia para seus clientes em todo o mundo.
"Ainda há grandes dúvidas sobre por que Altman foi demitido e por que a Microsoft foi mantida no escuro sobre a decisão", disse Danni Hewson, chefe de análise financeira da AJ Bell.
"O que parece claro é que a Microsoft irá agora desempenhar um papel muito maior, que a parceria vai se tornar mais forte e as duas empresas, mais integradas".
O CEO da Microsoft, Satya Nadella, saudou as mudanças. "Acreditamos que este é um primeiro passo essencial no caminho para uma governança mais estável, bem informada e eficaz", afirmou.
O destino da OpenAI é visto por muitos tecnólogos como fundamental para o desenvolvimento da IA. Sobretudo as preocupações com a IA generativa ganharam força com a surpreendente demissão de Altman.
O termo é usado para se referir a programas capazes de produzir conteúdo coerente, como ensaios, códigos de computador e imagens semelhantes a fotos, em resposta a solicitações simples. A popularidade do ChatGPT, nesse sentido, só acelerou o debate sobre a melhor forma de regular e desenvolver a tecnologia.
Mesmo antes do seu retorno, Altman havia garantido que a mudança não iria abalar o desenvolvimento da IA: "Temos mais unidade, compromisso e foco do que nunca", tuitou na terça-feira. "Todos nós vamos trabalhar juntos de uma forma ou de outra, e estou muito animado. Uma equipe, uma missão".
"O retorno de Altman consolida sua influência sobre a direção da OpenAI e provavelmente significa que ela será mais ousada e focada no lucro, mas também potencialmente menos avessa ao risco", disse o analista Kyle Rodda, da Capital.com.
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Vai e vem de Sam Altman reaviva debate sobre futuro da IA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU