17 Julho 2019
A teologia pública hoje exige uma resposta às ameaças feitas aos membros mais vulneráveis da nossa sociedade. A teologia pública não pode se dar ao luxo de um distanciamento frio quando a nossa casa está em chamas.
A opinião é da teóloga estadunidense Nichole M. Flores, professora assistente de Estudos Religiosos da Universidade da Virgínia, em Charlottesville, Estados Unidos, em artigo publicado por America Magazine, 12-07-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
John Courtney Murray, SJ, apareceu na capa da revista Time em 12 de dezembro de 1960. A capa icônica apresenta uma pintura do famoso jesuíta pelo artista Boris Chaliapin, tendo como pano de fundo o “Volume Um” das obras completas de Roberto Belarmino, SJ. Vestido de clérigo e com óculos de meia armação, o Pe. Murray exibe uma expressão severa que se tornou a imagem definidora do teólogo público na mente católica.
Publicada poucas semanas após a eleição presidencial de John F. Kennedy, a história, escrita pelo jornalista Douglas Auchincloss, buscava entender a visão do Pe. Murray sobre o papel dos católicos na vida pública dos EUA. E, embora Kennedy, como candidato, tenha aparecido na capa da revista no dia anterior à eleição, Auchincloss apenas menciona o significado da eleição para entender o lugar do catolicismo na vida pública dos EUA: “Não foi preciso a eleição de 1960 para estabelecer – embora ela tenha sido muito útil para recordar – que encontro singular de diversas tradições está contido nas palavras ‘católico americano’”.
Meio século depois, a participação católica na democracia agora é tomada como certa no contexto dos EUA. Mais de 30% dos membros do 116º Congresso dos EUA são católicos, assim como cinco dos nove atuais juízes da Suprema Corte dos EUA. Assim, também, pelo menos oito dos candidatos para a nomeação presidencial democrata de 2020. Quando o Papa Francisco falou a uma sessão conjunta do Congresso em 2015, ele estava ladeado pelos líderes católicos de ambas as Câmaras, representando dois partidos políticos diferentes. Para além do âmbito da política eleitoral, os católicos também estiveram à frente de alguns dos mais formidáveis movimentos políticos e sociais do nosso tempo, desde as Olimpíadas Especiais até o United Farm Workers, passando pelos movimentos antiguerra e pelo desarmamento nuclear.
Auchincloss, que também escreveu matérias de capa para a Time sobre o teólogo protestante Paul Tillich, o rabino Louis Finkelstein e os Manuscritos do Mar Morto, descreveu mais tarde o seu artigo sobre Murray como “a matéria de capa mais implacavelmente intelectual que eu já fiz”.
A erudição de Murray, no entanto, não desqualificou a sua teologia em relação à importância pública para a vida da democracia nos EUA. Murray temia que o consenso político e social dos EUA estivesse desmoronando e que a democracia não seria capaz de sobreviver sem ele. Ele empregou a lei natural para articular uma filosofia pública capaz de manter a democracia unida em uma sociedade pluralista e democrática. A ideia ressoou tanto entre católicos quanto entre não católicos, influenciando o pensamento sobre a religião e a vida pública na academia teológica e para além dela.
A teologia de Murray também oferece insights sobre o nosso atual clima político [nos EUA]. Ele avisou que minar as normas democráticas em prol da conveniência política levaria a um colapso político que “condenaria a melhor habilidade política e dedicação”. Em Charlottesville, Virgínia, o comício “Unite the Right”, de 12 de agosto de 2017, ilustrou uma consequência assustadora de erosão das normas democráticas alimentadas pela odiosa supremacia branca: a crescente aceitação estabelecida da violência e a intimidação de grupos minoritários raciais e religiosos.
As contribuições de Murray ao discurso acadêmico e público sobre a religião e a vida pública nos lembram por que ele surgiu como um importante teólogo público católico da sua época, lido por pessoas, como escreveu Auchincloss, “de todos os tipos e condições”. E, mesmo assim, a importância de Murray ressalta a contestada natureza da categoria de teólogo público no nosso momento atual.
Quase seis décadas após a aparição de Murray na capa da Time, a teologia pública ainda é vista como limitada em termos de quem a faz e de onde ela é feita. A imagem popular do teólogo público católico ainda é muitas vezes a de um teólogo academicamente formado, branco, homem e ordenado, e que escreve sobre teologia a partir de uma posição de poder institucional. O poder das universidades em moldar as estruturas teológicas profissionais contribui para a produção de pesquisas teológicas que não envolvem nem a Igreja nem o mundo para além dos salões da academia.
É tentador para os teólogos de hoje que escrevem a partir de uma posição de privilégio dentro da academia se protegerem da violência associada ao racismo, à supremacia branca, à má conduta sexual e a outras ameaças sociais à nossa comunidade no interesse de manter uma distância crítica em nossa pesquisa e estudos. Mas a teologia pública hoje exige uma resposta às ameaças feitas aos membros mais vulneráveis da nossa sociedade.
A concepção clássica do Pe. David Tracy sobre os “públicos teológicos”, como articulado em seu livro “A Imaginação Analógica” (Ed. Unisinos, 2006), oferece um marco para examinar o status da teologia pública hoje. Ele identifica três públicos relacionados, mas distintos, para o teólogo: a sociedade, a academia e a Igreja. Esses públicos são mais do que apenas categorias sociológicas; eles são teológicos por natureza. Stephen Okey, professor associado de teologia na Saint Leo’s University e autor de “A Theology of Conversation: An Introduction to David Tracy”, enfatiza a inclusão por parte de Tracy de diversos âmbitos como fontes para a teologia pública:
“A teologia é uma disciplina do pensamento que responde a questões humanas fundamentais, e é essencial para aqueles que estão na sociedade saber como devemos viver, que tipo de sociedade devemos formar, o que entendemos por justiça, autonomia ou liberdade. A teologia responde a esse tipo de perguntas, e as pessoas que fazem parte da sociedade e que levam a teologia a sério têm o direito de propor as suas perguntas e respostas, e se engajar em discussões públicas sobre elas.”
Embora a religião na modernidade frequentemente tenha sido enquadrada como um assunto privado, o Pe. Tracy argumenta que o caráter universal de Deus necessita de atenção às preocupações teológicas em cada um dos públicos. Segundo o professor Okey, cada público é moldado por preocupações distintas: “A abordagem de Tracy aos públicos é entendê-los mais em termos do tipo de perguntas a que estão respondendo, o tipo de regras que eles têm para discussão e o que é considerado evidência para eles”.
Okey também destaca os limites do marco de Tracy: “Ele está realmente se concentrando nos compromissos públicos do teólogo e formula o seu modelo no fim dos anos 1970 e início dos 1980. Então, ele não estava pensando em midiatização, globalização, corporativização ao fazer isso. Não fica claro onde esses fenômenos se encaixam em relação aos seus públicos, ou se eles podem propor novos públicos que tenham mais ou menos significado para o teólogo”.
No entanto, o marco de Tracy oferece uma heurística útil para pensar sobre como o trabalho da teologia acadêmica, baseado em um público específico com suas próprias questões, regras e provas particulares, interage com âmbitos para além do seu próprio.
Avaliar o estado da teologia pública através do marco teológico do Pe. Tracy também ajuda a trazer à tona algumas questões problemáticas. Embora a teologia acadêmica tenha sido muitas vezes o catalisador central para a educação teológica, os críticos se preocupam com o recuo da teologia para a academia, onde sua perspectiva e imaginação são limitadas pelas estruturas de poder da universidade. Apesar do crescente interesse na educação teológica entre os interessados em posições no ministério leigo, no trabalho sem fins lucrativos e no serviço público, o ensino de nível de graduação e pós-graduação em teologia é calibrado para a pesquisa acadêmica.
Os teólogos que obtêm doutorados no campo são fortemente encorajados a procurar cargos nas universidades. Aqueles que têm cargos na universidade não são incentivados nem recompensados por publicar trabalhos teológicos que se dirijam a públicos não acadêmicos, mesmo que esses trabalhos frequentemente comuniquem com mais eficácia os avanços significativos na pesquisa teológica a leitores de dentro e de fora da academia. As revistas acadêmicas em que Murray publicava evitam temas, métodos e até mesmo estilos de escrita que ressoem com públicos mais amplos e com suas preocupações.
Além disso, mudanças sísmicas na paisagem dos currículos acadêmicos e do emprego forçaram a academia teológica a lidar com a sua própria relevância. Em vários casos, as iniciativas de reformulação curricular nas universidades católicas tentaram reduzir o número de requisitos de teologia para os estudantes. No ano passado, a Wheeling Jesuit University anunciou a eliminação de todo o seu Departamento de Teologia, optando por manter apenas programas de graduação com relevância prática (a diretoria da instituição e a Companhia de Jesus concordaram em acabar com a filiação jesuíta da universidade no fim do ano letivo de 2018-19).
Mas existem forças para além do mercado de trabalho e da reestruturação das universidades que estão desafiando o monopólio da academia sobre a teologia. Assim como Murray, os teólogos enfrentam hoje desafios monumentais para a sobrevivência da democracia norte-americana. As pessoas que estão muito além dos departamentos de teologia querem saber como a teologia fala aos desafios que enfrentamos como Igreja e sociedade. Os teólogos que escrevem no contexto de uma democracia em crise não têm o luxo de se opor à nossa tarefa pública. Há uma necessidade urgente de vozes teológicas claras e convincentes na vida pública.
A duradoura falta de diversidade da teologia pública, no entanto, torna difícil identificar e empoderar essas vozes. Esse déficit é exacerbado pelo modo como o “público” tem sido frequentemente lido como um conceito masculinizado que o separa do privado, designando assuntos públicos para homens e assuntos privados para mulheres. As nossas definições de “público” também mantiveram por muito tempo uma visão normativa da branquitude, vendo teólogos “contextuais” e reflexões teológicas como irrelevantes para preocupações comuns na academia, na Igreja e na sociedade. Essa concepção de público ainda encontra um caminho livre até grande parte do nosso pensamento sobre teologia pública, tornando difícil para muitos católicos conceber que os teólogos não masculinos e os de grupos marginalizados fazem o mesmo trabalho que John Courtney Murray.
“Eu acho que a presença de mulheres e de negros na esfera pública é algo com o qual a sociedade ainda está lidando”, diz Natalia Imperatori-Lee, professora associada de estudos religiosos do Manhattan College. Em 2015, a professora Imperatori-Lee foi comentarista para a CNN, a MSNBC e um canal de televisão da cidade de Nova York durante a visita do Papa Francisco aos EUA. “Frequentemente eu era a única mulher na sala e, certamente, a única pessoa não anglo-saxã. Temos ainda um caminho a percorrer para conseguir que corpos não brancos e não masculinos sejam vistos como especialistas legítimos em teologia.”
A mudança do rosto da Igreja Católica e da sociedade em geral requer o reconhecimento do significado dessas vozes teológicas para cada um dos distintos públicos do Pe. Tracy, reconhecimento que muitos atores sociais com poder – tanto indivíduos quanto instituições – ainda não estão prontos para conceder.
Mesmo assim, os teólogos estão respondendo a esses desafios aprendendo a falar, escrever e ensinar para múltiplos públicos. Para a geração emergente de teólogos acadêmicos de hoje, o engajamento com os públicos que estão além da academia é pouco menos do que compulsório. Seja em teses de doutorado ou em posts de blogs, palestras públicas ou tuítes, manifestações pela justiça racial ou a disputa por cargos públicos, a nova geração pratica a teologia com grande consciência dos múltiplos públicos e da necessidade de envolver questões de interesse público mais amplo.
A academia teológica continua se diversificando, embora lenta e desigualmente. As mulheres estão abrindo um novo espaço para fazer contribuições teológicas à vida pública, falando sobre temas que vão além daqueles tradicionalmente relegados às mulheres, como gênero, maternidade e beleza, embora continuem promovendo conversas sobre esses temas de maneira autêntica, honesta e diferenciada. Carmen Nanko-Fernandez, professora de teologia e ministério hispânicos no Catholic Theological Union em Chicago, enfatiza a diversidade das contribuições públicas feitas pelos teólogos negros, latinos e asiáticos que trabalham nos EUA: “Os teólogos desses grupos exercem seus papéis públicos não apenas como acadêmicos e professores, mas também como ativistas, como compositores de música sacra, embaixadores e diplomatas, comentaristas e colunistas da mídia popular, pastores e ministros nas fronteiras, [assim como] acompanhando comunidades vulneráveis”.
Acadêmicos que foram marginalizados na teologia acadêmica se aproveitaram de plataformas nacionais e internacionais significativas, preparando o caminho para transformações geracionais nas contribuições teológicas públicas.
De vez em quando, aparece uma lista na imprensa ou nas mídias sociais nomeando os teólogos públicos de influência dentro e fora da academia. Listas como essa levantam argumentos implícitos sobre quem se qualifica como um teólogo público, afirmando a autoridade sobre a categoria de acordo com quem está – e com quem não está – incluído na lista. Inevitavelmente, essas listas provocam discussão, debate e desacordo. As deliberações sobre os nomes específicos incluídos nessas listas ajudam a despertar a consciência da amplitude do engajamento público entre os teólogos no século XXI. Isso é especialmente importante para chamar a atenção dos teólogos públicos de grupos sub-representados.
No entanto, definir e debater repetidamente sobre a “elite” da teologia pública não nos ajuda a entender as atividades, as características ou as prioridades dos teólogos públicos hoje. Examinar esses traços pode nos ajudar a entender melhor o significado público da teologia no século XXI e o lugar dos teólogos em comunicar o seu significado.
Auchincloss ponderou sobre as qualificações de Murray para a designação de teólogo público: “Ele é particularmente bem preparado para esse papel – pelo intelecto, pelo temperamento e, igualmente importante, por uma vida que tem sido amplamente isolada dos problemas psicossociológicos dos católicos nos EUA”. Para além de suas conquistas na teologia acadêmica, insinua ele, Murray era um observador atento da vida católica, embora estando a uma certa distância dos seus problemas mais prementes.
Essa imagem do gênio teológico friamente separado das questões sociais urgentes do seu tempo – justiça racial, sexual, sexual e econômica, para citar apenas alguns – está em contraste gritante com as qualidades associadas ao trabalho da teologia pública hoje. Os teólogos públicos do nosso tempo frequentemente falam a partir de posições de experiência direta dos problemas sociais mais urgentes de hoje.
A intuição e a criatividade teológicas ainda são uma expectativa central, é claro; é significativo que o maior prêmio da Sociedade Teológica Católica dos EUA leve o nome de Murray. Mas as conquistas na teologia acadêmica não são suficientes para a teologia pública hoje. Um teólogo público deve conhecer o seu público. Como explica Jeremy Cruz, professor assistente de teologia e estudos religiosos na Saint John’s University, em Nova York, “eles conhecem o seu público, eles sabem ‘que horas são’ e estão conectados com os movimentos sociais”. Esse senso de tempo requer atenção à vida de comunidades específicas e de pessoas específicas. Para o teólogo público hoje, isso significa saber quando sair do jogo e quando participar do jogo.
A teologia pública hoje também requer um compromisso encarnado com a solidariedade. Embora a teologia pública não seja sinônimo de profecia, alguns dos mais importantes teólogos públicos dos nossos tempos são encontrados não apenas nos salões da academia. mas também falando em prol de movimentos de protesto e de populações marginalizadas. O teólogo público participa do caráter encarnacional da Igreja. Se o trabalho do teólogo público se baseia na fé da Igreja, seu trabalho deve guiá-lo para ser solidário com os públicos aos quais e para os quais ele escreve.
Embora Murray tenha demonstrado o poder da teologia para mudar o discurso público em larga escala, os teólogos públicos de hoje também podem ser encontrados levando as intuições do seu estudo para as vidas de comunidades locais particulares. Eles também podem ser encontrados na capa da Time, mas são mais propensos a serem encontrados trabalhando ao lado dos membros mais vulneráveis da sociedade, contribuindo com a sua profunda compreensão das Escrituras, da teologia, da história, da ética, da liturgia e do ministério nas vidas reais das comunidades.
Em 12 de agosto de 2017, a foto de Eric Martin apareceu na primeira página do The Washington Post. Naquela manhã, ele havia se afastado da sua pesquisa e dos seus escritos sobre Dorothy Day, Daniel Berrigan e Elizabeth Johnson para se posicionar entre outros teólogos, pastores e membros da comunidade para se opor à manifestação “Unite the Right” em Charlottesville, Virgínia. Organizada por autodeclarados supremacistas brancos em protesto contra a decisão democrática da cidade de remover os monumentos a generais confederados de seus parques públicos, a manifestação levou ao assassinato da manifestante antirracismo Heather Heyer e a inúmeros outros feridos. Apesar de uma paróquia católica ficar ao lado do local da manifestação, Martin era um dos poucos católicos que participaram da coalizão multirreligiosa, que deu as mãos e rezou pela paz a poucos metros de nacionalistas brancos armados naquele dia.
A manifestação “Unite the Right” não foi apenas mais uma performance ritual da supremacia branca. Os organizadores prometeram trazer o caos a Charlottesville nos meses que antecederam o evento. Autoridades eleitas locais, pastores e representantes de universidades alertaram os membros da comunidade para ficarem em casa enquanto a tempestade de violência e ódio chovia sobre a cidade, fechando as escotilhas enquanto rezavam pelo mínimo de feridos e de perdas de vidas. Mas evitar a briga não era uma opção para a comunidade, cujos bairros foram engolidos pela raiva odiosa naquele dia.
Os participantes da manifestação já haviam se envolvido em atos violentos contra os membros da comunidade de Charlottesville na Universidade da Virgínia na noite anterior. E eles haviam estado em Charlottesville em várias outras ocasiões durante os meses de primavera e verão, empunhando tochas e gritando “sangue e solo!” no meio da noite em um ato de intimidação que invocava a estética do linchamento. A manifestação era mais uma campanha em uma batalha para reivindicar os espaços públicos de Charlottesville para a sua causa. Como profetizou Jalane Schmidt, católica e professora associada de estudos religiosos da Universidade da Virgínia, na véspera da manifestação: “Com licença, América: a sua casa está em chamas”.
Incapazes de deixar os vulneráveis de Charlottesville se escondendo em suas casas e dormitórios, um pequeno grupo de lideranças religiosas da Congregate C’ville – lideradas pelo Rev. Seth Wispelwey, pela Rev. Brittany Caine-Conley e pelo Rev. Osagyefo Sekou – envolveram-se em atos de resistência não violenta orante, levantando-se para proteger seus vizinhos vulneráveis. Nas fotografias que apareceram nas páginas de muitas publicações importantes, Martin estava ao lado de líderes das comunidades religiosas muçulmanas, judaicas e protestantes de Charlottesville. Embora muitos dos seus colegas manifestantes estavam vestidos com suas vestes clericais, Martin usava apenas uma camiseta, uma bermuda e um tecido vermelho e amarelo fino que evocava a imagem de uma estola batismal.
Ao encarnar seus ideais teológicos em confronto com violentos supremacistas brancos, Martin tornou-se um dos teólogos no centro do conflito político definidor da nossa geração. Mas ele é cético em se chamar de teólogo público: “Eu certamente não me identifico como um; eu só tenho 20 seguidores no Twitter!”. Ele faz uma distinção entre o trabalho dos teólogos com grandes audiências com os quais ele marchou em Charlottesville, como Cornel West, e o seu próprio trabalho. “Eu sou um teólogo que apareceu em público”, diz ele. No entanto, ao aparecer nas ruas de Charlottesville, Martin demonstrou o significado da teologia engajada com múltiplos públicos na nossa vida em comum no século XXI. A fama e o reconhecimento não são um requisito para uma teologia relevante para a vida pública.
A nossa sociedade enfrenta desafios monumentais à ordem democrática que ameaçam a dignidade e a santidade da vida humana. Esses desafios, prescientemente previstos por John Courtney Murray, convocam vozes teológicas públicas que possam falar sobre questões concretas da vida da democracia na academia, na Igreja e na sociedade em geral. Não temos o luxo de um distanciamento frio quando, como observou a professora Schmidt, a nossa casa está em chamas.
Independentemente de como se define o papel do teólogo público, não há nenhuma questão sobre a necessidade premente deles – nas ruas, na sala de aula, em jornais populares e revistas acadêmicas em que não teólogos leem seus pensamentos criativos. Responder aos nossos desafios mais prementes exige que a teologia se engaje com seus públicos de maneiras novas, encarnadas, criativas e fiéis.
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Qual é o papel de um teólogo público hoje? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU