31 Mai 2022
O "caminho italiano" de combater a pedofilia do clero é um meio-termo entre o quase nada absoluto que existiu até agora e uma investigação completa e profunda, como aconteceu na França e na Alemanha e como solicitado em alto tom pelas associações das vítimas, pela coordenação anti-abusos ItalyChurchToo, por grupos e bases e por diversos teólogos.
A reportagem é de Luca Kocci, publicada por il manifesto, 28-05-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Cardeal Matteo Zuppi, na sua primeira conferência de imprensa como presidente da Conferência Episcopal Italiana no final da Assembleia Geral dos Bispos que terminou ontem, não nega suas qualidades de mediador, apresentando um percurso, aprovado pela CEI, que representa justamente uma mediação entre “o fingir que não há problema” de quem o precedeu no topo da Igreja italiana e a ampla investigação de Conferências Episcopais estrangeiras mais corajosas que a italiana.
O plano da CEI "para uma prevenção mais eficaz do fenômeno dos abusos contra menores e pessoas vulneráveis" prevê cinco linhas de ação.
Em primeiro lugar, o fortalecimento dos "serviços diocesanos para a proteção de menores e pessoas vulneráveis", ativados em todas as 226 dioceses italianas a partir de 2019, e que tratam principalmente da formação de agentes pastorais, para "promover uma cultura de respeito e da dignidade dos menores e das pessoas vulneráveis". Em seguida, a ampliação dos centros de escuta, geridos principalmente por profissionais leigos e atualmente presentes em cerca de 160 dioceses, "para acolher e ouvir aqueles que querem denunciar abusos recentes ou passados, e direcionar a quem de competência de acordo com as necessidades expressas pelas pessoas: um médico, um psicólogo, um advogado, a magistratura, a polícia, um acompanhante espiritual, um conselheiro de casal".
A terceira e quarta linhas de ação são simultaneamente as novidades mais importantes, mas também as mais "insatisfatórias" para a ItalyChurchToo. Até 18 de novembro - Dia Nacional de Oração pelas Vítimas e Sobreviventes de Abusos - será publicado o primeiro relatório nacional sobre as atividades de prevenção e capacitação e especialmente sobre os casos de abusos assinalados ou denunciados à rede de atendimento diocesana. Os dados serão recolhidos e analisados por dois institutos de investigação universitários independentes, limitados, no entanto, a um período de tempo bastante curto: apenas dois anos (2020-2021), ou seja, desde que os serviços diocesanos de proteção de menores foram ativados, as únicas fontes a que poderão recorrer (espera-se um relatório a cada ano).
Por outro lado, a investigação "qualitativa e quantitativa" que dois institutos independentes realizarão sobre os documentos da Congregação para a Doutrina da Fé (antigo Santo Ofício), para onde os documentos foram enviados, será um pouco mais ampla, vinte anos, relativos a casos alegados ou acertados de pedofilia cometidos por padres e religiosos no período 2000-2021.
Por fim, na quinta medida, a CEI continuará a colaborar com o Observatório de Combate à Pedofilia e à Pornografia Infantil, instituído no Ministério da Família e da Igualdade de Oportunidades.
Pela primeira vez, portanto, um relatório "oficial" sobre casos de abusos também será publicado na Itália (a associação de vítimas L'Abuso registra pelo menos mil). Quanto à investigação independente que tenha pleno acesso aos arquivos eclesiásticos, a resposta foi afirmativa, mas parcial e cautelosa: dois centros de pesquisa independentes vão investigar, mas num período limitado (de dois a vinte anos) e podendo aceder apenas a uma parte dos documentos: aqueles dos serviços diocesanos recolhidos nos últimos biênio e aqueles da Congregação para a Doutrina da Fé nos últimos vinte anos. Nada a ver, portanto, com as comissões independentes criadas pela diocese de Munique - a de Ratzinger - e pela Igreja francesa, que abriram todos os arquivos desde 1945-50. Mas um primeiro passo, ainda que tímido, que até agora jamais havia sido dado. "Não há vontade de cobrir os números, pelo contrário queremos ser sérios e claros e enfrentar o que mais nos dói porque diz respeito diretamente a nós que estamos aqui agora, por isso decidimos não retroceder oitenta anos, mas apenas vinte”, explica Zuppi na conferência de imprensa. "É pouco. O meu caso, por exemplo, não seria contemplado, pois é anterior a 2000”, responde Francesco Zanardi, agora com 50 anos, presidente da rede L'Abuso, que sofreu repetidas violências sexuais por parte do seu pároco desde os 11 anos. “Vamos nos encontrar e conversar”, o convite de Zuppi, que no final, também fala sobre guerra e armas: "Nós nos comprometemos a pressionar o governo e o Parlamento para que a Itália ratifique o tratado da ONU de proibição de armas nucleares".
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A nova CEI de Zuppi dá um primeiro passo contra a pedofilia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU