26 Novembro 2021
Uma prova do interesse que a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe está despertando é a grande presença da mídia, não apenas eclesial, nas coletivas de imprensa que todos os dias é dado a conhecer o que está sendo vivenciado nestes dias. Nesta quinta-feira, os convidados foram o Cardeal Mario Grech, Emilce Cuda, a Irmã Birgit Weiler e o Padre Juan Luis Negrón.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
A América Latina é um continente onde há uma concentração e evasão do que Emilce Cuda chamou de "enormes vantagens comparativas", o que, segundo a Chefe do Escritório da Pontifícia Comissão para a América Latina, "impossibilita que os Estados distribuam riquezas" e provoca uma falta do que é decisivo para a vida. Diante disso, ela destacou como uma graça "a capacidade organizacional de nossos povos, uma consciência baseada na fé, a partir da periferia".
Emilce Cuda (Foto: Luis Miguel Modino)
Segundo a teóloga argentina, "hoje o pensamento deste continente está expresso no pontificado do Papa Francisco". Ela afirmou que esta Assembleia Eclesial não pode ignorar as denúncias do Papa sobre tudo que ameaça a vida no planeta, denunciadas em Laudato Si' e Fratelli tutti, insistindo no trabalho como uma questão importante a ser considerada.
Birgit Weiler começou recordando o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra a Mulher, que nos chama a defender a vida em suas diferentes expressões, refletindo sobre a questão do abuso de poder, que ela vê como a raiz do clericalismo, insistindo sobre a necessidade de novas formas de relacionamento. Em relação ao abuso sexual, ela insistiu que "é uma realidade que nos fere profundamente, nos ultraja, nos chama à conversão", indo às raízes deste mal, com justiça para as vítimas, acolhendo suas vozes, quebrando silêncios e trabalhando em conjunto com elas para evitar este tipo de violência.
Para Juan Luis Negrón, a Assembleia é "uma experiência onde sinto que o Espírito Santo está levando este evento", dizendo que ele ficou impressionado com a confiança dos leigos, que falam "com um desejo sincero, honesto e profundo de uma Igreja onde haja corresponsabilidade". Segundo o padre porto-riquenho, "eles sentem que vão ser ouvidos", razão pela qual ele vê o desafio de dar continuidade a este espaço. Neste sentido, ele destacou a importância de preparar os seminaristas em seminários para viver uma experiência de corresponsabilidade, em uma experiência sinodal.
Juan Luis Negrón (Foto: Luis Miguel Modino)
O Cardeal Grech disse que se sentia em casa, entre amigos, com os quais compartilhou o Sínodo para a Amazônia. O secretário do Sínodo dos Bispos, disse ele, apresentou a Igreja como um prisma, a mesma realidade, mas com rostos diferentes, insistindo na importância de uma reflexão sobre a cultura sinodal, mas ainda mais uma teologia do Povo de Deus, dizendo que se sentia parte do Povo de Deus da América Latina e do Caribe, onde havia percebido o sonho de uma Igreja mais sinodal, mas também de uma práxis mais sinodal.
Segundo o cardeal, "no Povo de Deus todos devemos aprender, e cada um começa sua caminhada em um ponto diferente". De acordo com ele, a decisão do Papa sobre o Sínodo da Sinodalidade é profética. Ele insistiu que o Sínodo é para buscar a resposta que precisamos, enfatizando a importância de escuta, "também àqueles que estão fora". Ele definiu o Sínodo como uma experiência familiar, onde nem todos sentem o mesmo, há necessidade de paciência, caridade e amor e, acima de tudo, de acompanhar e acompanhar com esperança. Da mesma forma, ele definiu o Sínodo e o Papa Francisco como um remédio para a Igreja.
Sobre a realidade da Amazônia, Emilce Cuda enfatizou que o povo coloca seus corpos em defesa de sua irmã Mãe Terra, o que mostra a ausência do Estado. Para ela, defender a casa comum não é uma opção econômica ou política, é uma opção de fé, daqueles que levam a sério o chamado para cuidar da Criação.
A Irmã Weiler apelou para a superação do clericalismo, uma mentalidade da qual todos fazemos parte, mas que podemos mudar, a fim de construir uma cultura sinodal, algo para o qual existe uma boa disposição entre os participantes da Assembleia. Na mesma linha, Juan Luis Negrón vê a humildade como o caminho para superá-la, porque "não se pode estar numa experiência sinodal se não for com uma humildade autêntica, sincera, honesta, consigo mesmo, com o povo e com Deus". Ele também pediu aos padres que se deixassem formar, que entendessem que Deus os está conduzindo através de diferentes experiências ao longo do caminho com seu povo, a uma experiência de maior dedicação. Por esta razão, ele insistiu que "o padre tem que entender que ele não está lá para trabalhar sozinho".
Emilce Cuda falou sobre o conceito de pastoral teológica forjada pelo Papa Francisco, do qual ela lembrou sua frase que diz que "a realidade é superior à ideia", uma realidade que provoca uma reflexão social baseada na moral social. Segundo Cuda, "o Papa Francisco nos envia para traduzir a pastoral em ações concretas que tocam os corpos", visto que "a busca da justiça social é constitutiva da pregação evangélica", porque o cristianismo é compromisso, é um Deus que se encarna num corpo. A teóloga abordou o tema da economia popular em que "os descartados se organizam para viver até o dia seguinte, eles não reciclam lixo, eles reciclam a vida".
De acordo com Birgit Weiler, a Assembleia mostrou que "não queremos mais documentos, mas sim colocá-los em prática". É um chamado para renovar nossa Igreja, dizendo que quer "uma Igreja muito mais comprometida em trabalhar em aliança com muitos movimentos, não apenas eclesiais, aos cuidados da casa comum e dos excluídos". Neste sentido, nas palavras do Padre Juan Luis, o testemunho de coerência é importante, um processo no qual são feitas escolhas concretas, já que Deus se encarna e vive o processo com seu povo.
Birgit Weiler (Foto: Luis Miguel Modino)
Na Igreja sinodal, escutar é uma forma de pensar e uma prática, segundo o Cardeal Grech, algo que deve ser vivido em todos os níveis eclesiais, todas as pessoas podem participar, comunicando-se com qualquer comunidade. Por esta razão, ele insistiu que "esta assembleia pode ajudar a sustentar o processo sinodal, com todo o povo de Deus, juntos", e junto com isso, a tomar decisões somente depois de ouvir o Povo de Deus.
Questionado sobre a questão do abuso, o Cardeal Grech insistiu que não nos acompanhamos, não temos um ponto de referência comunitário. Por esta razão, ele afirmou que "o Sínodo é para a comunhão, para acompanhar uns aos outros, para cuidar uns dos outros". Segundo o cardeal, o abuso é causado pela ocultação, e que na comunidade é mais fácil enfrentar o que não está certo e encontrar os caminhos certos. Ele convidou o Sínodo a ajudar a refletir sobre o conceito de autoridade, sobre o conceito de responsabilidade, transparência em termos de abuso e exercício da autoridade. Para o Cardeal maltês, há aqueles que, em vez de servir, dominam, por isso devemos ajudar a Igreja a se tornar mais Igreja.
Para a irmã Birgit Weiler, é necessário valorizar os passos que já estão sendo dados, em muitos centros educacionais, em muitas dioceses, passos que estão sendo dados para formar e acolher as pessoas com transparência e justiça, o que ela considera como passos que dão esperança.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Cardeal Grech: “O Sínodo é para a comunhão, para acompanhar uns aos outros, para cuidar uns dos outros” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU