29 Setembro 2021
“Os católicos não podem continuar a ser espectadores apáticos, lucrando às custas das comunidades que sofrem com os danos ambientais e as mudanças climáticas. Os defensores dos acionistas devem se comprometer com a proteção dos direitos das comunidades nos locais onde as empresas operam, e não apenas aceitar a palavra da administração de que está tudo bem. Quem desinvestir deve ir mais longe, e investir ativamente em projetos e empresas engajadas em soluções sustentáveis e equitativas para as mudanças climáticas. O Papa Francisco clama claramente por ação”, manifesta o National Catholic Reporter, em editorial, 28-09-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Ao tempo que se encerrar o Tempo da Criação deste ano e se aproxima uma essencial conferência da ONU sobre o clima, é digno de nota que aí está um crescente movimento pelos grupos católicos e outros para publicizar o desinvestimento em combustíveis fósseis. A Universidade de Harvard recentemente entrou na lista, a qual também inclui mais que 250 grupos católicos, entre eles o National Catholic Reporter.
Essas ações estão em linha com a clara diretriz do Vaticano, começando com a encíclica Laudato Si', do Papa Francisco, seguido do Sínodo dos Bispos para Amazônia em outubro de 2019 e, em junho de 2020, pelas propostas para implementar Laudato Si' com recomendações sobre investimentos.
Em outubro de 2020, Francisco repetiu seu pedido por “uma gradual substituição, mas sem demora, de combustíveis fósseis por fontes de energia limpas”. Ele também pediu a investidores para “se comprometerem para o cuidado integral de nossa casa comum, excluindo os investimentos dessas empresas que não encontram os parâmetros da ecologia integral enquanto recompensam aqueles que trabalham concretamente durante sua fase transicional”.
Isso contrasta com a posição da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos, que atualizou suas diretrizes de investimento pela última vez em 2003. Uma revisão desse documento, que descreve os princípios financeiros relacionados aos direitos humanos, racismo, justiça econômica e meio ambiente, está em andamento.
Especialistas financeiros católicos dizem que as diretrizes da conferência episcopal desatualizadas permitiram que os investidores evitassem as difíceis questões levantadas pelo investimento em indústrias relacionadas aos combustíveis fósseis – o principal motor da mudança climática – incluindo o desinvestimento.
Um crescente movimento católico considera o desinvestimento total a única decisão consistente com os princípios católicos e as declarações de Francisco. Outros acreditam que podem realizar mais por meio do engajamento dos acionistas – tentando mudar o comportamento corporativo por dentro – e “investimento de impacto”, visando ativamente soluções climáticas em vez de simplesmente filtrar os combustíveis fósseis.
Embora mais anúncios de desinvestimento sejam esperados em outubro, de acordo com o Movimento Laudato Si', o total até agora é apenas uma pequena fração das instituições católicas em todo o mundo. Portanto, o impacto é limitado.
E das instituições que mantiveram investimentos relacionados aos combustíveis fósseis, ativistas católicos dizem que relativamente poucos realmente se envolvem como acionistas para tentar mudar o comportamento corporativo.
A maioria cai no que John O'Shaughnessy, diretor financeiro das Irmãs Franciscanas de Maria e fundador da Catholic Impact Investing Collaborative, chama de “meio apático” – nem desinvestindo, ou reinvestindo positivamente, nem usando seu poder de acionistas para desafiar as políticas das empresas.
Em seu documento de 2003, os bispos dos EUA ofereceram diretrizes gerais sobre o desinvestimento, recomendando prudência e encorajando a participação ativa dos acionistas, incluindo a detenção das ações mínimas necessárias para propor e apoiar as resoluções dos acionistas. Eles deixaram claro que isso requer ação, não uma participação acionária passiva. Eles também sugeriram que a própria conferência dos bispos poderia fazer melhor a este respeito.
Citando sua carta pastoral de 1986 “Justiça Econômica para Todos”, eles também disseram que o retorno sobre o investimento não é “uma justificativa adequada para as decisões dos acionistas”, acrescentando: “A questão de como relacionar os direitos e responsabilidades dos acionistas aos de outras pessoas e comunidades afetadas por decisões corporativas é complexo e insuficientemente compreendido. Portanto, recomendamos pesquisas sérias e de longo prazo e experimentação nesta área”.
Isso veio à tona durante o Sínodo para a Amazônia, quando a observadora sinodal Patricia Gualinga, líder de uma comunidade indígena quéchua no Equador, afetada pela exploração de petróleo, perguntou como uma Igreja que afirma proteger a vida poderia investir em combustíveis fósseis.
Os católicos não podem continuar a ser espectadores apáticos, lucrando às custas das comunidades que sofrem com os danos ambientais e as mudanças climáticas.
Os defensores dos acionistas devem se comprometer com a proteção dos direitos das comunidades nos locais onde as empresas operam, e não apenas aceitar a palavra da administração de que está tudo bem. Quem desinvestir deve ir mais longe, e investir ativamente em projetos e empresas engajadas em soluções sustentáveis e equitativas para as mudanças climáticas.
Francisco clama claramente por ação, dizendo que os relatórios científicos sobre as mudanças climáticas são inquestionáveis e ecoando os cientistas que dizem que esta década é crítica para a mudança de uma economia baseada no consumo movida a combustíveis fósseis para um sistema mais justo que atenda às necessidades de todos.
Já passou da hora de os bispos dos EUA atualizarem suas diretrizes e tomarem uma posição firme, com Francisco, ao se manifestar e alinhar seus investimentos com os princípios do Vaticano. Isso estabelecerá um exemplo claro para outras instituições católicas e investidores individuais.
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EUA. Bispos precisam deixar a “apatia” sobre investimento em combustível fóssil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU