08 Março 2022
Kirill descreve um mundo marcado pelo consumo excessivo e aparente liberdade: Na Ucrânia está em curso uma guerra justa - do ponto de vista moral - que serve para proteger a região de Donbass que há anos vem sendo atacada pelas forças do mal, por uma espécie de Anticristo que avança e obscurece os valores cristãos tradicionais. Nos bastidores de tudo isso, move-se, poderoso, o lobby gay. O Patriarca de Moscou, Kirill, manifestou hoje (domingo, dia 06-03-2022) - em um discurso público que apareceu no site oficial - essa visão apocalíptica. Por um lado, as forças do mal e, do outro, as forças do bem. Ele observou como no Donbass as pessoas (de maioria de língua russa) rejeitam "os chamados valores daqueles que reivindicam o poder mundial".
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 07-03-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Kirill descreve um mundo marcado pelo consumo excessivo e pela aparente liberdade. “O teste é muito simples e ao mesmo tempo aterrorizante: trata-se de um desfile do orgulho gay. O pedido para organizar uma parada do orgulho gay é uma prova de fidelidade àquele mundo tão poderoso; e sabemos que se as pessoas ou os países recusam esses pedidos, não fazem parte daquele mundo, tornam-se alheios a ele”.
O Patriarca de Moscou reforça então a dose e afirma que "para entrar no clube daqueles países é preciso fazer um desfile do orgulho gay (...) Trata-se, pois, de impor com a força o pecado que é condenado pela lei de Deus, o que significa impor com a força a negação de Deus e de sua verdade às pessoas”.
A visão maniqueísta do Patriarcado de Moscou está contida em um programa bem específico destinado a salvar um povo da desorientação moral. “Trata-se da salvação humana, onde a humanidade se encontrará à direita ou à esquerda de Deus Salvador, que vem ao mundo como juiz e criador. Muitos hoje, por fraqueza, insensatez, ignorância, e mais frequentemente porque não querem resistir, vão para o lado esquerdo. E tudo o que tem a ver com a justificação do pecado condenado na Bíblia é a prova da nossa fidelidade ao Senhor, da nossa capacidade de confessar a fé no nosso Salvador”.
Para o patriarca tradicionalmente ligado a Putin, trata-se de uma luta de outro mundo. “Se vemos violações da lei moral é claro que nunca toleraremos aqueles que a destroem, eliminando a linha entre santidade e pecado, e especialmente aqueles que defendem o pecado como modelo ou modelo de comportamento humano”. Por fim, no discurso, um pequeno trecho é reservado para a paz: "Ao mesmo tempo, devemos rezar para que a paz chegue o mais rápido possível, para que o sangue de nossos irmãos pare de ser derramado, para que o Senhor dê sua graça à terra de Donbass, que há oito anos carrega a dolorosa marca do pecado e do ódio humano”.
Por ironia da sorte, as palavras de Kirill chegam no mesmo dia em que o Papa no Angelus - medindo todo o seu senso de impotência - lançou um apelo para fazer todo o possível e restaurar a paz entre ucranianos e russos, provavelmente agora ciente de que os espaços de manobra do Vaticano como facilitador entre as partes praticamente se reduziram a nada, esmagados pelos acontecimentos que se entrelaçaram rapidamente nos últimos dias. Afinal, com Israel em campo, a China em paralelo e, além disso, a relação incômoda com o patriarca russo Kirill, notoriamente ligado ao Kremlin que continua a repetir que é preciso apoiar os soldados russos empenhados em defender o Ocidente das degenerações malignas, só resta agora perguntar que tipo de "facilitação" poderia exercer Francisco.
Assim, enquanto o Papa gritava no Angelus: "Basta, a guerra é uma loucura", o Patriarca russo Kirill acabava de concluir seu discurso apocalíptico.
No Angelus, o Papa também anunciou que já havia enviado dois cardeais à Ucrânia, o esmoleiro polonês Konrad Kraiewski e o jesuíta canadense Czerny. Até o momento, no entanto, parece que nenhum deles já tenha partido, como aponta o site para-Vaticano Il Sismografo.
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Para o Patriarca Kirill, a guerra é moralmente justa e útil para parar o lobby gay ocidental - Instituto Humanitas Unisinos - IHU