20 Abril 2022
"A meu ver, é possível "leigamente" ir além dos esquemas de uma determinada academia teológica. Assim, talvez, a teologia poderia realmente se colocar “em saída”: das salas de aula, dos laboratórios acadêmicos, das aulas curriculares, poderia passar a se interessar pelo que causa esforço e preocupa (mas também anima, se pensarmos na teologia do jogo do Dr. Fabio Cittadini) as pessoas nas ruas das cidades, do que as Igrejas esperam para o futuro, do que a situação histórica atual exige que se leve em consideração", escreve Massimo Naro, teólogo sistemático da Faculdade Teológica da Sicília, em Palermo, em artigo publicado por Settimana News, 18-04-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Teologia militante - 1 foi publicado aqui.
Caro prof. Lorizio,
Obrigado por suas estimulantes e oportunas provocações em favor de uma teologia "militante", como você a chama (aqui).
E, no entanto, a favor de uma teologia leiga, no duplo sentido em que a expressão pode e deve ser entendida: ou seja, referindo-se a uma teologia pensada por teólogos leigos e teólogas leigas - a quem reconhecer e garantir direito de cidadania "ativo além de passivo" nas academias teológicas italianas; mas também em referência a uma teologia pensada de forma mais leiga - tanto por parte de teólogos leigos e das teólogas-leigas como por parte das teólogas religiosas e dos teólogos clérigos, estes últimos em clara maioria dentro das academias teológicas italianas, todas confessionais por razões que remontam a 1873 (perdoem-me a atenção à forma expressiva que se alonga um pouco porque tenta ser politicamente correta: esse fator também constitui, aliás, um viés da teologia repensada secularmente).
Justamente a teologia pensada mais leigamente me parece o input mais útil para levar a pesquisa e a reflexão teológica para além dos limites acadêmicos, como você também almeja. As três "frentes" que você sinaliza já são muito interessantes (por exemplo, o Prof. Sergio Tanzarella, nos últimos dias, me confidenciou que está finalizando a proposta - dirigida às faculdades teológicas italianas - de se concentrar no próximo ano letivo na elaboração de uma significativa teologia da paz: também para a teologia esta seria uma forma de tomar contato efetivo com a história em que dramaticamente vivemos).
Mas se poderia começar a frequentar outras fronteiras (ou, em alguns casos, continuar com maior vigor) para conferir um caráter leigo e/ou laical à teologia italiana. Algumas dessas fronteiras são internas ao horizonte eclesial e podem dar qualidade laical a uma teologia que se projeta para além dos esquemas estruturais da academia.
Em geral, trata-se de perfilar uma configuração autenticamente pastoral da teologia: como o Papa Francisco sugeria há alguns anos aos professores e alunos da Faculdade de Teologia de Buenos Aires, é necessário superar a "falsa contraposição entre a teologia e a pastoral, entre a reflexão crente e a vida crente".
Isso não significaria deslocar a teologia das salas universitárias para as sacristias. Antes, significaria ter mais consideração pela dimensão eclesial da teologia cristã (isto é, as suas motivações e inspirações comunitárias, bem como as suas elaborações também comunitárias, isto é, realizadas não só por aqueles que pertencem a uma determinada classe eclesiástica, mas também por outros membros da comunidade crente, portanto também de leigos e leigas, já que a Igreja como tal é toda "pastora", como sempre nos lembra o Papa).
A recuperação do "divórcio entre teologia e pastoral", de fato, "revoluciona" - segundo o papa - "o estatuto da teologia": "o encontro entre doutrina e pastoral não é opcional, é constitutivo de uma teologia que pretende ser eclesial". Nesta perspectiva, o tema da sinodalidade representa um importante compromisso teológico nos próximos anos, a ser ampliado e sobretudo aprofundado e refinado: também pode valer para a teologia o convite a desencadear processos destinados a se desenvolver, ao invés de domina, espaços de "poder" com fim em si mesmos (cf. Evangelii gaudium, n. 223; e Laudato si', n. 178).
Pastoralidade, além disso, significa abertura ao "diálogo amplo", como lemos no n. 4 da Introdução da Veritatis gaudium. A propensão ao diálogo faz da teologia um exercício relacional. Para o teólogo, o diálogo é logocêntrico e não deveria se tornar logorreico: é escuta o Lógos muito mais do que elucubração racional ou diatribe intelectual. A escuta do Lógos que se prolonga na escuta dos outros, dentro e fora da Igreja.
Nesse sentido, o discurso teológico não visa apenas declarar as próprias razões, em chave apologética: para além das instâncias por vezes polêmicas de refutação, deve considerar seriamente as razões alheias e valorizar as contribuições cognitivas que outros saberes disponibilizam à própria teologia. Desta forma, ela pode ser novamente proposta numa perspectiva inter e transdisciplinar.
É aqui que as fronteiras transbordam o horizonte eclesial, mas também aquelas da academia teológica entendida segundo uma estrutura clássica. Trata-se de voltar a cultivar - com uma atitude criticamente hermenêutica e não apenas receptivo-descritiva - o diálogo com saberes como, por exemplo, a sociologia e a psicologia social: basta pensar nas informações e nos instrumentos que a teologia poderia assim dispor para tratar de temas como o da "pandemia" que atrai a atenção do prof. Lorizio.
Trata-se também de refinar o diálogo com outros saberes científicos, como as neurociências (basta pensar em como a teologia da compaixão poderia ser revisitada recebendo criticamente as informações sobre os chamados neurônios-espelho). E retomar o diálogo com as expressões culturais de tipo artístico e literário, repositórios daqueles questionamentos de sentido que o ser humano como tal continuamente levanta, inclusive em nossa época.
Melchior Cano teria falado de uma extensão do número do que ele chamava de "lugares alheios" da teologia: em suma, precisamente um ponto de partida peculiarmente epistemológico para nossa teologia. Mas o diálogo também deve se refinar com outros saberes mais tradicionalmente afins à pesquisa teológica, como a exegese histórico-crítica, por um lado, e as filosofias atuais, pelo outro.
Dessa forma, a meu ver, é possível "leigamente" ir além dos esquemas de uma determinada academia teológica. Assim, talvez, a teologia poderia realmente se colocar “em saída”: das salas de aula, dos laboratórios acadêmicos, das aulas curriculares, poderia passar a se interessar pelo que causa esforço e preocupa (mas também anima, se pensarmos na teologia do jogo do Dr. Fabio Cittadini) as pessoas nas ruas das cidades, do que as Igrejas esperam para o futuro, do que a situação histórica atual exige que se leve em consideração.
Não se trataria de fazer uma teologia superficial, não mais centrada nos livros. Antes, seria uma questão de pensar uma teologia que também assuma o humano.
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Por uma teologia militante (2). Artigo de Massimo Naro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU