05 Junho 2023
"[A pastoral da amizade] Trata-se, portanto, de repensar a comunidade eclesial à inteira disposição da possível amizade entre Jesus e os homens e as mulheres do nosso tempo, especialmente os mais frágeis. E isso numa dupla postura: por um lado, fazendo eco daquela oferta de amizade que vem de Jesus; por outro, fazendo de tudo para favorecer a aceitação dessa proposta por qualquer um."
A opinião é do teólogo italiano Armando Matteo, professor de Teologia Fundamental da Pontifícia Universidade Urbaniana e subsecretário adjunto da Congregação para Doutrina da Fé, em artigo publicado por Settimana News, 03-06-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
Leia também, em português, o primeiro, o segundo, o terceiro, o quarto, o quinto, o sexto, o sétimo, o oitavo, o nono, o décimo, o décimo primeiro, o décimo segundo, o décimo terceiro, o décimo quarto e o décimo quinto artigos da série.
Com os passos dados até agora, podemos finalmente dizer uma palavra sobre a pastoral de que agora precisamos para iniciar a passagem do cristianismo da consolação para o cristianismo da alegria. Ao longo desse caminho não podemos deixar de rever um dos textos mais significativos da Evangelii gaudium (EG 27):
“Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à autopreservação. A reforma das estruturas, que a conversão pastoral exige, só se pode entender neste sentido: fazer com que todas elas se tornem mais missionárias, que a pastoral ordinária em todas as suas instâncias seja mais comunicativa e aberta, que coloque os agentes pastorais em atitude constante de ‘saída’ e, assim, favoreça a resposta positiva de todos aqueles a quem Jesus oferece a sua amizade".
Essas palavras claras do Papa Francisco desenham como empenho específico dos crentes o de converter toda a pastoral ordinária para favorecer a resposta positiva de qualquer um à oferta de amizade que vem de Jesus. Propõem passar de uma “pastoral do acompanhamento”, específico do cristianismo da consolação, a uma "pastoral da amizade", autêntico sinal daquela nova imaginação do cristianismo futuro como cristianismo da alegria que serve hoje.
Trata-se, portanto, de repensar a comunidade eclesial à inteira disposição da possível amizade entre Jesus e os homens e as mulheres do nosso tempo, especialmente os mais frágeis. E isso numa dupla postura: por um lado, fazendo eco daquela oferta de amizade que vem de Jesus; por outro, fazendo de tudo para favorecer a aceitação dessa proposta por qualquer um.
Disso resulta, porém, que a colocação em prática dessa verdadeira e própria conversão pastoral da lógica do acompanhamento àquela da amizade implicará um sério trabalho de discernimento sobre o que já foi herdado no concreto da ação normal da comunidade, identificando o que está destinado a ser deixado de lado e o que ainda pode resultar eficaz, para que seja um entusiasmante trabalho de criatividade no que diz respeito à nova condição dos destinatários da proposta de amizade de Jesus.
De fato, não será possível simplesmente acrescentar outras coisas a fazer ou outras atenções a prestar além das já existentes. Há algo a abandonar e há algo a criar. Não é por acaso que Francisco se expressa em termos de uma necessária transformação da pastoral herdada. Só assim podemos esperar que qualquer um que passe por uma das tantas igrejas espalhadas pelo mundo consiga perceber algo do que realmente está em jogo na fé cristã: a alegria de uma vida vivida - graças ao encontro com Jesus - no amor de Deus e no amor ao próximo. Só assim poderá acontecer a passagem do cristianismo da consolação ao cristianismo da alegria. Então vamos começar logo a trabalhar!
"A 'Opção Francisco' e a igreja que virá", com Armando Matteo
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A pastoral da amizade. Artigo de Armando Matteo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU