04 Novembro 2021
O Papa Francisco, no dia 03-11-2021, na Sala Paulo VI, em seu encontro de número 14 do ciclo dedicado à carta de São Paulo aos Gálatas, sem explicitar diretamente isso, com clareza gradual discorreu e explicou muito bem os conceitos e os desafios de grande importância para o atual caminho sinodal rumo à Assembleia do Sínodo de 2023. Trata-se de algumas reflexões bastante esclarecedoras que não se encontram nos longos documentos oficiais, muitas vezes confusos e incompreensíveis.
A reportagem é publicada por Il sismografo, 03-11-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
As diretrizes do Papa Francisco para o caminho sinodal em curso e para melhor compreender a sinodalidade:
1) Caminhar todos juntos dura a vida inteira
2) Caminhar sob a orientação do Espírito
3) Nenhum pastor está acima da comunidade
4) Abrir espaço para a graça de Deus
5) Em primeiro lugar, refletir sobre as nossas fraquezas
6) O amor, regra suprema
Aqui estão alguns trechos fundamentais do texto:
1) Caminhar todos juntos dura a vida inteira
Na passagem da Epístola aos Gálatas que acabamos de ouvir, São Paulo exorta os cristãos a caminhar segundo o Espírito Santo (cf. 5,16,25). Existe um estilo: caminhar segundo o Espírito Santo. De fato, crer em Jesus significa segui-lo, ir atrás dele no seu caminho, como fizeram os primeiros discípulos. E, ao mesmo tempo, significa evitar o caminho contrário, o do egoísmo, da busca dos próprios interesses, que o Apóstolo chama de "concupiscência da carne" (v. 16). O Espírito é o guia deste caminho na via de Cristo, um caminho maravilhoso, mas também exigente, que começa com o Batismo e dura toda a vida. Pensemos numa longa caminhada nas montanhas: é fascinante, o destino atrai-nos, mas exige muito esforço e tenacidade.
2) Caminhar sob a direção do Espírito
Esta imagem pode ser útil para entrar nos méritos das palavras do Apóstolo: "andar em Espírito", "deixar-se guiar" por Ele. São expressões que indicam uma ação, um movimento, um dinamismo que impede parar diante das primeiras dificuldades, mas leva a confiar na "força que vem de cima" (Pastor de Hermas, 43, 21). Ao seguir este caminho, o cristão adquire uma visão positiva da vida. Isso não significa que o mal presente no mundo tenha desaparecido, ou que os impulsos negativos do egoísmo e do orgulho tenham desaparecido; ao contrário, significa acreditar que Deus é sempre mais forte do que as nossas resistências e maior do que os nossos pecados. E isso é importante!
3) Nenhum pastor está acima da comunidade
Ao exortar os gálatas a seguir esse caminho, o apóstolo se coloca no plano deles. Abandona o verbo no imperativo - "andai" (v. 16) - e usa o "nós" no indicativo: "andemos em Espírito" (v. 25). Como se dissesse: coloquemo-nos na mesma linha e deixemo-nos guiar pelo Espírito Santo. É uma exortação, um modo exortativo. Esta exortação que São Paulo considera necessária também para si mesmo. Embora sabendo que Cristo vive nele (cf. 2,20), está também convencido de que ainda não alcançou a sua meta, o cume do monte (cf. Fl 3,12). O Apóstolo não se coloca acima da sua comunidade, não diz: “Eu sou o chefe, vocês são os outros; eu cheguei ao topo da montanha e vocês estão a caminho "- não diz isso -, mas coloca-se no meio do caminho de todos, para dar o exemplo concreto da necessidade de obedecer a Deus, correspondendo cada vez mais e melhor à orientação do Espírito. E como é bonito quando encontramos pastores que caminham com seu povo e que não se separam dele. Isso é muito bonito; acalanta a alma.
4) Abrir espaço para a graça de Deus
Este “andar em Espírito” não é apenas uma ação individual: diz respeito também à comunidade como um todo. De fato, construir a comunidade seguindo a via indicada pelo Apóstolo é entusiasmante, mas exigente. As "concupiscências da carne", "as tentações" – podemos dizer - que todos nós temos, ou seja, as invejas, os preconceitos, as hipocrisias, os rancores continuam a ser sentidos, e o recurso a uma rigidez presa a princípios pode ser uma fácil tentação, mas ao fazer isso, se sairia da trilha da liberdade e, em vez de subir ao topo, se voltaria para baixo. Percorrer a via do Espírito exige em primeiro lugar abrir espaço à graça e à caridade. Abrir espaço para a graça de Deus, não ter medo. Paulo, depois de ter feito ouvir a sua voz com severidade, convida os Gálatas a assumirem cada um as dificuldades do outro e, se alguém fosse cometer erros, a usar a mansidão (cf. 5,22). Ouçamos as suas palavras: “Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, encaminhai o tal com espírito de mansidão; olhando por ti mesmo, para que não sejas também tentado. Levai as cargas uns dos outros."(6,1-2). Uma atitude muito diferente da tagarelice; não, isso não é de acordo com o Espírito. Segundo o Espírito, é ter essa doçura com o irmão em corrigi-lo e vigiar sobre nós mesmos com humildade para não cairmos nesses pecados.
5) Em primeiro lugar, refletir sobre as nossas fraquezas
Quando somos tentados a julgar mal os outros, como muitas vezes acontece, devemos primeiro refletir sobre as nossas fragilidades. Como é fácil criticar os outros! Mas há pessoas que parecem ter diploma em tagarelice. Todos os dias criticam os outros. Mas olhe para você! É bom nos perguntarmos o que nos leva a corrigir um irmão ou irmã e se não somos, de alguma forma, corresponsáveis pelo seu erro. O Espírito Santo, além de nos dar o dom da mansidão, nos convida à solidariedade, a carregar os fardos dos outros. Quantos fardos estão presentes na vida de uma pessoa: doença, falta de trabalho, solidão, dor ...! E quantas outras provas exigem a proximidade e o amor dos irmãos! As palavras de Santo Agostinho também podem nos ajudar quando comenta sobre esse mesmo trecho: “Portanto, irmãos, se alguém for flagrado em alguma falta, [...] corrijam-no assim, com mansidão. E se você levantar a voz, ame internamente. Tanto se você encorajar, se mostrar paternal, censurar, ser severo, ame" (Discursos 163 / B 3).
6) O amor, regra suprema
Amar sempre. A regra suprema da correção fraterna é o amor: querer o bem de nossos irmãos e das nossas irmãs. Trata-se de tolerar os problemas dos outros, os defeitos dos outros em silêncio na oração, e então encontrar o caminho certo para ajudá-lo a se corrigir. E isso não é fácil. O caminho mais fácil é o da tagarelice. Descascar o outro como se eu fosse perfeito. E isso não deve ser feito. Mansidão. Paciência. Oração. Proximidade. Caminhemos com alegria e com paciência por este caminho, deixando-nos guiar pelo Espírito Santo.
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Diante da confusão criada sobre a sinodalidade, o caminho sinodal e o Sínodo de 2023, a catequese de Francisco esclarece questões importantes sem usar palavras incompreensíveis e acrobacias conceituais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU