A “loucura” do Papa Francisco não foi ouvida no Encontro de Comunhão e Libertação

Foto: Presidencia de la República Mexicana | Flickr CC

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30 Agosto 2022

 

Como diz o diretor do Avvenire, na entrevista abaixo, o Papa não tem voz. Em outros tempos, uma declaração contra a guerra "como loucura do homem" feita nos dias em que se realizava o Encontro de Rimini teria tido bem outra repercussão entre o povo de Comunhão e Libertação.

 

A reportagem é de Salvatore Cannavò, publicada por il Fatto Quotidiano, 26-08-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

 

Hoje a distância é mais evidente.

 

Obviamente, Francisco não deixou de enviar a sua mensagem de boas-vindas ao Encontro e a "Bênção Apostólica" enviada pelo Secretário de Estado do Vaticano ao Bispo de Rímini e, por sua intercessão, aos participantes do Encontro. Um tanto formal.

 

Assim como Comunhão e Libertação havia publicado sua posição, em 26 de fevereiro, contra a guerra e ao lado do Papa: “Estamos com o Papa e com todos aqueles que estão fazendo o máximo para acabar com o horror desta guerra. Estamos com o Papa, que defende e proclama a paz”.

 

Mas esse ímpeto pacifista não parece ter se materializado durante o Encontro. Olhando para o programa e para o relato que foi apresentado, as razões da paz não apareceram. Para falar da Ucrânia, apenas palestrantes doc, como o diretor do Repubblica, Maurizio Molinari, e toda a trupe de representantes institucionais, do Comissário Paolo Gentiloni à Presidente do Parlamento Europeu Roberta Metsola. Poucos vestígios da mensagem papal.

 

Outros tempos aqueles em que um espirro de Wojtyla teria feito vibrar milhares de CLs. Principalmente outros tempos em que o não à guerra marcava os debates. Tempos em que, em 1999, entre os participantes estava o então braço direito de Saddam Hussein, Tareq Aziz, num painel que também participavam Romano Prodi, Tommaso Padoa-Schioppa, então membro do conselho central do BCE, e o secretário do Pontifício Colégio da Justiça e Paz, Diarmuid Martin.

 

Sobre o Iraque, sobre o apoio italiano à primeira Guerra do Golfo, em 1991, houve até um dissenso com o democrata-cristão mais amado pelos CL, Giulio Andreotti, que obrigou o então líder "político" do CL, Giancarlo Cesana, a explicar, em relação às divergências sobre o Golfo: "Parece-me que divergências de opinião sejam legítimas, pois nós não temos o problema de ter que apoiar uma determinada orientação política". A guerra foi, naquele ano, o nó em torno do qual se realizou a primeira abertura à esquerda para o recém-fundado PDS, que sobre a missão no Golfo Pérsico se absteve.

 

Muito ativo e orientado sobre o Iraque era também principal expoente de Comunhão e Libertação, antes de despencar nas investigações judiciais, Roberto Formigoni, que sobre o Iraque escreveu com Aldo Brandirali o livro ‘Bagdá, a guerra e além’ apresentado no Encontro, cuidando para manter o próprio Andreotti a salvo de suas críticas à "nova ordem mundial". Andreotti viria, em 2005, a criticar a segunda guerra no Iraque, aquela de Bush filho, definida como "profundamente injusta", ainda que não tomasse distâncias da primeira guerra.

 

Na quarta-feira, 24 de agosto, enquanto Draghi elogiava seu trabalho, o Papa dizia em sua audiência geral que "a guerra é uma loucura" e que "aqueles que ganham com a guerra e o comércio de armas são criminosos que matam a humanidade". Ele também teve palavras de piedade para com Darya Dugina, morta em um atentado em Moscou, definida como "uma pobre jovem que morreu na explosão de uma bomba que estava debaixo do banco do carro: os inocentes pagam pela guerra".

 

Mas a força dessas palavras não foi ouvida em Rimini.

 

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