14 Março 2023
Em entrevistas focadas no 10º aniversário de sua eleição, o Papa Francisco insistiu que não é sua tarefa prestar contas do que ele realizou ou deixou de realizar desde o dia 13 de março de 2013.
A reportagem é de Cindy Wooden, publicada em National Catholic Reporter, 13-03-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“O Senhor fará a avaliação quando achar conveniente”, disse o papa ao jornal italiano Il Fatto Quotidiano.
No entanto, ele disse estar certo de que os critérios de julgamento seriam os de Mateus 25: alimentar o faminto, acolher o estrangeiro, vestir o nu, cuidar dos enfermos e visitar os prisioneiros.
Mas ele tinha três palavras para o que espera do futuro: “Fraternidade, lágrimas, sorrisos”.
Enquanto Francisco comemorava seu aniversário celebrando a missa com os cardeais na capela de sua residência, o Vatican News divulgou um breve “popecast”, que incluía a resposta de três palavras do papa a uma pergunta sobre seus sonhos para a Igreja, o mundo e a humanidade.
“Somos todos irmãos e irmãs”, explicou, e mais esforços devem ser feitos para que vivamos assim.
“E aprender a não ter medo de chorar e de sorrir”, disse ele. “Quando uma pessoa sabe chorar e sorrir, tem seus pés no chão e seu olhar no horizonte do futuro.”
“Se uma pessoa esqueceu como chorar, algo está errado”, disse Francisco. “E se essa pessoa esqueceu como sorrir é ainda pior.”
O papa de 86 anos também perguntou ao entrevistador do Vatican News: “O que é um podcast?”.
Nas poucas entrevistas concedidas por Francisco em relação a seu aniversário, vários temas continuaram surgindo: a guerra na Ucrânia e as guerras ao redor do mundo, as mulheres na Igreja, os católicos LGBTQ, as críticas e até mesmo se ele pensa na morte.
Ele disse que sim, como afirmou ao site argentino Perfil. Ele disse que pensa na morte com frequência e “com muita paz”, porque “é preciso lembrar” que ninguém vive para sempre.
O jornal argentino La Nación questionou Francisco sobre a importância do Sínodo dos Bispos sobre a sinodalidade, um processo que o papa lançou em outubro de 2021 e que culminará com as assembleias sinodais em 2023 e 2024.
Ao explicar como tentou revitalizar os sínodos, que foram restabelecidos por São Paulo VI após o Concílio Vaticano II, o papa disse ao La Nación que incluir mais vozes é um processo em andamento.
Durante o Sínodo dos Bispos para a Amazônia em 2019, disse ele, “a pergunta era: por que as mulheres não podem votar? Elas são cristãs de segunda categoria?”.
A resposta do Vaticano sempre foi que, embora a contribuição de muitas pessoas seja essencial para um sínodo, é papel dos bispos discernir e votar. No entanto, 10 padres – e ocasionalmente um irmão religioso – tradicionalmente eram eleitos pela União de Superiores Gerais de ordens religiosas masculinas como membros votantes de pleno direito do sínodo, ao lado dos bispos.
Em fevereiro de 2021, Francisco nomeou a irmã missionária xaveriana Nathalie Becquart como uma das subsecretárias da Secretaria Geral do Sínodo, um cargo que a tornaria um membro votante automático da assembleia.
Então, o La Nación perguntou ao papa se apenas uma mulher teria direito a voto na próxima assembleia do Sínodo.
“Todo mundo que participa do Sínodo vai votar. Aqueles que são convidados ou observadores não votarão”, disse ele, mas quem participa de um sínodo como membro “tem direito a voto. Seja homem, seja mulher. Todos, todos. Essa palavra ‘todos’, para mim, é chave.”
Sobre a questão dos católicos LGBTQ, Francisco insistiu ao entrevistador do Perfil que “todos são filhos e filhas de Deus e cada um busca e encontra Deus por qualquer caminho que possa”.
Embora o papa tenha insistido que o matrimônio só pode ser entre um homem e uma mulher, ele também repetiu seu apoio aos direitos legais garantidos pelas uniões civis para casais gays e outros que compartilham a vida. E, como disse à Associated Press em janeiro, a homossexualidade não deveria ser criminalizada.
Quanto ao ensino católico de que os atos homossexuais são pecaminosos, como qualquer atividade sexual fora do casamento, Francisco disse que não acha que esses pecados mandam uma pessoa para o inferno.
“Deus só põe de lado os orgulhosos. O resto de nós, pecadores, estamos todos na linha”, disse ele, e Deus sempre estende a mão para salvar os pecadores que buscam sua ajuda.
Nas entrevistas ao La Nación e ao Perfil, Francisco insistiu que há uma diferença entre uma pastoral aos católicos LGBTQ e a aceitação da “ideologia de gênero”, que, segundo ele, “é uma das colonizações ideológicas mais perigosas”.
“Por que é perigosa? Porque dilui as diferenças, e a riqueza dos homens e das mulheres, e de toda a humanidade é a tensão das diferenças. É crescer na tensão das diferenças”, disse o papa.
Uma teoria de gênero que vê o fato de ser homem ou mulher como um construto ou uma escolha social, e não como um fato ligado à identidade biológica, “está diluindo as diferenças e tornando o mundo o mesmo, todos iguais”, disse o papa. “E isso vai contra a vocação humana.”
Em cada uma das entrevistas, ele falou sobre o horror da guerra e sua preocupação com a continuidade dos combates na Ucrânia.
Questionado pelo Vatican News sobre o que ele gostaria de presente em seu 10º aniversário, Francisco respondeu: “Paz. Precisamos de paz”.
Leia mais
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Papa Francisco promete que todos os participantes, homens e mulheres, votarão no Sínodo sobre a Sinodalidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU